Desde a queda do governo fantoche de Paris, cresce a pressão pela expulsão das tropas francesas | Foto: AFP

Os nigerinos foram às ruas pelo segundo dia consecutivo neste sábado (2) para exigir a imediata saída dos 1.500 soldados franceses que continuam no país. Após a queda do fantoche Mohamed Bazoum, deposto por um levante militar com amplo apoio popular, o clamor das ruas pela retirada das tropas do ex-colonizador tem crescido.

Segundo relatou o canal de televisão Al Arabiya, participantes do protesto em frente à base militar francesa na capital, Niamei, tentaram retirar a bandeira dos invasores e colocar em seu lugar a da nação africana, mas foram impedidos. Bandeiras francesas foram queimadas.

“Os manifestantes reivindicam a expulsão de todas as tropas francesas”, assinalou a TV Al Arabiya, esclarecendo que os europeus estão registrando todos os veículos que se aproximam do local, buscando manter um enclave militar.

Integrantes do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria depuseram Mohamed Bazoum no dia 26 de julho por “inépcia e contínua deterioração da segurança”. Dois dias depois, o general Abdourahamane Tchiani assumiu a presidência interina do país.

“O novo governo anunciou que deixaria de permitir que a França se apropriasse do urânio do Níger e o governo de Tchiani revogou toda a cooperação militar com o país europeu, o que significa que seus soldados terão de começar a fazer as malas – como fizeram nos vizinhos Burquina Faso e Mali”, afirmou o historiador, editor e jornalista indiano Vijay Prashad. Segundo Prashad, é importante lembrar que uma em cada três lâmpadas na França é alimentada pelo urânio proveniente do campo de Arlit, no norte do Níger, o que torna o país uma fonte de riqueza estratégica.

O ministro da Defesa da França, Sébastien Lecornu alegou que a instabilidade de vários países do continente africano, como o Níger, não pode ser atribuída centralmente à presença militar europeia, mas a interesses econômicos de atores externos.

A FRANÇA E MORTICÍNIO EM RUANDA

Com suas declarações, Lecornu despreza a própria admissão feita em 2021 pelo presidente Emmanuel Macron da “responsabilidade avassaladora” da França no genocídio ocorrido em Ruanda, de abril a julho de 1994. Oficialmente, foram 800 mil mortos em 100 dias, no massacre promovido pela etnia hutu, apoiada na época pelo governo francês. “Só aqueles que conseguiram atravessar a noite podem, talvez, perdoar, nos dar esta dádiva do perdão”, discursou Macron no Memorial Gisozi em Kigali, capital de Ruanda, onde estão enterradas 250 mil vítimas da etnia tutsi.

O jornalista indiano Vijay Prashad apontou que “os EUA têm no Níger a maior base de drones do mundo e ela é fundamental para as operações estadunidenses em todo o Sahel”- faixa de 500 a 700 km de largura, e 5.400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste. “As tropas dos EUA foram instruídas, por enquanto, a permanecer na base, e os voos de drones foram suspensos”, revelou.

Fonte: Papiro