Economista John Ross destaca crescimento chinês frente a todos os países capitalistas centrais | Foto: Reprodução

Frente ao tsunami de previsões de que a China está indo para o buraco, já, já, disse-me-disse que foi reforçado nos dias que antecederam a histórica cúpula de expansão do BRICS, o economista inglês John Ross compilou um demolidor resumo dos respectivos desempenhos econômicos da China, dos EUA e dos demais coadjuvantes do G7 “nos últimos quatro anos, abrangendo o período da pandemia de Covid”.

Nesse período de quatro anos, ele destaca, a economia da China “cresceu duas vezes e meia mais rápido que a dos EUA [sua taxa de crescimento do PIB foi 2,5 vezes maior que a dos EUA], 15 vezes mais rápido que a França, 23 vezes mais rápido que o Japão, 45 vezes mais rápido do que a Alemanha e 480 vezes mais rápido que a Grã-Bretanha”.

Completando a comparação com o G7: “a China cresceu quatro vezes mais rápido que o Canadá e 11 vezes mais rápido que a Itália”.

Colaborador do portal inglês progressista Morning Star Online e integrante da equipe do então prefeito de Londres Ken Livingstone, Ross é também pesquisador do Instituto Chongyang da Universidade Renmin da China. Naturalmente, não é que a China não tenha problemas ou que nada sofra sob a inclemente guerra tecnológica e comercial movida por Washington, mas os números são incontestes.

Ross revela que “o desempenho superior da China em relação aos países capitalistas avançados é ainda maior em termos per capita – uma medida ainda melhor das mudanças na produtividade e do potencial para aumentar os padrões de vida”.

Assim, “o PIB per capita da China cresceu três vezes mais rápido que o dos EUA, cinco vezes mais rápido que o da Itália, 44 vezes mais rápido que o do Japão ou da França e 260 vezes mais rápido que o da Grã-Bretanha – enquanto o PIB per capita caiu na Alemanha e no Canadá”.

O desempenho superior da China mostra o mesmo padrão em relação aos países em desenvolvimento – “o crescimento médio anual do PIB per capita de 4,4 por cento da China compara-se com 2,6 por cento na Índia, 1,3 por cento no Brasil ou 0,9 por cento na África do Sul”.

Neste crescimento econômico o que é importante não são as “estatísticas abstratas, mas o seu significado para a vida real das pessoas comuns”, sublinha Ross. Os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre salários reais, ajustados pela inflação, mostram que até aos últimos dados disponíveis – para a maioria dos países até 2022, e para a Índia até 2021 – “o crescimento anual dos salários reais da China foi de 4,7%”.

“Para a Grã-Bretanha foi de 0,1%; para os EUA foi de 0,3%; na França foi de menos 0,4%; na Alemanha, menos 0,7% e na Índia, menos 1,3%”.

Dado este enorme desempenho econômico superior da China em relação aos EUA e coadjuvantes, no entender de Ross, “qualquer discussão racional que deveria estar tendo lugar nos principais meios de comunicação ocidentais sobre a situação econômica internacional seria: ‘porque é que a economia da China está superando enormemente os EUA e o resto do Ocidente capitalista?’ e ‘que lições podemos tirar da economia socialista da China que está a superar tanto o desempenho do Ocidente?’”

Ross convoca a assim chamada esquerda dos países centrais a avaliar e divulgar a questão de “por que os salários reais estão aumentando 18 vezes mais rapidamente na China do que nos EUA, 44 vezes mais rapidamente do que na Grã-Bretanha, enquanto na França, na Alemanha; ou, na Índia, os salários reais estão caindo?”

Para Ross essa “esquerda internacional” – a expressão é dele – “começou a absorver que a China tirou mais de 850 milhões de pessoas da pobreza definida pelo Banco Mundial em 40 anos – de longe a maior conquista de redução da pobreza na história da humanidade”. Mas – observou – “ainda não internalizou a rapidez com que não só os padrões de vida mais pobres, mas também os médios, estão aumentando na China – muito mais rapidamente do que em qualquer país ocidental”.

“Claro que esta situação econômica real não pode ser discutida nos principais meios de comunicação social, porque as suas conclusões seriam demasiado prejudiciais para o Ocidente capitalista”, registra o economista.

Em vez disso – destaca Ross -, está se desenrolando “um tipo de discussão louca, com as afirmações dos EUA sobre a economia da China a se tornarem cada vez mais bizarras – poder-se-ia dizer perturbadas – à medida que se distanciam cada vez mais da realidade”.

O presidente Joe Biden, por exemplo, fez recentemente um discurso afirmando que a taxa de crescimento econômico da China é “cerca de 2%”, quando era de 5,5% no primeiro semestre deste ano e, como já foi observado, a economia da China está a crescer duas e meia vezes mais rápido que os EUA, assinala o economista inglês.

Ross lembra a disparatada declaração de Biden de que na China “o número de pessoas em idade de aposentadoria é maior do que o número de pessoas em idade ativa”. “Totalmente falso e impreciso face a um número de muitas centenas de milhões de pessoas”, acrescenta o economista.

“A discussão nos meios de comunicação financeiros dos EUA recusa-se igualmente a encarar os fatos reais. Como sou economista, todas as manhãs, depois das notícias gerais, ligo a Bloomberg TV para acompanhar os últimos dados econômicos. A discussão lá é como Alice Através do Espelho – o livro cujo princípio é que tudo é invertido em comparação com o mundo real”, continua Ross.

“Aparentemente, de acordo com a análise da Bloomberg, o crescimento médio anual da China de 4,5% ao ano nos últimos quatro anos é uma economia em grave crise, enquanto os 1,8% dos EUA são alegadamente um crescimento forte”, registra Ross, sem esquecer os “0,1% da Grã-Bretanha”.

“Retórica semelhante, fora de qualquer contato com a realidade factual, permeia o Financial Times, o The Economist ou o Wall Street Journal”.

Como lembra Ross, a esquerda há muito conhece de perto tais “mentiras dos EUA”. Como a alegação completamente falsa de que navios norte-vietnamitas atacaram navios da Marinha dos EUA em 4 de Agosto de 1964 no Golfo de Tonkin, usada para lançar a guerra do Vietnã. Ou, a alegação igualmente falsa, de que o Iraque tinha armas de destruição em massa, para justificar a invasão dos EUA. “São exemplos clássicos”.

Hoje – enfatiza Ross -, “os EUA mentem sistematicamente sobre o estado da China e da sua própria economia porque é crucial para o capitalismo norte-americano impedir que os seus próprios cidadãos, e aliados próximos, compreendam as tendências econômicas reais”.

“É mais uma prova, se fosse necessária, da verdade de que se o mundo real e uma teoria não coincidem, apenas uma de duas coisas pode ser feita. Uma é abandonar a teoria, a outra é abandonar o mundo real”, acrescenta.

“Neste caso, a teoria é que os EUA, por serem capitalistas, deveriam superar a China socialista. O mundo real é o desempenho econômico real – no qual a China continua a superar os EUA e outros países capitalistas por uma margem enorme. Incapazes de abandonar a sua teoria, os EUA são, portanto, forçados a abandonar o mundo real – daí a negação demente do desempenho econômico comparativo, observada no início deste artigo”.

Para Ross, é bastante vergonhoso que alguns setores da esquerda repitam tal desatino – aparentemente acreditando que se incluírem algumas frases de esquerda numa análise retirada da imprensa ocidental, isso constituiria um “comentário socialista”.

Como exemplo, Ross cita artigo da New Left Review que chama a China de “economia zumbi”. “Pode haver algum “zumbi” quando a economia da China cresce entre duas vezes e meia e 480 vezes mais rápido que qualquer grande economia capitalista?”, ele questiona.

“Os dados reais mostram que a realidade é simples. A China superou em muito qualquer economia capitalista ocidental durante mais de 40 anos. Continua a fazê-lo”.

“O resultado na China é, de longe, o aumento mais rápido do mundo nos padrões de vida – não apenas para os mais pobres, mas para toda a população média. É conhecida como a vantagem prática do socialismo. É um fato. Sabemos porque os EUA têm de inventar grandes mentiras sobre isso. Só não há justificativa para que setores da esquerda os repitam”, conclui Ross.

Fonte: Papiro