Monumento em Prokhorovka em homenagem aos que lutaram contra os nazistas na Batalha de Kursk | Foto: Forden/Shutterstock

Em meio à guerra por procuração dos EUA/OTAN contra a Rússia na Ucrânia, a Rússia comemorou no dia 23 os 80 anos da decisiva vitória na batalha de Kursk, a maior batalha de tanques da história, cujo significado, nas palavras do presidente Vladimir Putin, “não pode ser subestimado: ela destruiu, incinerou o poder de ataque dos nazistas, completou o ponto de virada de toda a Segunda Guerra Mundial”.

“Hitler planejou se vingar de Stalingrado aqui, esperando pela força de suas divisões de tanques, pelas formações SS – que elas rompessem a frente e novamente lançassem uma avalanche para o leste”, apontou Putin, mas “foram recebidos com resistência férrea dos nossos soldados e comandantes, combatentes do Exército Vermelho endurecidos pela batalha”.

“O ataque nazista falhou. Eles foram detidos e levados de volta ao seu colapso já inevitável, inevitável, porque nenhum ‘tigre’, ‘pantera’ e outros espíritos malignos, outras ‘bestas-feras’, poderiam quebrar a força de espírito do soldado soviético”, sublinhou o presidente russo.

“A Batalha de Kursk durou quase dois meses. Seu evento principal foi uma batalha de tanques em grande escala perto de Prokhorovka. Lá, centenas de tanques convergiram para um setor estreito da frente. O chão estava literalmente pegando fogo embaixo deles”.

“Nunca esqueceremos quão ferozmente os tanquistas, a infantaria, os pilotos, os sapadores, os artilheiros, todos os que lutaram pela vitória no Arco de Fogo esmagaram o inimigo. Entre eles estavam moradores de aldeias próximas, mulheres, adolescentes, que também fizeram o que parecia impossível. Em quase um mês, sob fogo inimigo, construíram 95 quilômetros de ferrovia, e a entrega de equipamento militar e munições ao campo de batalha tornou-se duas vezes mais rápida”, relatou Putin.

Ao iniciar a comemoração, Putin felicitou “todos os cidadãos da Rússia” e, em primeiro lugar, “nossos queridos veteranos e, claro, com um sentimento especial – os residentes das regiões de Kursk, Belgorod, Oryol e Voronezh”.

“Foi nestes territórios, nos seus inúmeros campos, florestas, elevações, que aconteceram as batalhas do heroico Arco de Fogo, que permanecerá para sempre um dos pináculos da grande façanha nacional”. Em sua homenagem – ele acrescentou -, aqui, na aldeia de Ponyri, é inaugurado um grandioso memorial Batalha de Kursk.

ARCO DE FOGO EM PROKHOROVKA

Kursk fica a cerca de 450 km a sudoeste de Moscou e conta atualmente com 500 mil habitantes. A Batalha de Kursk, também conhecida como a Batalha do Saliente de Kursk, durou 50 dias, de 5 de Julho a 23 de Agosto de 1943. Em torno desta cidade, entre as forças armadas da Alemanha nazista – apoiadas por tropas da Itália fascista de Mussolini e dos países dominados pela Alemanha – e as forças armadas da União Soviética, que tinha sido invadida pela Alemanha em 22 de Junho de 1941.

Kursk foi a batalha que confirmou a virada estratégica da guerra na Frente Leste entre a Alemanha hitlerista e a União Soviética, iniciada com a vitória em Stalingrado e rendição do general von Paulus.

O confronto de Prokhorovka a que Putin se referiu ocorreu em 12 Julho de 1943, envolvendo o maior número de tanques da história, 600 de cada lado, segundo o relato do marechal Vassilievsky, que no relatório de 14 de julho de 1943 para o Comandante Supremo Stalin diz sobre o “combate titânico”: após uma hora de confronto “o terreno ficou coberto de tanques em fogo”.

Depois da derrota da Wermarcht em Stalingrado em 2 de fevereiro de 1943, o Exército Vermelho empurrou para oeste as forças invasoras, fazendo um saliente de cerca de 400 km de largura em torno da cidade de Kursk, numa linha de frente geral de perto de 2.000 km, desde Leningrado ao Norte, na margem do mar Báltico, até ao Mar Negro, no Sul da Rússia.

Para a “Operação Cidadela”, a Alemanha de Hitler reuniu 900.000 combatentes, o maior número de forças terrestres e aéreas de que podia dispor, na expectativa de cercar e dizimar o conjunto de exércitos soviéticos concentrados no saliente de Kursk, cujos efetivos ascendiam a 1.000.000 de combatentes, visando reverter o rumo da guerra demarcado em Stalingrado.

Incluindo as reservas, participaram ao longo da batalha, pelo lado nazi, 1.514.000 militares e do lado soviético 2.640.000. As forças envolvidas ultrapassaram, assim, os 4 milhões de combatentes.

Do lado soviético, a coordenação geral das frentes no terreno era feita pelo Marechal Jukov, adjunto de Stalin, e pelo marechal Vassilievski, Chefe do Estado Maior General do Exército Vermelho. Vassilievski considerou que esta batalha se desdobrava em três grandes operações estratégicas: a operação defensiva perante o ataque alemão e, como resposta, a operação ofensiva do Exército Vermelho na direção da cidade de Orel, a norte de Kursk, e a operação ofensiva que tem como primeiro alvo as cidades de Belgorod e Kharkov, a sul do Saliente.

O ataque alemão foi concebido como um ataque em tenaz, para cercar e aniquilar a concentração de forças soviéticas no interior do Saliente. A partir do norte, pelo Grupo de Exércitos Centro, numa frente de 50 km, comandados pelo marechal de campo Kluge, em 5 de Julho, a que se opôs a Frente Central dos exércitos soviéticos comandada pelo general Rokossovski, vitorioso a 10 de Julho.

A partir do Sul, em simultâneo, numa frente de 80 km, pelo grupo de Exércitos comandados pelo marechal alemão Manstein a que se opôs vitoriosamente o marechal Vatutin no comando da Frente de Voronez.

A Batalha de Kursk foi a primeira vez na Segunda Guerra Mundial em que uma ofensiva estratégica alemã foi frustrada antes que as linhas do inimigo fossem rompidas. Os alemães não avançaram mais do que 8–12 km no norte e 35 km no sul. Os soviéticos haviam estendido suas linhas de defesa por mais de 300 km em profundidade, que incluíam campos minados, fortificações, zonas de artilharia e pontos de armas anti-tanques bem estabelecidas, e preparado forças de reserva.

Em última instância, a batalha estava decidindo a sorte da Alemanha nazista. Com a vitória no Saliente de Kursk, o Exército Vermelho ganha, sem mais a perder, a iniciativa estratégica rumo a Berlim, confirmando os resultados da vitória de Stalingrado, ao fim de dois duríssimos anos, iniciados com a invasão alemã, em 22 de Junho de 1941.

Enquanto a Batalha de Kursk foi decidida em 50 dias, foram sete meses de combate em Stalingrado e em Moscou, e dois anos de cerco e batalha de Leningrado, que continuaria até 1944.

Na URSS, de Junho de 1941 a Junho de 1943, a Alemanha hitlerista perdeu 4.130.000 homens entre mortos, feridos, doentes e desaparecidos. Foram mortos mais de 1.000.000 de alemães, romenos e italianos. 72% das forças de Hitler estavam na frente oriental.

No verão de 1943, as tropas de Hitler atingem os 10.300.000 combatentes, dos quais 6.682.000 em campanha e, destes, 4.800.000 na frente oriental; mais meio milhão de soldados dos paises subjugados. Registre-se que, para atingir esse máximo de forças, Hitler mobilizou em 21 de Janeiro de 1943 todos os alemães dos 16 aos 65 anos de idade, enquanto 6.300.000 operários estrangeiros e prisioneiros de guerra eram submetidos a trabalho forçado na Alemanha para manter a economia de guerra.

Em tempo: na muito badalada batalha de El Alamein, de 23 de outubro a 2 de novembro de 1942, o total de combatentes envolvidos dos dois lados foi de 310 mil – menos de 10% das forças que se confrontaram em Kursk.

TANQUISTAS CONDECORADOS

Em sua ida a Kursk, “a lendária terra de Kursk”, como se referiu o presidente Putin, o líder russo fez a entrega aos “nossos heróis”, os militantes participantes da operação militar especial [de desnazificaçao e desmilitarização do regime de Kiev], que, afirmou, merecem “a glória dos heróis do Saliente de Kursk – aqueles que lutaram contra os nazistas no verão de 1943”.

“Todo o peso da luta hoje, como nos anos da Grande Guerra Patriótica, recai principalmente sobre nossos soldados, sobre aqueles que estão na linha de frente: sargentos, pelotão, companhia, comandantes de batalhão, fuzileiros e sapadores, reconhecimento e sinaleiros, tripulações de tanques e máquinas de combate, artilheiros e pilotos”, afirmou Putin. “Todos os nossos lutadores lutam com bravura e decisão. A devoção à Pátria, a lealdade ao juramento militar unem todos os participantes da operação militar especial”.

Os tanquistas Alexander Sergeyevich Levakov (tenente) e Philip Alexandrovich Evseev e Alexei Mikhailovich Neustroev (cabos) foram agraciados com as estrelas douradas de Herói da Rússia, pela façanha, que parecia impossível, contra forças inimigas superiores, derrotando-as e salvando seus camaradas, cujo tanque foi atingido. Também recebeu o título de Herói da Rússia o Tenente Rasim Rashidovich Baksikov. A Medalha “Pela Coragem” foi concedida ao Cabo Ilya Vadimovich Gavrilov, operador de drone, que usando corretamente o dispositivo localizou o inimigo e ajustou com precisão o fogo de nossa artilharia, em interação com a tripulação do tanque.

E concluindo: “Mais uma vez, do fundo do coração, parabenizo todos os cidadãos da Rússia pelo 80º aniversário da vitória na Batalha de Kursk, no Saliente de Kursk!”

Fonte: Papiro