Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (1º) cortar a taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,5 ponto percentual, de 12,75% para 12,25% ao ano, elevando o Brasil a campeão mundial de juros reais (descontada a inflação), segundo o site MoneYou.

Posição que o país veio ocupando há tempo e que só perdeu para México na última reunião do Copom. Com a inflação desacelerando, o juro real no Brasil ficou em 6,9% no ranking de 40 países.

Com o arrocho monetário imposto pelo Banco Central, que por um ano manteve a Selic em 13,75%, asfixiando o setor produtivo e as famílias brasileiras, a redução dos juros a conta-gotas – em apenas 0,5 ponto percentual pela terceira vez seguida, não impediu a desaceleração da economia no segundo semestre, com quedas na produção industrial, nas vendas do comércio e no setor de serviços, além de elevar a inadimplência das famílias e de empresas.

“Diante da realidade da economia e da urgência na retomada do crescimento, a redução da taxa Selic teria de ser necessariamente maior e mais rápida. Não faz o menor sentido o ritmo de conta-gotas que o BC de Campos Neto vem impondo nas reuniões do Copom. É irresponsabilidade com o País”, afirmou Gleise Hofmann, presidente nacional do PT, na rede social X.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Alban, o Banco Central “poderia ser um pouco mais desafiador e ter iniciado uma redução mais acelerada”.

“Aqueda da Selic não é suficiente para impedir custos adicionais e desnecessários em termos de atividade econômica. Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que nós precisamos. Na verdade, estamos em uma armadilha, porque a nossa taxa Selic atingiu um patamar bastante desestimulante”, declarou Alban

Em comunicado, o Copom voltou a defender o arrocho monetário que está travando os investimentos públicos e privados, além de restringir a demanda de bens e consumo e elevar o grau de endividamento das famílias, empresas e do setor público. Após admitir que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres” e que a inflação no Brasil “continua na sua trajetória de desinflação”, o colegiado usou as “metas fiscais”, assunto que não lhes diz respeito, para justificar sua sabotagem ao crescimento do país.

“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, diz trecho do comunicado.

E afirma que vai continuar reduzindo os juros a conta-gotas. “Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista”, disse o Copom em nota.

ECONOMIA EM DESACELERAÇÃO

A decisão do Banco Central “independente” e comandado pelo ex-funcionário do banco Santander, Roberto Campos Neto, ocorre após os resultados de prévias para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, PIB/FGV e IBC-Br, apontaram queda da atividade econômica em setembro, e com economistas e o próprio “mercado” apontando que o Brasil deverá entrar em recessão técnica no fim deste ano.

Uma pesquisa realizada pelo ‘Projeções Broadcast’, do Estado de São Paulo, envolvendo 30 instituições financeiras, mostra que a projeção média para o PIB do terceiro trimestre passou de crescimento nulo (0,0%) para uma queda de 0,2%. Para o quarto trimestre, a projeção é de um recuo de 0,1% do PIB. Com dois trimestres consecutivos de recuo em sua atividade econômica, o Brasil entrará em recessão técnica, o que não ocorre desde o fim do segundo trimestre de 2020.

Nesta quarta-feira, o IBGE divulgou que a produção física da indústria nacional variou apenas +0,1% em setembro frente a agosto (+0,2). Em setembro, três das quatro categorias industriais e 20 dos 25 ramos do setor obtiveram resultados negativos em sua produção.

Ao avaliar o resultado, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) destacou que “sem forças, em muito exauridas pelas elevadas taxas de juros praticadas no país, e sem bases de comparação favoráveis, já que a morosidade não é de agora, os resultados trimestrais não deixam dúvida sobre o quadro de estagnação em 2023”.

E destaca que os resultados desfavoráveis da indústria “cabem justamente àquela parcela da indústria cujos mercados demandam algum tipo de financiamento, seja das famílias, seja das empresas, em condições adequadas de prazo e juros para se dinamizarem”.

O IBGE ainda não divulgou os dados de setembro para os setores de serviços e do comércio varejista, mas as previsões não são otimistas, tendo como base os resultados de agosto, em que os serviços prestados no país recuaram 0,9% frente a julho (0,5%) e as vendas do comércio tiveram uma queda de 0,2%, após alta de 0,7% em julho.

Fonte: Página 8