Conversas com dono da Tecnisa aproximam Aras do calvário bolsonarista
Ponham no radar o nome de Meyer Nigri, fundador e dono da construtora Tecnisa. As investigações sobre os atos golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ganharam mais musculatura após a Polícia Federal ter acesso ao celular do empresário. As conversas de Nigri por aplicativo mostram que partia, sim, de Bolsonaro, uma série de fake news para atacar o Judiciário e pôr em xeque as eleições 2022.
Mas não é só. Se o ex-presidente vive seu calvário, o celular de Nigri aproxima Augusto Aras e a Procuradoria Geral da República (STF) desse caos. A PF concluiu que Aras agiu para tentar barrar uma investigação contra Nigri – e foi o próprio empresário que pediu o socorro do procurador-geral.
As trocas de mensagens apareceram nos portais de notícia entre esta quarta-feira (23) e esta quinta. A CNN mostrou que Nigri integrava, desde abril de 2022, um grupo do WhatsApp com 116 “empresários que debateram a possibilidade de um golpe de Estado caso Bolsonaro perdesse as eleições”. Era para esse grupo que o Nigri repassava mensagens recebidas do contato “Bolsonaro 8”.
De acordo com a CNN, o Judiciário era o principal alvo do ex-presidente, sobretudo o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). “Uma das mensagens dizia que o ministro do STF Luís Roberto Barroso ‘mente’ e que há um ‘desserviço à democracia dos três ministros do TSE/STF’ que faz ‘somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições’”. Bolsonaro admitiu à CNN que enviou a mensagem.
Para a PF, Bolsonaro e Nigri foram parceiros na propagação de fake news. “O ex-presidente Jair Bolsonaro atuava como difusor inicial das mensagens de conteúdo de interesse para a investigação (mensagens de conteúdo falso, ataques às instituições e ao sistema eleitoral)”, concluiu a Polícia Federal. “A análise do material pela PF permitiu verificar a atuação incisiva de Nigri como um dos amplificadores de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas, que originalmente foram encaminhadas por Jair Bolsonaro.
Num desses conteúdos, o ex-presidente diz que “hackers impediram Bolsonaro de ganhar as eleições de 2018 no 1º turno”. Dias depois, novos ataques ao sistema eleitoral: “Bolsonaro envia um vídeo a Nigri em que inicialmente aparece Alexandre de Moraes ratificando a confiabilidade do sistema eleitoral, e posteriormente uma pessoa relata um esquema de fraude nas eleições”. Em outro post, o ex-presidente escreve que “o STF será o responsável por uma Guerra Civil no Brasil”.
A Polícia Federal diz que Nigri repassou essas fake news para diversos grupos no WhatsApp. Segundo a defesa, o empresário “jamais foi disseminador de notícias falsas, mas apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros no aplicativo WhatsApp para fomentar o legítimo debate de ideias”.
Mas há uma troca de mensagens que incrimina ainda mais o dono da Tecnisa. Reveladas pelo UOL, as conversas mostram Nigri solicitando uma ajuda pessoal de Augusto Aras justamente quando se deu conta de que poderia ser investigado e indiciado por conta das mesmas fake news. Segundo o UOL, o procurador-geral da República “disse que iria localizar o processo e, antes de qualquer manifestação nos autos, antecipou seu juízo ao empresário: ‘Se trata de mais um abuso do fulano’”.
De fato, após três semanas, a PGR acionou o STF para tentar suspender a investigação aberta contra Nigri, bem como “uma operação de busca e apreensão já deflagrada pela Polícia Federal por ordem do ministro Alexandre de Moraes”. Para a PF, Nigri articulou uma rede de contatos na PGR e a usava para “obtenção de proximidade e de facilidades”. O empresário chegou a se reunir com a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo.
As revelações sepultam as chances (que já eram escassas) de Aras ser reconduzido à PGR pelo presidente Lula. Mais do que isso, há material de sobra para embasar processos disciplinares contra o atual procurador-geral da República – e talvez para envolve-lo em investigações contra Bolsonaro. Sua situação é grave.