Milícia "Proud Boys" durante a sedição no Capitólio | Foto: Reprodução

Joseph Randall Biggs, chefão da organização fascista norte-americana “Proud Boys”, um dos cabecilhas do assalto e invasão do Capitólio pelas hordas trumpistas em 6 de janeiro de 2021 na tentativa de impedir a certificação da vitória democrata nas urnas, foi sentenciado na quinta-feira (31) a 17 anos de cadeia pelo Juiz Tim Kelly por conspiração sediciosa e conspiração para obstruir um processo oficial. Conforme a sentença, Biggs e os outros Proud Boys faziam parte de uma “turba que derrubou todo um ramo do governo” em 6 de janeiro.

É a segunda mais longa condenação pela violenta invasão do Congresso dos EUA, que causou espanto ao mundo, com as cenas de trumpistas gritando “enforquem Pence” – o vice que não topou entrar no golpe –, policiais espancados e portas arrombadas, senadores e deputados escondidos no escuro, após a multidão ter sido convocada a Washington por Trump e por ele insuflada.

Stewart Rhodes, capo e fundador dos “Oath Keepers”, outra gangue fascista envolvida no ataque, fora anteriormente condenado a 18 anos pelos mesmos crimes. Outro chefão dos “Proud Boys” [“Garotos Orgulhosos”], Zachary Rehl, teve a terceira maior pena, 15 anos.

Promotores argumentaram que Biggs e os outros réus “se posicionaram intencionalmente na vanguarda da violência política neste país” e procuraram mudar o rumo da história norte-americana. Com barras de ferro e sprays químicos, os invasores usaram da força, suplantaram a polícia, invadiram o Congresso dos EUA, ameaçaram jornalistas e congressistas e destruíram muitos objetos de valor histórico. A acusação havia pedido 33 anos de prisão para Biggs. Ele ainda terá de cumprir mais dois anos de liberdade vigiada, após o cumprimento da sentença.

Na hora de enfrentar a cana, já vestido de macacão laranja de presidiário, o capo dos “soldados de infantaria da direita” – é assim que os Proud Boys se descreviam – afinou na hora de ouvir a sentença. Alegou que não era um cara mau e insistiu em que lhe dessem a oportunidade de “levar e buscar a filha na escola”.

Outro que afinou foi o chefe dos Proud Boys da Filadélfia, Rehl, um ex-marine que disse ter deixado a política “consumir sua vida”, fazendo com que perdesse “a noção de quem e o que era mais importante”. Disse que o 6 de janeiro havia sido “um dia desprezível”. “Cansei da política, cansei de vender mentiras para outras pessoas que não se importam comigo”, disse Rehl, na descrição do portal The Hill “fazendo uma pausa no discurso para enxugar as lagrimas e recuperar o fôlego”.

Sobre os vínculos de Trump com o bando fascista, não há como ignorar. Ele exortou os Proud Boys a “recuarem e aguardarem” durante o seu primeiro debate com Joe Biden, depois de ter sido solicitado a denunciar os extremistas de direita, como lembraram os promotores.

No julgamento, Rehl testemunhara que ninguém lhe dissera para atacar o Capitólio ou ferir alguém, e asseverara não ter feito essas coisas, de acordo com a Associated Press. Mas no interrogatório, os promotores apresentaram evidências que o mostravam espalhando spray anti-urso em policiais, depois de ter dito que não se lembrava de ter feito isso, comprovando o perjúrio.

Antes do ataque ao Capitólio, Rehl defendeu o uso de “pelotões de fuzilamento” contra “os traidores que estão tentando roubar as eleições”, de acordo com as evidências do julgamento. Depois disso, ele disse que o ataque foi um “bom começo”, mas que os manifestantes deveriam ter aparecido armados e “[levado] o país de volta do jeito certo”. Na quinta-feira, o juiz Kelly chamou essas declarações de “arrepiantes”.

Um total de 1.129 pessoas foram acusadas criminalmente pela sua participação no assalto ao Capitólio de 6 de Janeiro, com mais de 600 condenações. Trump foi acusado em dois processos criminais ligados às suas ações após perder as eleições de 2020. Um caso federal em Washington acusa o ex-presidente de conspirar para fraudar o resultado das eleições, culminando no ataque ao Capitólio. O julgamento está marcado para 4 de março.

O advogado de defesa de Rehl, Norman Pattis, que reclamou da pena “excessiva”, argumentou que Rehl e outros manifestantes estavam agindo com base nas falsas alegações do ex-presidente Trump de fraude eleitoral. “Eles são culpados de acreditar num presidente que disse que a eleição lhes foi roubada”. Ele questionou sobre porque Trump ainda não foi acusado de conspiração sediciosa também.

Fonte: Papiro