Equipe de resgate do Crescente Vermelho à procura de corpos nas áreas inundadas | Foto: Crescente Vermelho

Mais de duas mil pessoas já morreram e dez mil ficaram desaparecidas após a forte chuva ter despencado no nordeste da Líbia e feito que duas barragens ruíssem, fazendo com que a água fluente sobrecarregasse as áreas já inundadas. A falta de investimentos devido à prioridade dos recursos ocidentais para a guerra só agravou a situação, tornando mais vulnerável o conjunto da infraestrutura.

No Norte da África, banhada ao norte pelo mar Mediterrâneo ao norte, a Líbia ficou completamente fragilizada, a tornando dependente de seus vizinhos Egito (leste), Sudão (sudeste), Chade e Níger (sul), e Argélia e Tunísia (oeste).

“O número de mortos é enorme e cerca de 10 mil estão desaparecidos”, declarou Tamer Ramadan, chefe da delegação da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) na Líbia.

A situação é tão dolorosa, revelou o ministro da Saúde, Othman Abduljalil, que somente na cidade oriental de Derna, de 125 mil pessoas, “seis mil pessoas estão desaparecidas”. Ao visitar Derna na segunda-feira (11) descreveu partes significativas dela como “cidade fantasma”. “A situação era catastrófica… Os corpos ainda estão em muitos lugares. Há famílias ainda presas dentro de suas casas e há vítimas sob os escombros”, lamentou.”

“Não estou exagerando quando digo que 25% da cidade desapareceu. Muitos, muitos edifícios desabaram. Os corpos estão por toda parte – na água, nos vales, sob os edifícios”, descreveu Hichem Chkiouat, ministro da Aviação Civil e integrante do Comitê de Emergência criado após as enchentes.

Conforme as autoridades líbias, assim como as cidades de Al-Bayda, Al-Marj, Tobruk, Takenis, Al-Bayada e Battah, e da costa oriental até Benghazi, Berna foi atingida em cheio pelas inundações.

Há muita preocupação de que o socorro venha a ser afetado pelas confrontações políticas que dividem o país após uma década de administrações rivais, uma no Leste e outra no Oeste, motivadas pela sangrenta intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) há cerca de 12 anos.

No dia 20 de outubro de 2011, o líder líbio Muammar Kadhafi, que havia levado sua nação a se tornar a mais rica de toda a África, foi brutalmente assassinado pela Otan. Desde então, o país foi reduzido a escombros e entregue a terroristas, a ponto de hoje continuar dividido, sendo considerado um “Estado falido” e sem as mínimas condições de fazer frente a catástrofes naturais.

De acordo com especialistas, a chuva foi resultado de um sistema muito forte de baixa pressão que causou inundações catastróficas na Grécia na semana passada e se deslocou para o Mediterrâneo antes de se tornar um ciclone de tipo tropical.

“O Crescente Vermelho Líbio não tem capacidade… e os recursos não são suficientes”, desabafou o porta-voz da Sociedade do Crescente Vermelho, Mey Al Sayegh, nesta terça-feira (12), reconhecendo que a organização já perdeu três voluntários na ação de solidariedade

O chefe da autoridade de Emergência e Ambulâncias da Líbia, Osama Aly, disse que no caso do rompimento de uma barragem “toda a água foi para uma área perto de Derna, que é uma área costeira montanhosa”, com as casas nos vales sendo varridas por enormes ondas de lama que carregaram veículos e detritos. A queda das linhas telefônicas complicou ainda mais o resgate, reconheceu, ampliando a magnitude da dor.

O fato, reconheceu Osama Aly, é que “as condições climáticas não foram bem estudadas, os níveis da água do mar e a precipitação [não foram estudadas], a velocidade do vento, não houve evacuação de famílias que poderiam estar no caminho da tempestade e nos vales”.

Resumidamente, assumiu o chefe da autoridade de Emergência e Ambulâncias, “a Líbia não estava preparada para uma catástrofe como esta”. “Eu nunca tinha testemunhado esse nível de catástrofe antes. Admitimos que houve deficiências, embora esta seja a primeira vez que enfrentamos esse nível de catástrofe”, concluiu.

Fonte: Papiro