Cartaz da organização Code Pink condena guerra de Washington, por procuração, na Ucrânia | Foto: Reprodução

Com faixas como “Paz na Ucrânia” e “o militarismo dos EUA alimenta a crise climática”, dezenas de manifestantes exigiram no Capitólio que os congressistas dos EUA parem de apoiar o fornecimento de armas e dinheiro à Ucrânia e, ao invés, trabalhem por negociações e um cessar-fogo imediato. 11 ativistas foram presos enquanto protestavam no gabinete do senador democrata Bernie Sanders.

Enquanto eram retirados pela polícia das dependências do Congresso, os manifestantes bradaram “cessar fogo agora!”. “Todos os senadores e todos os deputados, só o que fazem… é [dar] dinheiro, dinheiro, dinheiro” para a guerra, disse a ativista do Code Pink, Joan Nicholson, de 89 anos, ao ser escoltada para fora.

“Eles prometeram que a Otan nunca se expandiria e olha, está ao longo da Rússia toda. [Estou aqui hoje] para parar a guerra [na Ucrânia], e as armas, o dinheiro que vai para a Ucrânia para matar pessoas. Pessoas estão morrendo todos os dias – homens, mulheres e crianças”, ela denunciou.

A manifestação, na quarta-feira (4), faz parte da semana pela paz de 30 de setembro a 8 de outubro, decidida em junho por uma conferência contra a guerra realizada em Viena. O protesto em Washington foi organizado pela Code Pink, Religions for Peace USA, American Friends Service Committee, Sojourners e Franciscan Action Network.

VALORES DE SANDERS

Nas imediações do gabinete da senadora Elizabeth Warren os manifestantes alertaram que os EUA estão atiçando o conflito na Ucrânia ao enviarem para lá milhares de toneladas de armas e sublinharam que a guerra foi motivada pelo fato de o regime de Kiev não ter implementado os acordos de Minsk enquanto a Otan continuava procurando se expandir.

O Code Pink e demais organizações buscaram não hostilizar Sanders, registrando que sua presença ali tinha o objetivo de lembrá-lo “dos valores que ele defendeu e que fizeram de seu nome o que é” e exortando o socialista democrático a “liderar pela paz”. 

Um manifestante exibia um cartaz estampado com as próprias palavras de Sanders num artigo de opinião de 2022 no The Guardian. “Devemos trabalhar arduamente para alcançar uma resolução realista e mutuamente aceitável – uma que seja aceitável para a Ucrânia, a Rússia, os Estados Unidos e os nossos aliados europeus”, exigindo ainda negociação e “uma solução diplomática”.

Dois assessores de Sanders tentaram justificar o apoio do senador ao envio de armas à Ucrânia, alegando que o país foi vítima de “uma guerra de agressão por parte de Putin”.

A cofundadora da Code Pink, Medea Benjamin, afirmou estar “consternada” com o fracasso do Partido Democrata em apoiar uma paz negociada. “Esta não é uma questão MAGA ou republicana, mas uma questão de sobrevivência humana para impedir a Terceira Guerra Mundial e possivelmente uma guerra nuclear”, disse ela num comunicado após o protesto, insistindo: “precisamos que Bernie esteja conosco do lado da paz.”

Na conferência de Viena, com mais de 330 pessoas de 32 países de seis continentes, foi aprovado um apelo aos “líderes de todos os países para agirem em apoio a um cessar-fogo imediato e às negociações para acabar com a guerra na Ucrânia” e essa semana pela paz.

Tem sido intenso entre as correntes progressistas norte-americanas o debate sobre a bizarra situação em que senadores e deputados, historicamente tidos como defensores da paz, terem se convertido à cartilha de guerra do Pentágono e Departamento de Estado, enquanto é entre os republicanos que mais se apresentam conclamações contra o envio de mais armas e dinheiro para o regime de Kiev.

Segundo a RT, embora Sanders tenha votado contra a invasão do Iraque em 2002 e feito campanha contra as “guerras eternas”, não é de fácil caracterização. Apoiou a intervenção da Otan na Bósnia e no Kosovo, bem como a “infame Autorização para o Uso da Força Militar pós-11 de Setembro, usada para justificar a ação militar dos EUA em dezenas de países que supostamente albergam grupos ligados ao terrorismo, incluindo ataques de drones no Afeganistão, Síria, Iêmen, Somália, Paquistão, Líbia e Iraque”.

“PARE DE ATIÇAR A GUERRA”, DIZ GREENE

A deputada republicana Marjorie Taylor Greene, uma opositora aberta da política do governo Biden para a Ucrânia, fez uma postagem no X (antigo Twitter), reconhecendo que, embora ela e Code Pink discordassem em muitas questões, “concordamos que o Congresso deveria parar de alimentar a guerra na Ucrânia!”. 

“A paz e a liberdade de expressão não deveriam ser uma questão partidária”, acrescentou a deputada, cujo aceno foi depois rechaçado pela liderança do Code Pink, que considerou “oportunista” sua abordagem.

Quanto à convicção dos assessores de Sanders sobre quem causou a guerra, já foi publicamente desautorizada há algum tempo pelo próprio secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Em uma cúpula europeia ele disse – ou melhor, se gabou – que foi a recusa em deter a expansão da OTAN que provocou a guerra na Ucrânia, depois da Rússia ter enviado uma proposta de negociação da segurança coletiva na Europa ignorada por Washington.

Quanto aos acordos de Minsk, dois de seus promotores, a ex-primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, e o ex-presidente francês François Hollande, confessaram que o objetivo foi de ganhar tempo para rearmar o regime de Kiev.

Segundo uma pesquisa Reuter-Ipsos, concluída no dia 4, o apoio nos EUA ao envio de armas ao regime de Kiev continua encolhendo. Apenas 41% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que Washington “deveria fornecer armas à Ucrânia”, enquanto 35% discordaram. Em junho, os percentuais da mesma pergunta eram, respectivamente, 65% e 29%. Declínio visto mesmo entre os democratas, que de 81% de apoio a armar a Ucrânia em junho, despencou agora para 52%.

Fonte: Papiro