Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), que congrega as entidades representativas dos trabalhadores do setor elétrico nacional, divulgou em seu Boletim artigo denunciando que danos à prestação de serviços, como o apagão ocorrido no último dia 15, que atingiu todos os estados do Brasil, com exceção de Roraima (que não está no Sistema Interligado Nacional), aconteceu devido ao desmonte da Eletrobrás e demissões de quadros técnicos experientes pós-privatização.

O Coletivo afirma que acontecimentos como esse já vinham sendo alertados pelos movimentos de trabalhadores desde a privatização da empresa. Conforme a entidade, no dia do apagão aconteceria o Eletrobras Day. “O evento iria apresentar para os empregados da empresa os investimentos para 2023-2027, mas uma tempestade perfeita obrigou o cancelamento. Em apenas dois dias, o presidente Wilson Ferreira Júnior renunciou e o país inteiro apagou”.

“Após o reacender das luzes, enquanto as causas são apuradas e o debate sobre a privatização da Eletrobrás toma o cenário nacional, entre os movimentos dos trabalhadores e trabalhadoras do sistema elétrico, a sensação é de déjà vu. Desde a privatização da maior empresa do sistema elétrico da América Latina, foram sucessivos alertas sobre o impacto das demissões, a toque de caixa, de quadros técnicos experientes e capacitados”, diz o texto.

O Coletivo afirma ainda que, nos últimos meses, tem relatado o clima de incertezas entre os trabalhadores, com casos de depressão e até atentados a própria vida, em razão da sobrecarga no quadro técnico, descumprimento de regras de segurança e, consequentemente no aumento de acidentes de trabalho, impostos pela gestão da empresa.  

“Subiu a remuneração do alto escalão em até 3.000%. Diminuem, sistematicamente, salários e benefícios das trabalhadoras e trabalhadores”, diz o artigo.

A entidade cita, inclusive, interferência do Ministério de Minas e Energia, que em 20 de julho, solicitou à Eletrobrás que avaliasse a interrupção das demissões de profissionais qualificados, bem como seu reflexo para a prestação de serviços. “Ainda não houve resposta”, denuncia o artigo.

Conforme o texto, “a própria empresa afirmou que, quando dos vandalismos em torres de transmissão, tiveram que retardar a saída de quadros técnicos experientes para lidar com a situação. Apesar de reconhecer a fragilidade, falou mais alto o discurso de redução de despesas com pessoal. Essa é a triste realidade imposta pela privatização inconsequente da Eletrobras”.

O documento questiona ainda o nome que substituirá Wilson Ferreira Pinto na presidência da empresa, Ivan Monteiro. “Apesar de controverso, Wilson Pinto conhece o setor elétrico, o novo presidente conhece de cifras. A política de gestão, baseada em cifras escancarou a fraude das Americanas, será esse o futuro da Eletrobrás?”, diz o Coletivo.

“Urge que o STF se pronuncie sobre a ADI 7.385, de maneira que o Estado possa se manifestar e atuar nos atos de gestão da empresa em que mantém quase 46% das ações. É inadmissível que a sociedade brasileira fique à mercê do mercado financeiro, enquanto, a segurança nacional fica em segundo plano”, cobra a entidade. “A reestatização de grandes empresas do setor de energia mundo afora, como a EDP na França, dá o tom que o Brasil deve seguir, empresas de prestação de serviço essencial devem ser valorizadas e estatais”, defendem os eletricitário.

Fonte: Página 8