Legenda: De arma em punho, Allende, ao lado de colaboradores, observa o início do bombardeio aéreo ao La Moneda | Foto: Arquivo

Fidel Castro fez um pronunciamento solidário ao povo chileno, em Havana, no dia 28 de setembro de 1973, poucos dias depois do golpe de Estado de 11 de setembro, no qual relata cada um dos momentos centrais da brava resistência do presidente Salvador Allende, frente aos agressores golpistas, no interior do palácio presidencial La Moneda. Segue o trecho em que história as últimas horas de luta do presidente do Chile, há 50 anos.

Os fascistas tentaram esconder do mundo o que aconteceu em 11 de setembro.

Às 6h20 da manhã de 11 de setembro, o presidente Allende recebe um telefonema, em sua residência presidencial, Tomás Moro informando-o do golpe militar em andamento e imediatamente coloca em alerta os homens da sua guarda pessoal e toma a firme decisão de se deslocar-se ao Palácio de la Moneda para defender, com seu posto de presidente da República, o governo da Unidade Popular.

Pouco depois das 8h15, através do interfone do Palácio, a junta fascista solicita ao presidente que se renda e renuncie ao cargo, oferecendo-lhe transporte aéreo para deixar o país na companhia da sua família e colaboradores.

O presidente responde que, por serem traidores, eles não conhecem os homens de honra, e rejeita indignadamente o ultimato.

Aproximadamente às 9h15 da manhã, se realizam os primeiros tiros de fora contra o Palácio. Tropas de infantaria fascistas, em números superiores a 200 homens, avançam pelas ruas de Teatinos e Morandé, de ambos os lados da Plaza de la Constitución, em direção ao palácio presidencial atirando no gabinete do presidente.

As forças que defendiam o palácio não ultrapassaram 40 homens. O presidente ordena abrir fogo contra os agressores e ele atira pessoalmente nos fascistas que recuam em desordem com inúmeras baixas.

Aproximadamente às 12h começa o ataque da aviação. Os primeiros foguetes caíram no pátio de inverno, que fica no centro do La Moneda, perfurando o teto e explodindo no interior do prédio. Novas ondas de aviões e novos impactos seguem uns aos outros, inundando todo o prédio com fumaça e ar tóxico.

O presidente dá ordens para recolher todas as máscaras de gás. Ele verifica a situação do parque e instiga os combatentes a resistirem firmemente ao bombardeio.

Próximo das 13h30, o presidente sobe para inspecionar as posições do andar superior. Neste momento, numerosos defensores haviam perecido por estilhaços, explosões ou queimados pelas chamas.

O jornalista Augusto Olivares impressionou a todos por seu comportamento extraordinariamente heroico. No mesmo dia 11, por volta do meio dia, nossa embaixada recebeu os primeiros ataques dos fascistas.

Por volta da meia-noite, recebeu o segundo ataque fascista, mas ambos foram energicamente repelidos. Se covarde foi a agressão contra a embaixada, muito mais covarde foi a agressão ao nosso navio mercante que trazia suprimentos de açúcar para o país.

Depois das 13h30, os fascistas tomaram o térreo do palácio. A defesa é organizada no andar superior e o combate continua e os fascistas tentam subir pela escada principal.

Aproximadamente às 12h, conseguem ocupar um canto do andar superior. O presidente estava ao lado de vários de seus companheiros em um canto da Salão Vermelho. Avançando em direção ao ponto de irrupção dos fascistas, ele recebeu um tiro no estômago que o faz se curvar de dor, mas não para de lutar. Apoiando-se em uma cadeira, continua atirando nos fascistas a poucos metros de distância, até que um segundo impacto no peito o derruba e, já morrendo, fica crivado de balas.

Ao ver o presidente cair, membros de sua guarda pessoal contra-atacam energicamente e, mais uma vez, repelem os fascistas até chegarem à escada principal.

Se produz, então, no meio do combate, um gesto de inusitada dignidade. Pegando o corpo inerte do presidente, o conduzem até o seu gabinete, sentam-no na cadeira presidencial, colocam-lhe a faixa presidencial e envolvem-no com uma bandeira chilena.

Fonte: Papiro