Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, disse à Polícia Federal que o ex-presidente recebeu, fez alterações e propôs colocar em prática um decreto golpista para anular o resultado das eleições e prender o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. As informações são do jornal O Globo.

Os investigadores estão indo atrás de provas que corroborem com o relato, dado o âmbito da delação premiada que foi acordada.

Mauro Cid disse que o ex-assessor da Presidência, Filipe Martins, apresentou para Jair Bolsonaro um decreto golpista que determinaria um golpe de estado no Brasil.

O documento citava supostas ações ilegais do Poder Judiciário e, com base nisso, determinava a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a realização de novas eleições.

Bolsonaro leu o documento e ordenou que a parte das prisões de autoridades fosse substituída pela prisão somente de Alexandre de Moraes.

Segundo o ex-ajudante de ordens, Filipe Martins lhe mostrou o rascunho do decreto golpista em versão digital e impressa para que as alterações ordenadas por Bolsonaro fossem feitas.

Alguns dias depois, Filipe Martins apareceu com uma nova versão do decreto adaptada aos desejos de Jair Bolsonaro.

Jair Bolsonaro, então, aceitou o decreto golpista e chamou os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica para propor um golpe baseado naquele documento.

O golpe planejado por Jair Bolsonaro e seus aliados não prosperou porque os comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista, não aderiram. Somente o almirante Almir Garnier respondeu positivamente à convocação de Bolsonaro.

Os investigadores estão apurando se documentos encontrados no e-mail e no arquivo de WhatsApp de Mauro Cid têm ligação com o decreto produzido por Filipe Martins.

No dia 6 de setembro, uma semana após a derrota de Bolsonaro para Lula, quando os bolsonaristas já estavam organizados em acampamentos em frente aos quartéis do Exército, Mauro Cid listou em seu e-mail decisões do TSE e do STF “em desfavor” de Bolsonaro.

Além disso, Cid enviou para seu próprio contato, em uma forma de salvar a mensagem, uma lista de supostas “decisões inconstitucionais do STF”. A mensagem diz que a suposta existência de decisões inconstitucionais coloca “em evidência a necessidade de restauração da segurança jurídica e da defesa às liberdades em nosso país”.

Essa “restauração” da democracia viria de um “Estado de Sítio”.

Essa é a mesma lógica presente no decreto golpista encontrado na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. A PF também investiga a ligação entre os decretos de Filipe Martins e de Torres.

No documento de Torres, as eleições deveriam ser anuladas e o TSE fechado, através de um “estado de defesa”, para “apuração de suspeição, abuso de poder e medidas inconstitucionais” que teriam acontecido no Tribunal nas eleições presidenciais.

Outro ponto que está sendo investigado pela Polícia Federal é de um possível plano, presente em áudios e mensagens trocados por Mauro Cid com aliados, para usar o Comando de Operações Especiais de Goiânia para um golpe de Estado sem autorização do Comandante do Exército.

Ao mesmo tempo, investiga se o ex-candidato a vice-presidente, general Walter Braga Netto, foi a ponte entre Bolsonaro e os acampados que pediam um golpe.

Os golpistas frequentaram, depois das eleições, a casa que foi usada pela chapa Bolsonaro-Braga Netto como comitê de campanha em Brasília. Nessa época, Braga Netto trabalhava no local.

Fonte: Página 8