Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, alertou nesta segunda-feira (4) que a restrição das compras do cartão de crédito parcelado sem juros “seria uma ruptura no crédito e prejudicaria todo o comércio”, denunciou.

“Só existe bar e restaurante se existir um ecossistema nas ruas, é o comércio ativo e vigoroso que enche os restaurantes”, disse Solmucci em entrevista ao Uol, ao destacar que o setor do comércio depende do parcelado do cartão. É o que mantém o “comércio vivo”.

Oposto a limitar a cobrança de juros altos no Brasil, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, quer elevar os ganhos dos bancos ainda mais, ao propor o fim do parcelamento sem juros no cartão, por meio da ampliação de tarifas cobradas na modalidade. Se a proposta vigorar, quem sairia mais prejudicado é o comércio, já que os assalariados de baixa e média renda passarão a consumir menos.

Sobre os juros extorsivos cobrados pelos bancos no cartão de crédito que no rotativo ultrapassam a casa de 430% ao ano, esse sim responsável pela elevada inadimplência dos consumidores, Campos Neto não diz uma palavra.

“Um ecossistema que se autoalimenta, sem o comércio não há movimento nos bares e restaurantes”, ressaltou o presidente da Abrasel.

Em carta enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a entidade defendeu o parcelado do cartão, afirmando que a modalidade é “fundamental instrumento para que o pequeno comércio faça suas vendas e os consumidores façam compras que caibam em seus apertados orçamentos”.

As transações com o cartão de crédito em 2022 representaram cerca de 20% do PIB do país, de acordo com os dados do Banco Central. “Por volta de metade desse volume corresponde ao chamado parcelado sem juros (ou parcelado lojista, porque é o varejista que recebe as parcelas ao longo do tempo): a cada R$ 2 pagos com cartão de crédito no país, cerca de R$ 1 se dá por meio do parcelamento sem juros”, explica a Abrasel.

Somente em junho de 2022, o número de cartões de crédito chegou a 190,8 milhões, o que  representava quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil (107,4 milhões), conforme dados de 2021 do IBGE e das estatísticas do Sistema de Pagamentos Brasileiro.

Os bancos não se pouparam a enxurrar os consumidores com seus cartões – com juros já elevados – para aproveitar o momento em que o Banco Central elevava a taxa de juros básica (Selic) para níveis proibitivos. Agora, diante do elevado nível de inadimplência no país, eles culpam aos trabalhadores, que se endividaram frente ao derretimento da renda – que foi proporcionado pela própria política contracionista monetária do BC, que propõem restrição econômica e o aumento do desemprego no país; e devido ao não reajuste dos salários e a inflação sobre os preços dos alimentos, combustíveis e outras despesas do dia a dia.

“Uma pessoa que sai do médico e precisa gastar R$ 500, R$ 700 em remédio, ela provavelmente terá de parcelar a compra. Sem o cartão, uma parte dos brasileiros não conseguirá fazer compras, nem para o remédio”, argumentou Solmucci, que explica que o parcelado no cartão não é tão comum em bares e restaurantes, mas que a limitação afetaria diferentes segmentos e empresas que utilizam essa modalidade para obter empréstimo.

Uma modalidade de empréstimo que conta como garantia de pagamentos futuros, os chamados recebíveis. Solmucci explica que, no caso das empresas, as vendas parceladas são usadas como capital de giro. “Essa modalidade é muito usada pelos pequenos comerciantes, que podem perder essa garantia de crédito”, denunciou.

Fonte: Página 8