Direita quer voltar às ruas em 15 de novembro sem a sombra de Bolsonaro
A direita tenta voltar às ruas depois do “tiro no pé” do 8 de Janeiro, que cravou em seus seguidores o selo de “golpistas” e transformou mais de 1.200 bolsonaristas em réus no STF (Supremo Tribunal Federal). Para testar a mobilização, a data escolhida foi a de 15 de novembro.
A ideia de se apropriar do feriado da Proclamação da República é uma forma de compensar a “perda” do 7 de Setembro. Neste ano, o governo Lula se empenhou em resgatar o feriado da Independência para associá-lo à democracia. Além disso, mais do que à própria direita, o 7 de Setembro estava diretamente associado a Jair Bolsonaro.
Por isso, as convocações nas redes sociais para o 15N continuam a usar o verde-amarelo, mas escondendo a figura do ex-presidente, que está inelegível e enfrenta diversas ações judiciais. Mas, sem a sombra dúbia de Bolsonaro – que atrai e afasta manifestantes –, a direita reconhece que os protestos terão caráter mais experimental.
“As cores, a forma, o discurso, a ideia de apropriação dos símbolos da pátria e a própria difusão do patriotismo seguem a mesma lógica estratégica que levou Bolsonaro à Presidência. Mas, desta vez, o ex-presidente é pouco mencionado”, observou o jornalista Sergio Denicoli, do blog Conectado, hospedado no Estadão.
Em sintonia com esse discurso, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), pré-candidato a prefeito de São Paulo, declarou à Folha de S.Paulo que é preciso virar a página. “Se nós formos reduzir a direita ao bolsonarismo, a direita está acabada. Não se pode reduzir uma ideologia a uma figura”, disse o parlamentar, que integra o MBL (Movimento Brasil Livre).
Excluir Bolsonaro é também uma forma de abrandar uma pauta que pode ser vista como autoritária e golpista. De acordo com Denicoli, “o foco é o #ForaLula, o que deixa em aberto a possibilidade de adesão dessa direita a uma nova liderança”. Não existem, porém, “nomes listados na narrativa que se levanta agora e clama a volta das manifestações populares que marcaram o governo anterior.”
Só que a própria diretiva anti-Lula, de tão genérica, mostra que o movimento está centrado essencialmente no antipetismo, sem outro chamariz mais atrativo. Até o momento, nenhuma das denúncias da oposição contra o governo colou, nem mesmo entre as bases mais tradicionais.
De resto, as sucessivas condenações e punições aplicadas pelo STF aos golpistas de 8 de Janeiro também inibem a adesão de uma massa maior de manifestantes. Ainda que eleitores de Bolsonaro possam desejar a saída de Lula da Presidência da República, há receio entre eles quanto a uma nova escalada de atos antidemocráticos e criminosos. Entre os governadores, por exemplo, nenhum se atreveu a declarar apoio ao chamamento.