Entrevero entre o presidente Zelensky e general Zaluzhny, revelam desentendimento na alta cúpula de Kiev | Foto: Reprodução

O tablóide sensacionalista inglês The Sun, do biliardário Murdoch, voltou a emprestar suas páginas ao chefe do regime de Kiev, ‘Volodymir’ Zelensky, na segunda-feira (21), para um novo round de sua peleja com seu próprio comandante militar, o general Valery Zaluzhny, explicitada há um mês pela avantajada entrevista que foi concedida ao militar ucraniano pelo The Economist, o panfleto dos Rothchilds, em que este admitiu que a “guerra com a Rússia” se encontrava em “um impasse” e que Moscou poderia prevalecer por sua maior população e maiores recursos.

Mas talvez nada haja sido tão acintoso como a trajetória de Zelensky nas páginas da revista Time: de “Personagem do Ano” em 2022, comparado a “Churchill” e herói de estimação dos imperialistas, para a caracterização dele como “delirante” em uma extensa matéria de Shimon Shuster um ano depois sobre a exaustão da guerra na Ucrânia.

Uma desastrosa contraofensiva de verão, que resultou em horríveis baixas ucranianas, ao mesmo tempo em que recuperou quantidades insignificantes de território, fez com que os conselheiros de Zelensky reconsiderassem se os objetivos dele de retomar as “fronteiras de 1991” são realistas, registra o artigo. A crença de Zelensky na vitória final sobre a Rússia apenas “se consolidou numa forma que preocupa alguns dos seus conselheiros”, aponta o autor, que descreve a fé de Zelensky como “imóvel, beirando o messiânico”.

“Ninguém acredita na nossa vitória como eu”, insistiu Zelensky à Time. Um dos assessores mais próximos de Zelensky contou a Shuster: “Ele está delirando. Estamos sem opções. Não estamos ganhando. Mas tente dizer isso a ele”.

Outro assessor próximo de Zelensky relatou a Shuster que as baixas são tão horríveis que “mesmo que os EUA e os seus aliados entreguem todas as armas que prometeram, ‘não temos homens para usá-las’”. Em alguns ramos das forças armadas, a escassez de pessoal tornou-se “ainda mais grave do que o déficit de armas e munições.” A idade média de um soldado ucraniano em serviço atualmente é de 43 anos e envelhece o tempo todo.

As políticas de recrutamento são cada vez mais draconianas e as redes sociais reproduzem histórias de homens retirados à força de trens e ônibus e enviados para o front. “Aqueles que têm recursos às vezes apelam para o suborno para sair do serviço militar, muitas vezes pagando uma isenção médica.”

O moral está em colapso. Um assessor próximo de Zelensky revelou a Shuster de que alguns comandantes da linha da frente começaram a recusar ordens de avançar, mesmo quando elas vinham diretamente do gabinete do presidente. Alguns oficiais não têm escolha senão recusar ordens que são simplesmente impossíveis. Ele contou que no início de outubro foi dada uma ordem para a “retomada” da cidade de Horlivka, no Leste da Ucrânia, que está sob controle russo há quase uma década.

“A resposta veio na forma de uma pergunta”, escreve Shuster. “Com o quê?” Sem recrutas e sem artilharia, os sonhos de Zelensky de expulsar os russos de cada centímetro do território ucraniano não podem ser alcançados. Ele só pode lutar inutilmente até o último ucraniano, e há um número cada vez menor de ucranianos dispostos a morrer por essa estratégia.

A corrupção é incontrolável, apesar de medidas como a demissão do ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov. Um importante conselheiro presidencial admitiu isso a Shuster depois que seu gravador de áudio foi desligado: “As pessoas estão roubando como se não houvesse amanhã”.

FRITURA

Em suma, a mídia imperial começou a fritar Zelensky e a esboçar a figura de Zaluzhny como, quem sabe, uma “alternativa”. O que levou alguns veteranos a lembrarem do fim inglório do ditador vietnamita Ngo Dinh Diem em 1963, deposto no esforço de alterar o desastre em curso da guerra. O ferrabrás deixou de ter utilidade, e foi sumariamente descartado.

A reação de Zelensky foi revidar declarando que o conflito “não estava em um impasse” e repreendendo em público o general. Agora, via The Sun, Zelensky voltou à carga, asseverando que seria “um grande erro” os líderes militares entrarem na arena política.

Ao tablóide, o dublé de pianista e ator Zelensky disse que “se você administra a guerra tendo em mente que amanhã você vai fazer política ou eleições… você se comporta como um político e não como um militar, e acho que isso é um grande erro”.

“Com todo o respeito ao general Zaluzhny e a todos os comandantes que estão no campo de batalha, há um entendimento absoluto da hierarquia e é isso, e não pode haver dois, três, quatro, cinco [líderes]”, disse Zelensky. “De acordo com a lei e em tempos de guerra isso nem pode ser discutido. Isso não leva à unidade da nação.”

MAIS DE 100 MIL BAIXAS

De acordo com o jornal londrino The Times, Zaluzhny chegou a pedir a Zelensky que cancelasse a contraofensiva de verão da Ucrânia contra as forças russas, mas Zelensky se recusou. Os militares ucranianos acabaram perdendo mais de 90.000 soldados durante a ofensiva de junho a outubro e outros 13.700 até agora este mês, de acordo com o Ministério da Defesa russo.

O ex-conselheiro de Zelensky, Aleksey Arestovich, que caiu em desgraça há alguns meses, comentou no início do mês ao jornal espanhol El Mundo que o “comandante-em-chefe” [Zaluzhny] diz “uma coisa sobre a guerra e sobre as perspectivas de vitória, e o presidente diz algo completamente diferente”. “Não é uma situação normal”, insistiu. Para ele, o general poderia emergir como o “único adversário real” de Zelensky.

A questão também foi abordada pelo ex-agente da CIA Larry Johnson, em entrevista ao Sputnik. “É sempre importante prestar muita atenção ao que está acontecendo na mídia, porque essas histórias não aparecem do nada”.

THE ECONOMIST

“Não é como se algum repórter intrépido da Economist dissesse: ‘Ei, você sabe, acho que seria muito bacana se eu pudesse entrevistar o general Zaluzhny’. Porque acho que todo esse arranjo foi possível graças à intervenção do MI6 [serviço secreto britânico] para elevar o perfil de Zaluzhny no Ocidente. E lembre-se que naquela revista Economist, ele foi entrevistado, ele então escreveu um artigo de opinião e eles lhe deram um artigo mais longo online, o ‘Economist online’. Assim, Zaluzhny conseguiu três publicações. E ele foi visto como minando a mensagem que vinha saindo da Ucrânia.”

“Lembre-se de uma semana atrás, a revista Time – que havia trazido Zelensky em sua capa em 2022 como Homem do Ano – eles o descreveram como ‘a reencarnação de Winston Churchill’ e ‘este grande estrategista militar’. Ele agora foi colocado na capa da Time e denunciado como basicamente como Adolf Hitler em seus últimos dias, delirante, fora da realidade, louco”, destacou Johnson.

“Então, quando vejo esses tipos de artigos aparecerem tanto de fontes britânicas quanto de fontes americanas, isso está me dizendo que as instituições políticas em ambos os lugares estão preparando a rampa de saída para Zelensky. E Zaluzhny pode ser visto como alguém com quem querem substituir Zelensky. Então, estamos na fase agora em que as brigas internas estão se tornando letais. Não é só xingar um ao outro e talvez ferir os sentimentos de alguém. Isso está se tornando um jogo de sangue.”

ESTRANHO ACIDENTE

O ex-agente também comentou o estranho acidente que matou um auxiliar próximo de Zaluzhny, Gennady Chastyakov, que disse “cheirar a uma potencial sabotagem do infame serviço de segurança ucraniano”.

“Essa granada que explodiu… Eu vi em alguns relatos diferentes que alguém lhe deu uma granada viva e então seu filho estava brincando com ela e acidentalmente puxou o alfinete e ele disparou. Mas com certeza parece sabotagem. E Zelensky ainda tem apoio dentro do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e não seria de todo além do SBU para Zelensky pensar que é uma boa ideia enviar uma mensagem como essa para tentar intimidar Zaluzhny.”

“Então, claramente, a única voz que costumava ser que ‘a Ucrânia está ganhando, a Rússia está perdendo, Putin está morrendo, Putin está morto, a economia está em frangalhos, e os militares russos são incompetentes’, toda essa operação informativa, isso agora foi deixado de lado”, enfatizou Johnson.

“A nova operação de informação é ‘a Ucrânia não tem mão de obra para sobreviver, a Ucrânia tem de encontrar uma saída negociada’. E acho que Zelensky não é um participante disposto a isso. Ele está lutando para se manter e tentar sobreviver. E isso pode ser porque ele teme que esse movimento ultraneonazista que ele ajudou a viabilizar, eles o matem se o virem fazendo qualquer tipo de gesto para tentar ser conciliador com a Rússia”, disse o entrevistado.

É emblemático que o tom de grande parte da mídia imperial também começou a mudar, passando a admitir o fracasso da “contraofensiva de Kiev” e – pasme-se – até a existência de corrupção no regime instaurado pela CIA em 2014. Também começa a emergir no noticiário que a Rússia sobreviveu incólume ao blitzkrieg das sanções decretadas pelos EUA e seus vassalos.

Por outro lado, o Wall Street Journal esta semana assinalou que Berlim terá de fazer uma escolha entre o apoio financeiro às empresas alemãs e a assistência à Ucrânia. “Num futuro próximo, o governo deve decidir quais as áreas que deve dar prioridade: reforçar a defesa coletiva da Europa e apoiar a Ucrânia, ou mitigar o impacto do aumento dos preços da energia e da inflação nas empresas e nas famílias”.

Fonte: Papiro