Guatemala: vitória da esquerda deve fortalecer integração regional
Se as pesquisas de intenção de voto se confirmarem, o sociólogo e diplomata Bernardo Arévalo deve ser o próximo presidente da Guatemala. O segundo turno das eleições está marcado para domingo (20), e o candidato do Movimento Semente (de centro-esquerda) é o favorito no duelo contra a ex-primeira-dama Sandra Torres, da Unidade Nacional pela Esperança.
Conforme levantamento divulgado nesta quinta-feira (17) pelo jornal Prensa Libre, Arévalo tem 64,9%, contra 35,1% de Sandra, que foi mulher do ex-presidente Álvaro Colom. Essa pesquisa leva em conta apenas os votos validos (descartando brancos, nulos e indecisos). Três dias antes, na segunda (14), sondagem do instituto Gallup apontava uma vantagem de 50% a 32% para Arévalo.
A vitória da esquerda pode ser mais um estímulo à integração sul-americana. Historicamente, a Guatemala é um país sob hegemonia da direita. Em 25 de junho, Sandra saiu em vantagem no primeiro turno, com 21,1% dos votos válidos – Arévalo teve 15,5%. É a terceira eleição seguida em que a candidata vai ao segundo turno. Ao longo dos últimos 20 dias, porém, Arévalo se distanciou nas pesquisas.
Os dois presidenciáveis centram suas campanhas em temas econômicos, visando enfrentar a pobreza e a desigualdade na Guatemala. Para Sandra, a saída para garantir crescimento econômico e geração de empregos é a industrialização do país. Já Arévalo aposta na “economia verde”. Com 90% dos rios do país poluídos, dois terços da população não têm acesso à água potável.
Relatório da Oxfam aponta a Guatemala como um dos países com mais elevados índices de vulnerabilidade do continente. De seus18 milhões de habitantes, 4,6 milhões estão em estado de insegurança alimentar. A crise leva milhares de guatemaltecos, sobretudo jovens, a tentarem emigrar para os Estados Unidos.
Ao lado do combate à corrupção, o discurso ambiental de Arévalo é um fator novo na campanha, que foge até às suas origens – ele é filho do ex-presidente Juan José Arévalo. Segundo Gabriela Carrera, da Universidade Rafael Landívar, a ida do presidenciável ao segundo turno está ligada a “um sentimento antivoto, uma rejeição ao que chamamos de ‘pacto de corrupção’”.
A eleição, da mesma maneira, foi conturbada, com diversos processos abertos pela direita contra a candidatura de Arévalo. A maioria das ações foi movida pelo Ministério Público no primeiro turno. Porém, a dois dias do desfecho da eleição, as chances de mudar seus rumos pela via judicial são cada vez reduzidas.