Republicano McCarthy foi acusado de fazer acordo secreto com democratas para manter envio de armas a Kiev | Foto: AFP

Pela primeira vez na história dos EUA, um presidente da Câmara de deputados foi destituído, com o republicano Kevin McCarthy perdendo o cargo por 216 a 210 em votação na terça-feira (3).

O pedido de destituição do deputado republicano trumpista, Matt Gaez, endossado por mais sete republicanos, acabou engrossado pela bancada democrata, decidindo a questão. O republicano Patrick McHenry, tido como próximo a McCarthy, foi nomeado interino até que um novo presidente seja eleito.

Antes da votação, o líder da minoria na Câmara, o democrata Hakeem Jeffries, disse que “agora era responsabilidade dos membros do Partido Republicano acabar com a Guerra Civil Republicana na Câmara”.

Segundo o portal Zero Hedge, “Gaetz e seus aliados do Freedom Caucus ficaram furiosos no domingo, depois que se descobriu que McCarthy havia feito um acordo secreto com os democratas para obter mais financiamento para a Ucrânia, em troca da aprovação de uma resolução que manterá o governo funcionando até meados de novembro”.

McCarthy chegou a asseverar que “não havia” qualquer acordo secreto, mas não convenceu a ala mais trumpista da bancada republicana na Câmara.

O deputado Matt Gaetz o chamou de “uma criatura do pântano” após a destituição, realizada, segundo ele, depois de “oito tumultuados meses de bajulação e mentiras”.

“[McCarthy] subiu ao poder coletando dinheiro de juros especiais e redistribuindo esse dinheiro em troca de favores”, alegou Gaetz. “Estamos ‘quebrando a febre’ e deveríamos eleger um presidente que seja melhor”, acrescentou.

“Estamos no caminho certo para um projeto de lei geral e é difícil defender [a gestão McCarthy] quando os republicanos da Câmara nem sequer enviaram uma intimação a Hunter Biden, disse o trumpista, comparando a presidência do destituído a um ‘teatro de fracasso’”.

Anteriormente, só depois de muita pressão desses trumpistas foi que McCarthy encaminhou na Câmara o “pedido de impeachment contra Biden”.

No final de semana, no último minuto, McCarthy e o governo Biden chegaram a um acordo para evitar o “shut down” (fechamento) do governo, através da aprovação de um orçamento-tampão de 45 dias.

Válido até 17 de novembro, no acordo os republicanos abriam mão provisoriamente de mais verbas para a repressão aos imigrantes na fronteira sul e de novos cortes de gastos, enquanto os democratas concordavam em que não haveria nenhum dinheiro no orçamento-tampão para financiamento da guerra por procuração de Biden na Ucrânia contra a Rússia. Mais democratas votaram a favor do que republicanos.

Os trumpistas preferiam o fechamento do governo, pensando no desgaste de Biden a um ano das eleições presidenciais, e também exigiam mais cortes nos programas sociais e mais verbas para “a fronteira sul”. Com o empenho de Biden de manter a guerra na Ucrânia, insistentemente surgiram rumores de que McCarthy iria pôr em votação, nesta semana, em outro projeto, o dinheiro para Kiev.

Quando a corda estourou na segunda-feira, McCarthy chegou ontem a falar à noite com o líder da minoria democrata, asseverando a repórteres que “nada lhe fora pedido” e que “nada concedera”.

Segundo o portal Político, McCarthy foi “um pouco mais específico” numa conversa com a imprensa no final da manhã, dizendo que não se envolveria em algum tipo de acordo de partilha de poder com os democratas para garantir os seus votos: “Isso não funciona”. E acrescentara: “se cinco republicanos ficarem com os democratas, então estou fora”.

De acordo com a CNN, agora a Câmara precisa eleger um novo presidente, “mas não está claro sobre quem teria o apoio necessário para ganhar”. O próprio McCarthy poderá se relançar candidato.

McHenry, o interino que terá que encabeçar esse processo, está cumprindo seu 10º mandato de deputado federal e preside o comitê de Serviços Financeiros da Câmara. Antes de ser eleito parlamentar, McHenry trabalhou na campanha a presidente de W. Bush em 2000.

Abordando a confusão, a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez disse à CNN no domingo que “não cabe aos democratas salvar os republicanos de si mesmos, especialmente.” Ela acrescentou que não pretendia “votar num presidente republicano da Câmara” e que cabia à Conferência Republicana “determinar a sua própria liderança e lidar com os seus próprios problemas”.

Ela acrescentou que “certamente” votaria para remover McCarthy, assinalando que outros democratas provavelmente também o fariam “a menos que haja uma conversa real entre as bancadas republicana e democrata e a liderança republicana e democrata” sobre o que significaria apoiar um presidente republicano da Câmara. “Mas não acho que abrimos mão do voto de graça”, concluiu a democrata.

Fonte: Papiro