Os rostos das crianças feridas estampam os crimes de Israel em Gaza | Imagem de vídeo

Reagindo à retomada do bombardeio por Israel, o porta-voz da agência da ONU para a infância (Unicef), James Elder, indagou nesta sexta-feira (1º): “A humanidade desistiu das crianças de Gaza?”.

Nas sete semanas de genocídio que precederam os sete dias de trégua, as tropas coloniais israelenses mataram mais de 6 mil crianças e mais de 15 mil pessoas no total.

Ele apontou que “a inação” diante de um massacre dessa dimensão, “em sua essência, é uma aprovação do assassinato de crianças”.

“É imprudente pensar que mais ataques contra o povo de Gaza levarão a qualquer outra coisa que não seja carnificina”, advertiu Elder.

“Um cessar-fogo duradouro precisa ser implementado”, ele acrescentou aos repórteres, por meio de um link de vídeo de Gaza.

“Hoje, Gaza é novamente o lugar mais perigoso para ser criança. E o inverno está à porta. Todas as partes em conflito devem fazer todo o possível para proteger a vida e o bem-estar de todas as crianças – não importa onde estejam”, disse por sua vez Catherine Russell, diretora executiva do Unicef.

O diretor-geral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Robert Mardini, alertou que a retomada dos bombardeios leva as pessoas em Gaza de volta a uma “situação de pesadelo” e que os esforços de ajuda humanitária serão “retardados ou interrompidos”.

CATASTRÓFICA

“A retomada das hostilidades em Gaza é catastrófica”, disse o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, que pediu a todas as partes com influência “que redobrem os esforços, imediatamente, para garantir um cessar-fogo – por razões humanitárias e de direitos humanos”.

“A retomada das hostilidades apenas mostra o quão importante é ter um verdadeiro cessar-fogo humanitário”, afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres – aquele cuja renúncia foi exigida pelo governo de Netanyahu, após sua indiscrição sobre o 7 de outubro ter sido precedido por “56 anos de ocupação sufocante”.

“A retomada do bombardeio israelense na Faixa de Gaza marca o fim de uma semana de trégua, quando 1,7 milhão de habitantes, num total de 2 milhões, foram deslocados pela guerra e mais de metade das casas foram danificadas ou destruídas”, registrou Guterres, manifestando sua esperança de que seja ainda possível renovar a pausa humanitária.

“A ruptura da trégua é uma péssima notícia, lamentável, porque não traz solução e complica a resolução de todas as questões que surgem”, disse a ministra francesa das Relações Exteriores, Catherine Colonna. Ela classificou a retomada da trégua como “essencial”.

REPERCUSSÃO NA COP28 EM DUBAI

O reinício da carnificina em Gaza pelas tropas coloniais israelenses também repercutiu na cúpula do clima de Dubai, a COP28.

“Enquanto discutimos a crise climática, não podemos ignorar a crise humanitária que se desenrola nos Territórios Palestinos ao nosso lado”, disse o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, aos líderes durante seu discurso na COP28.

“A atual situação em Gaza constitui um crime de guerra e um crime contra a humanidade; os responsáveis devem ser chamados a termo pelo direito internacional”, ele acrescentou.

“A África do Sul está chocada com a cruel tragédia que está em curso em Gaza. A guerra contra o povo inocente da Palestina é um crime de guerra que tem de acabar agora”, disse em seu pronunciamento o presidente Cyril Ramaphosa.

O rei Abdullah da Jordânia disse que é impossível separar as mudanças climáticas da guerra em Gaza. “As ameaças climáticas ampliam a devastação da guerra”, disse o rei. “Vamos ser inclusivos com os palestinos mais vulneráveis severamente impactados pela guerra.”

QUE A PALESTINA SEJA LIVRE

“Se a Palestina puder ser livre hoje, amanhã a humanidade escapará viva dos estertores da crise climática”, disse na cúpula do clima o presidente colombiano, Gustavo Petro.

Denúncias dos crimes de guerra perpetrados por Israel que foram acolhidas por manifestantes na COP28 com gritos de “cessar-fogo já” e “Palestina livre”. Em outra parte do recinto da cúpula, uma exibição de sapatos representava os milhares de mortos em Gaza e lembrava as exposições de sapados de crianças nos museus sobre o morticínio judaico na Segunda Guerra.

O rei do Bahrein, Hamad Bin Isa Al Khalifa, e o presidente do Iraque, Abdul Latif Rashid, pediram o fim da guerra. A delegação iraniana deixou a cúpula em protesto contra a presença de Israel.

A presença do presidente israelense, Isaac Herzog, na cúpula do clima causou comentários sarcásticos sobre o que a Al Jazeera chamou de “dissonância” causada pela mudança repentina dos representantes de Israel “das ameaças genocidas para o jargão ecológico”, que considerou “delirante para o público global”.

“Alguém pode levar a sério, por exemplo, quaisquer recomendações sobre energia limpa e sustentável do ministro da Energia de Israel, Israel Katz, que no início da guerra declarou: ‘Ajuda humanitária a Gaza? Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhuma torneira de água será aberta e nenhum caminhão de combustível entrará até que os sequestrados israelenses sejam devolvidos para casa’? Ou alguém com algum respeito próprio pode aceitar o conselho ecológico do ministro da Agricultura de Israel, Avi Ditcher, que declarou que Israel está ‘lançando a Nakba 2023’ em Gaza?”

A publicação observou que o governo israelense não terá como escapar das consequências diplomáticas, econômicas e potencialmente legais de longo prazo resultantes do genocídio em curso em Gaza. Exemplo disso, a Jordânia se retirou de um acordo de energia e água com Israel, que foi costurado na COP27, devido ao que o ministro das Relações Exteriores jordaniano chamou de “barbárie de Israel em Gaza”.

ATUALIZAÇÃO DOS NÚMEROS DA CHACINA

Em tempo: a carnificina na sexta-feira ultrapassou a marca de 180 mortos e quase 600 feridos. Já são três os jornalistas assassinados pelas bombas de Israel em apenas um dia: Adham Hassouna, Abdalla Darwish e Montaser Mustafá al Sawaf. Nos ataques, também foram mortos familiares.

A força aérea israelense vem lançando panfletos sobre as aldeias do sul de Gaza, ameaçando quem ficar de ser morto pelas bombas sobre a nova e ampliada região de caça aos civis palestinos. Antes, Israel forçou 80% da população a se abrigar no sul, sob a mira de bombas, mísseis e tanques, dizendo que lá seria uma “zona segura”.

Chantagem denunciada pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF): “Os civis estão recebendo ordens para se deslocarem, mas nenhum lugar em Gaza está seguro devido aos bombardeios indiscriminados”.

Fonte: Papiro