Marcha da legalidade da Guatemala respalda posse do presidente eleito Bernardo Arévalo | Foto: AFP

As estradas guatemaltecas continuaram bloqueadas na manhã desta terça-feira (3) em protesto contra a trama do Ministério Público (MP) de sabotar o processo democrático no país.

Empunhando faixas e cartazes em favor do presidente eleito, Bernardo Arévalo, do partido Semilla (Semente), dezenas de milhares de pessoas ocuparam as rodovias e impediram o tráfego para exigir o respeito à legalidade e decisão soberana das urnas.

Grande maioria da população, os povos indígenas e camponeses reafirmaram que permanecerão parados pelo país até que seja plenamente respeitado o processo eleitoral e Arévalo suba à cadeira presidencial.

Aleisar Arana, autoridade indígena no Parlamento Xinca, afirmou que a partir da ação de uma inexpressiva minoria a Guatemala “está vivendo um golpe de Estado, um golpe na democracia e o Estado de direito que afeta comunidades em todo o país”.

Como um dos organizadores da paralisação, Arana esclareceu que a população continuará engajada e ativa até que seja dada uma resposta ao pedido de renúncia da golpista, a procuradora-geral Consuelo Porras. Ao mesmo tempo, esclareceu, é necessário que o Tribunal Constitucional resolva as petições “das suas ações abusivas”. “O Tribunal pode evitar tudo o que está passando e devolver-nos a paz, para que possamos esperar a posse das autoridades eleitas”, disse.

O líder indígena enfatizou que “a Guatemala sempre foi um Estado opressor para os povos indígenas, mas agora está se complicando, estão agravando a situação para que vivamos num Estado de insegurança, sem democracia”.

A situação tem se complicado ainda mais, explicou, quando no sábado (30) o Ministério Público, acompanhado por pelo menos 100 policiais, apreendeu milhares de atas contendo os resultados do primeiro turno das eleições em que 22 partidos políticos concorreram a mais de 4.000 cargos públicos.

A absurda apreensão das atas foi transmitida ao vivo pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sendo possível comprovar como policiais e membros do Ministério Público pressionaram e insultaram os magistrados que tentavam cumprir a lei e impedir a tomada dos autos. A Lei Eleitoral e dos Partidos Políticos, de caráter constitucional, confere apenas ao TSE a guarda do material eleitoral.

Arévalo, que já foi declarado vencedor das eleições e deve tomar posse em 14 de janeiro de 2024, denunciou que o procurador-geral está liderando um golpe de Estado para impedi-lo de assumir o cargo. A procuradoria nega as acusações.

Porras, da mesma forma que o promotor Rafael Curruchiche e o juiz Fredy Orellana – que acumula denúncias contra o processo eleitoral – foram sancionados por obstruírem o combate à corrupção, minar a democracia e emitir resoluções judiciais para fins políticos, estão se isolando cada vez mais nas entidades e institutos internacionais, que têm respaldado a Arévalo.

Fonte: Papiro