Foto: Sintaema

Nesta terça-feira (5), foi lançado o plebiscito contra a privatização da Sabesp, do Metrô e da CPTM, reunindo centenas de pessoas na quadra do Sindicato dos Bancários, no centro da capital paulista. A campanha é encabeçada pelos Sindicato dos Trabalhadores da Sabesp (Sintaema), Sindicato dos Metroviários e Sindicato dos Ferroviários. O ato com a participação de parlamentares, das centrais sindicais e diversas entidades do movimento social.

Em sua saudação, José Faggian, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Sabesp (Sintaema), destacou a importância da amplitude do ato para defender as riquezas construídas pelo povo paulista, agora atacadas pelo carioca Tarcísio de Freitas. “Estamos aqui reunidos com um grande número de lutadores de São Paulo, e assim tem que ser. Não é possível que a gente permita que um forasteiro entregue a riqueza e as empresas importantíssimas que o povo de São Paulo construiu. Hoje nós temos no estado de São Paulo um debate sobre o modelo dos serviços públicos essenciais”, ressaltou.

“Esse governador, que veio para nosso estado apenas para fazer campanha para Bolsonaro e acabou eleito, tem uma visão radical de Estado mínimo e está implementando um projeto que contempla os interesses de quem o ajudou a se eleger, de quem patrocinou sua campanha. Esse projeto não é do interesse dos trabalhadores e da população”.

SERVIÇOS ESSENCIAIS

O presidente do Sintaema enfatizou que a Sabesp cumpre um importante papel social. “Nós temos uma empresa como a Sabesp, que presta um serviço essencial à Saúde pública, que presta um serviço de excelência, uma empresa lucrativa e um patrimônio do povo paulista que tem um papel social no estado.” 

“Só na capital de São Paulo atende mais de 4.600 famílias com tarifa social, que faz a política de subsídio cruzado, que permite que 310 dos 370 dos municípios operados pela empresa já tenham seus serviços universalizados. Não podemos permitir que esse governador entre numa empresa como essa. Sabemos que quem precisa dessas empresas é o povo trabalhador, nós sabemos que, se privatizar, o serviço vai piorar e a população será prejudicada. A privatização é um problema para todo o povo de São Paulo. No saneamento, ainda sequestra o direito das Prefeituras e das Câmaras Municipais de decidir o rumo de seu saneamento”, completou Faggian.

“PRIVATIZAÇÃO PIORA A VIDA DO POVO”

A presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, afirmou que o objetivo do governo Tarcísio com as privatizações é transformar as empresas construídas com o suor do povo em fonte de lucro para meia dúzia de empresários. “Esse é um plano muito grave, agressivo e que está nos deixando muito angustiados. Na semana passada os metroviários ficaram impactados com a fala do Tarcísio em Guarulhos sobre o plano de privatização do Metrô. Assim como sei que o pessoal da ferrovia está preocupado com o leilão da linha 7, que está marcado. Assim como o pessoal da Sabesp está angustiado com o governador falando a todo momento que quer privatizá-la.”

Camila enfatizou que o discurso da eficiência dos privatistas, defendido pelo governador Tarcísio, é falacioso e não se sustenta. “O que está em jogo são direitos básicos da população. Porque a privatização da água, do transporte, significa piorar a vida do povo pobre, do povo da periferia, do povo trabalhador. Significa aumentar a tarifa, significa o caos que já está acontecendo nas linhas 8 [Diamante] e 9 [Lilás]. Quando essas linhas eram públicas, eram da CPTM, funcionavam melhor. Quando a linha 5 era pública, funcionava melhor porque a lógica que fazia essas linhas funcionarem era a do serviço público”, lembrou. 

“O que Tarcísio quer é transformar essa linhas num caos, porque ele não está nem aí para o povo do Grajaú que tem que andar nos trilhos quando o trem para, com o pessoal de Itapevi que tem que andar com a porta aberta. Não está nem aí para o preço da tarifa e se privatizar todas as linhas de trem e metrô, não tenham dúvidas, vai aumentar a tarifa e vai tirar o direito do povo se deslocar na maior cidade do país”.

O presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo, Eluiz Alves de Matos, que representa os trabalhadores da CPTM, afirmou que “nós vamos mostrar para esse governo privatista que a população de São Paulo não aceita a privatização de serviços essenciais. Faremos uma grande paralisação, dentro já do próximo mês de outubro. Desde que o esse governo publicou o edital de privatização da linha 7 [Rubi], nós estamos visitando todas as Prefeituras que fazem parte da base dos ferroviários, buscando apoio político contra essa absurda privatização do transporte”.

Eluiz lembrou que o governo Tarcísio contratou um órgão ligado ao Banco Mundial (Bird) – agência multilateral que cumpriu e cumpre um papel destacado na formulação do ideário neoliberal e da privatização de serviços essenciais em todo mundo – para fazer um estudo sobre a privatização das linhas 10 [Turquesa], 11 [ Coral], 12 [Safira] e 13 [Jade] pagando, para isso, mais de R$ 70 milhões. 

“O estudo para a privatização da Sabesp custou aos cofres públicos mais de R$ 40 milhões; do Metrô, que saiu essa semana, mais de R$ 40 milhões. Meus amigos, são mais de R$ 150 milhões jogados no lixo, para fazer estudos sobre a privatização. Mas, ao nosso ver, transporte é direito do cidadão”, disse.

PRECARIZAÇÃO E AUMENTO DE TARIFAS

Renê Vicente, trabalhador da Sabesp e vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), afirmou que “esse plebiscito é a oportunidade que temos de dialogar com a população de São Paulo sobre o nosso ponto de vista, para que a população entenda a necessidade dos serviços públicos de qualidade. Para que a população entenda que as linhas 8 e 9 privatizadas são o retrato da iniciativa privada, a precarização, irresponsabilidade e falta de consideração com povo de São Paulo. Nós temos que demonstrar para a população que precisamos de Metrô público e de qualidade atendendo a população 24 horas por dia”. 

“Precisamos denunciar que Tarcísio colocou o pé no acelerador e quer privatizar a Sabesp, a maior empresa de saneamento do país. Água e saneamento são direitos humanos inalienáveis consagrados na carta da Nações Unidas em 2010. As experiências que temos pelo mundo afora de privatização desses serviços demonstram o quanto a população é afetada. Onde privatizou, a tarifa de água aumentou, o corte do fornecimento de água aumentou e a mais penalizada é a população carente. Só em São Paulo temos a tarifa social que fornece às pessoas em situação de extrema vulnerabilidade 10 mil litros de água ao mês ao preço de R$ 20,40. Essa mesma tarifa no Rio de Janeiro [onde o fornecimento de água foi privatizado] custa R$ 40. É isso que vai sobrar para o povo, o aumento da tarifa, o aumento do corte e a precarização dos serviços”, completou.

O deputado estadual Simão Pedro (PT) defendeu que “aqueles que não sabem governar, não têm compromisso com o povo, só falam em privatizar, só falam em entregar o patrimônio público. É esse o discurso do governo Tarcísio desde o seu primeiro dia. Gasta milhões com estudos fajutos para vender a Sabesp, gasta milhões para vender o Metrô e a CPTM e a gente sabe o que tem por trás disso: o lucro de empresários que querem ganhar dinheiro em cima da água, que não deve ser mercadoria, como temos dito. O Metrô e CPTM são essenciais para os trabalhadores, mas também para nossa juventude que precisa circular. É estratégico, tem que ser estatal, tem que estar sobre o domínio do setor público.”

Representando a bancada feminista do PSOL na Alesp, Simone Nascimento, afirmou que este pode ser o início do fim do governo Tarcísio de Freitas. “Só a luta organizada da classe trabalhadora, nas categorias e nos territórios, pode ser o caminho para derrotar esse projeto privatista no estado de São Paulo. Nós estamos levando, com esse plebiscito, o que já é sentido pela classe trabalhadora: que a privatização da CPTM piorou a vida dos trabalhadores, que a privatização da Sabesp vai fazer com que soframos as mesmas coisas que a população do Rio de Janeiro, água suja e desabastecimento, que a privatização do Metrô vai provocar mais demissões e perseguições dos trabalhadores”, disse Simone.

O vereador Eliseu Gabriel (PSB) afirmou que o que se quer com as privatizações não é aumentar o acesso ou a qualidade do serviço. “No Rio de Janeiro foi privatizada e vimos há poucos dias o estado ficar 4 ou 5 dias sem água, além do preço subir. O que acontecerá com a ViaMobilidade [empresa privada que opera as linhas 8 e 9 da CPTM] com o The Town? Um vexame, a ViaMobilidade parou os trens por 12 horas. Não é para melhorar o serviço, é para tomar conta do Estado.” 

“Para quê?”, continuou o deputado. “Para pegar dinheiro público, é isso que está sendo feito. O Estado brasileiro está sendo solapado, perdendo sua capacidade de fazer política. Quando se privatiza, por exemplo, a Sabesp, o Estado perde o poder de fazer política, de definir quais são as prioridades. É isso que está acontecendo. Privatizaram a Eletrobrás, tentaram privatizar a Petrobrás. É uma tirania do mercado que está sendo colocada em cima do povo brasileiro, em cima do Estado brasileiro”.

Também estiveram no ato representantes das centrais sindicais, de partidos políticos e dos mandatos do deputado federal Orlando Silva (PCdoB) e da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB).

Fonte: Página 8