Após G20, Lula retoma relações com Havana, antes de encontrar Biden
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma agenda intensa no mês das celebrações da Independência, com viagens a três países – Índia, Cuba e Estados Unidos – e a expectativa por definições da reforma ministerial e dos substitutos do procurador-geral da República, Augusto Aras, e da ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Rosa Weber. No fim deste mês, Lula passará por uma cirurgia no quadril. O presidente sofre de artrose e convive com fortes dores.
A viagem de Lula a Índia, Cuba e Estados Unidos representa uma oportunidade de fortalecer laços internacionais, destacar questões críticas e promover a influência do Brasil em nível global. As reuniões bilaterais e discursos planejados também indicam a importância que o Brasil atribui à cooperação internacional e à busca de soluções conjuntas para desafios globais. Este mês de setembro será decisivo para a agenda do ex-presidente e para o cenário político nacional e internacional.
G20 na Índia
Na quinta-feira (7), em Brasília, Lula participa do desfile de 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil. Ele segue, então, direto para a Índia, onde desembarca em Nova Delhi, a capital do país, para a 18ª Cúpula de chefes de Estado e governo do G20, que acontece em 9 e 10 de setembro. O grupo reúne ministros da Economia e presidentes dos Bancos Centrais de 19 países e da União Europeia. Juntas, essas nações representam cerca de 80% de toda a economia global.
Na ocasião, o Brasil receberá pela primeira vez a Presidência do G20. Lula ficará à frente da instituição de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. O Brasil será responsável por organizar a próxima cúpula, marcada para novembro de 2024, no Rio de Janeiro. Mas também assume a condução no bloco no momento em que o BRICS se expande abrindo novos desafios, a guerra na Ucrânia se prolonga, deteriorando a economia mundial, e a Índia tem animosidades com a China.
Na Índia, Lula vai participar de três reuniões de trabalho do G20 e deve receber líderes de outras nações para reuniões bilaterais. Os temas que discutirá publicamente serão desenvolvimento sustentável, transição energética, mudanças climáticas, preservação ambiental e emissões de carbono, crescimento inclusivo, progresso nos objetivos de desenvolvimento sustentável, educação, saúde, e desenvolvimento liderado por mulheres. Num painel do domingo, entitulado “Um Futuro”, discute as transformações tecnológicas, infraestrutura pública digital, reformas multilaterais e o futuro do trabalho e emprego.
No domingo (10), Lula fará o discurso da cúpula, após receber simbolicamente a presidência do grupo, hoje comandada pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Volta a Cuba
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve desembarcar em Havana, daqui a duas semanas, para sua primeira visita a Cuba neste seu terceiro mandato. Ele participará do encontro do G-77, um grupo de países em desenvolvimento. O evento começa em 16 de setembro.
Lula vai se reunir com o presidente Miguel Díaz-Canel. O encontro marcará a retomada das relações diplomáticas entre Brasil e Cuba, praticamente desfeitas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Em junho, os dois se reuniram em Paris, na França, o que foi celebrado pelo governo como uma “retomada do diálogo”.
Há cerca de 20 dias, o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, viajou para Havana e esteve com o presidente cubano. Em 2022, o comércio bilateral entre Brasil e Cuba totalizou US$ 292,6 milhões, tendo registrado um aumento de 60,3% em relação a 2021. Em 2023, entre janeiro e maio, as exportações, importações e balança comercial registram um superávit para o Brasil de US$ 67,7 milhões.
A situação do povo cubano, devido às sanções aplicadas há mais de 40 anos pelos Estados Unidos, é uma das preocupações do governo Lula. Existe a possibilidade de o presidente brasileiro voltar a defender o fim do embargo americano, para melhorar as condições de vida da população da ilha caribenha, durante sua ida aos EUA.
Com Biden, em Nova York
De Havana, Lula seguirá para Nova York, onde fará o discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), seguindo a tradição do representante do Brasil abrir os debates entre chefes de Estado e de governo.
Na mesma viagem, mas fora da agenda da ONU, Lula deve se reunir com o presidente dos EUA, Joe Biden, no dia 19. Entre as pautas, está a discussão de políticas para incentivar o ‘trabalho decente’, que faz parte da lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU. Os dois líderes “vão lançar uma espécie de manifesto” sobre a necessidade de melhorar as relações trabalhistas, ambiente de trabalho e remuneração.
Biden se afirma como o presidente que mais defende o sindicalismo da história dos EUA, um ponto-chave para sua coalizão para as eleições do ano que vem. Biden recebeu Lula na Casa Branca em fevereiro.
Desafios internos
Lula ainda não definiu as mudanças que fará para incluir na equipe ministerial representantes do PP e do Republicanos. O presidente deseja reforçar sua base de apoio no Congresso Nacional. Ele já anunciou que pretende criar um ministério para pequenas e médias empresas, porém, ainda não oficializou a medida.
Lula tratará ao longo deste mês das escolhas para a PGR (Procuradoria-Geral da República) e o STF. O mandato do atual procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado no governo de Jair Bolsonaro, acaba neste mês. Já a ministra do Supremo Rosa Weber se aposentará de forma compulsória em 2 de outubro, quando completará 75 anos.
(por Cezar Xavier)