Multidão tomou as ruas de Londres contra o genocídio em Gaza, na véspera do debate com Daniel Levy | Foto: Common Dreams

“Eu não entendo como pode haver tal falha, tal ausência, tal abandono do que eu compreendo ser a mensagem universal da ética judaica, sintetizada no lema ‘novamente, nunca mais’”, disse o negociador dos Acordos de Oslo, pelo lado israelense, Daniel Levy, ao se referir ao extermínio dos judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e condenar a atual liderança de Israel, em um debate sobre o genocídio de palestino agora perpetrado em Gaza, realizado em Londres na segunda-feira (30).

Durante o debate, Levy alertou para a espantosa quantidade de civis palestinos mortos na incursão de revanche israelense em Gaza e assinalou que, “embora não em todos os escalões, na liderança israelense esse abandono do ‘novamente, nunca mais’ é absolutamente gritante. Não há como conseguir entender [a realidade] quando se está em negação até mesmo dos números, se não se consegue entender o sofrimento e a dor dos demais, ele acrescentou, o trauma alheio”.

Ele se referiu ainda ao direito palestino de resistir quando falou de um dos lemas judaicos acerca da prontidão contra qualquer massacre motivado por antissemitismo sintetizado em: “Contra isso, nos poremos de pé” (“Naamod Neged”).

Ele saudou os judeus britânicos contra a ocupação, alguns deles na sala, os demais se manifestando lá fora, lembrando que, assim como ele, vêm de “um povo traumatizado.” Agora – ele advertiu – “a instrumentalização disso e o envolvimento de si mesmo num manto único de vitimização não tem como funcionar de forma ilimitada”.

Levy observou, ainda, que o 7 de outubro mostrou que não há como construir um muro alto o suficiente sob tal nível de desumanização [dos palestinos] e, finalizando, disse que “talvez, talvez, devêssemos questionar o paradigma da partição”.

Dois dias antes do debate de que Levy foi um dos palestrantes, meio milhão de pessoas foram às ruas em Londres pelo fim da limpeza étnica perpetrada por Israel em Gaza e pelo cessar-fogo imediato. 

EUA CÚMPLICE DO GENOCÍDIO

Avi Shlaim, proeminente historiador israelense-britânico e professor emérito de Relações Internacionais na Universidade de Oxford, denunciou no debate que o apoio dos EUA, Reino Unido e União Europeia a Israel – incluindo apoio militar – os tornou cúmplices de “massacres em massa” na Faixa de Gaza.

“A resposta ocidental à crise é a hipocrisia habitual e os dois pesos e duas medidas implacáveis, mas desta vez foi levada a um novo nível. O amor ocidental por Israel sempre foi acompanhado, sempre dependeu do apagamento da história palestina e da humanidade”, disse ele no evento organizado pelo Centro Internacional de Justiça para Palestinos (ICJP).

“A profunda preocupação com a segurança de Israel é reiterada a todo momento pelos líderes ocidentais – mas não se pensa na segurança palestina.”

Também participaram do evento Wadah Khanfar, presidente do Fórum Al Sharq e ex-diretor-geral da Al Jazeera; Yasmine Ahmed, diretora da Human Rights Watch no Reino Unido; e Mohamed Hassan, do portal Middle East Eye.

Fonte: Papiro