Putin na abertura da Conferência Rússia-America Latina | Foto: Presidência da Federação Russa

Temos sido e somos partidários de que a América Latina seja forte, independente e bem sucedida na sua unidade e diversidade, e para este fim estamos dispostos a impulsionar a cooperação tanto bilateral com cada país como a trabalhar em estreita colaboração com as associações de integração da América Latina, com a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, com a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, com o Mercado Comum do Sul”, afirmou o presidente Vladimir Putin ao dirigir palavras de boas-vindas aos participantes da primeira conferência parlamentar “Rússia-América Latina: Cooperação para um mundo justo para todos”, que por iniciativa da Duma (Câmara dos Deputados), foi inaugurada na sexta-feira (29).

“Em Moscou se reúnem representantes de autoridades legislativas e líderes de vários partidos políticos, chefes de organizações públicas, especialistas e diplomatas da maioria dos Estados latino-americanos. A chegada de um grupo representativo de legisladores da América Latina, expressando a vontade de seus eleitores e chamados a trabalhar em seus interesses, é uma evidência adicional do desejo dos povos de nossos países de desenvolver uma parceria abrangente e mutuamente benéfica”, disse Putin, falando na conferência com a presença de mais de 200 lideranças políticas latino-americanas.

“Mesmo agora, os países latino-americanos mostram um padrão de sucesso na formação progressiva de um sistema multipolar de relações internacionais baseado na igualdade, na justiça, no respeito pelo direito internacional e nos interesses legítimos de cada um”, expressou o presidente russo.

“Nesta nova arquitetura policêntrica, os Estados latino-americanos, com o seu enorme potencial econômico e recursos humanos, bem como as suas aspirações de levar a cabo uma política externa independente e soberana, desempenharão um dos papéis principais no mundo; não há dúvida sobre isso”, manifestou.

Durante o seu discurso, Putin enfatizou que a Rússia e os países latino-americanos têm tradicionalmente “muitos pontos em comum” nas suas opiniões sobre as relações internacionais.

“AMÉRICA LATINA SEMPRE LUTOU PELA INDEPENDÊNCIA”

 “Os latino-americanos sempre lutaram pela autonomia e pela independência, e a história do seu continente está repleta dos exemplos mais vívidos disso”, sublinhou Putin.

“Foi o que aconteceu durante o período de luta contra o colonialismo na época de Simón Bolívar, que se tornou um símbolo de liberdade não só para a América Latina, mas, talvez, para todo o mundo, para toda a Humanidade. Foi o que aconteceu na segunda metade do século passado, quando o continente deu ao mundo abnegados lutadores pela justiça e pela igualdade social como Salvador Allende, Ernesto Che Guevara, Fidel Castro”, afirmou, despertando aplausos do plenário.

“Devo dizer que estes aplausos são apropriados, aplausos que falam do papel daquelas pessoas que acabo de citar. Lembro-me dos meus encontros com Fidel Castro, foram vários. Foi firme como uma rocha, sabem? Este era um homem que pensava nas pessoas a cada segundo, e não apenas nos cubanos – pensava em toda a América Latina, pensava em todas as pessoas do planeta, da terra. E, de fato, toda a sua consciência estava imbuída da preocupação de alcançar o bem comum e a justiça. Esta era uma personalidade única. Este é o tipo de pessoas que a América Latina produz”, assinalou.

O GRUPO BRICS NÃO É ALIANÇA MILITAR

O presidente acrescentou que a Rússia ajudará as estruturas de integração acima mencionadas a estabelecer vínculos práticos com a Comunidade Econômica da Eurásia, a conciliar abordagens às questões atuais da política comercial, regulação tarifária, promoção de investimentos e transferência de tecnologia.

Ao mesmo tempo, Putin sublinhou que o grupo BRICS não constitui uma aliança militar.

“Os BRICS são uma organização, não é uma espécie de aliança militar, é apenas uma plataforma para coordenar posições e desenvolver soluções mutuamente aceitáveis ​​baseadas na soberania, independência e respeito mútuo e vários países da América Latina desejam e devem se incorporar”, ressaltou.

“Por que estou falando sobre isso? Porque a Rússia assume a presidência dos BRICS, e estou certo de que tudo faremos para garantir que a chamada maioria mundial sinta que não é apenas uma maioria em termos do número de residentes dos nossos países, mas que é maioria em termos das suas perspectivas de desenvolvimento”, esclareceu.

O presidente russo acrescentou estar convencido de que a intensificação do diálogo direto através dos parlamentos abre oportunidades muito boas para aprofundar a cooperação e a sua expansão através de novas áreas de atividade conjunta.

“O apoio dos legisladores é realmente necessário em muitas questões relacionadas com a expansão dos laços multifacetados entre a Rússia e a América Latina. Este é exatamente o objetivo da presente conferência”, precisou.  

“EXPLORAM QUASE TODOS OS OUTROS PAÍSES DO MUNDO”

“As relações modernas de crédito financeiro no mundo estão estruturadas de tal forma que atendem exclusivamente aos do chamado ‘bilhão de ouro’. Eles, esse ‘bilhão de ouro’, ou, para ser mais preciso, os líderes desses países do ‘bilhão de ouro’, exploram praticamente todos os outros países do mundo. Eles abusam de sua posição tecnológica, informacional e financeira”, detalhou Putin.

Economicamente, o presidente russo registrou que o volume do comércio entre a Rússia e a América Latina aumentou 25% nos últimos cinco anos, com um crescimento das exportações russas de 2,3%.

Putin indicou que uma transição mais enérgica para as moedas nacionais nas liquidações financeiras, a criação de canais de crédito e cooperação bancária, e o estabelecimento de novas cadeias de transporte e logística contribuem para o maior desenvolvimento das trocas comerciais que vão contra a corrente do dólar como moeda única.

MESAS REDONDAS

A conferência inclui mesas redondas sobre os seguintes temas:

• Cooperação econômica igualitária e mutuamente benéfica: o papel dos parlamentos

• Desenvolvimento de laços humanitários entre a Rússia e a América Latina: contribuição dos parlamentos 

• Um mundo multipolar justo: o papel da diplomacia parlamentar

• Segurança para todos: posição dos parlamentos

Fonte: Papiro