Uma bomba destruiu vários prédios no campo de refugiados de Al Bureij, no centro de Gaza | Foto: Mahmud Hams/AFP

Organizações de Direitos Humanos e de apoio humanitário, com sucursais em Gaza informam que a situação durante a agressão atual é o que já viram de mais grave.

De acordo com reportagem publicada no jornal israelense Haaretz nesta sexta-feira (3) em outras agressões os grupos que atuam na Faixa de Gaza estavam em contato com ativistas em suas sedes em Israel ou na Cisjordânia. Colhiam dados, entrevistavam residentes, podendo contribuir com informações ao público sobre destruições anteriores. Agora os dirigentes das organizações humanitárias dizem que estão impossibilitados até de manter contato com seus funcionários.

“A dificuldade de informar vem, ente outros fatores, da própria dimensão da destruição”, diz Samir Zaqout, diretor da seção de Gaza do Centro Al Mezan de Direitos Humanos.

Ele próprio teve que deixar o norte da Faixa em direção a Rafah após as ameaças dos agressores israelenses.

Samir acrescenta que alguns dos colaboradores do Al Mezan perderam familiares ou tiveram suas casas destruídas. “Tudo isso piora as condições dos nossos funcionários de trabalhar. A extensão do dano é enorme”.  

Ele aponta para a falta de combustível em Gaza e a dificuldade de fornecimento de energia elétrica o que inibe ainda mais as pessoas de contarem o que lhes ocorre. Quem consegue carregar minimamente seus celulares guardam toda a energia para contatar parentes e por isso não conseguem informar sobre sua situação às redes sociais e a isso se soma o pane na comunicação imposto por intervenção israelense.

O diretor da organização palestina Al Haq, Shawan Jabarin, também informou sobre as condições de trabalho dos seus colaboradores: “Não há eletricidade para carregar os celulares, a internet é totalmente falha e não há lugar seguro para o qual eu possa pedir aos colaboradores se abrigarem”.

Segundo Jabarin, a devastação que é documentada, mostra apenas parte do drama humano em curso, “uma vez que o trabalho no local está dificultado”.

O mesmo grau de dificuldade é alegado pelos diretores do grupo israelense de Direitos Humanos Gisha. “Toda manhã nós esperamos por um sinal de nosso colaborador e ansiamos por saber como está ele e sua família, seus filhos e seus parentes mais velhos, se eles sobreviveram a mais uma noite de bombardeio”, diz um diretor.

“O pouco que conseguimos dele, quando ele consegue entrar em contato é entremeado de preocupações, sofrimento e dor pelas perdas de entes queridos, a horrenda visão em torno deles e o medo da morte que é constante”, prossegue o diretor da Gisha.

Ele acrescenta que “Israel está indo o mais longe que pode para ocultar informações e até difama fontes de informação para encobrir as agudas necessidades humanas”.

Um dos questionamentos israelenses, o que ficou mais conhecido mundialmente, foi sobre a destruição no hospital Al Ahli. Tanto quanto ao número, que as informações saídas de Gaza reportaram em 500 mortes, e Israel contestou, dizendo que foi bem menor e até quanto ao míssil que atingiu o hospital, dizendo que não partira de Israel, o que foi desmentido até pelo New York Times, após estudo da trajetória ao míssil.  

Samir Zaqout disse que contestar os números é tentativa de esconder o que está, de fato acontecendo: “É destruição pura e simplesmente. Não tenho outra forma de descrever isso e quanto ao número de mortos pode ser bem maior, pois as pessoas estão sendo soterradas nas ruínas de suas casas”.

Fonte: Papiro