Fernández: "Entrar no BRICS faz parte do interesse nacional da Argentina" | Vídeo

Em resposta ao convite feito pela Cúpula de Johannesburgo dos BRICS para ingresso no bloco, o presidente argentino Alberto Fernández sublinhou na quinta-feira (24) que os BRICS “são uma nova oportunidade para a Argentina” e que fazer parte do grupo “fortalece a Argentina”.

Também foram convidados a ingressar, a partir de 1º de janeiro de 2024, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Irã e Etiópia. Cerca de 70 países manifestaram sua disposição em engrossar as fileiras dos BRICS e 15 se candidataram a integrar o Novo Banco do Desenvolvimento, ligado ao bloco.

“Vamos ser protagonistas de um destino comum num bloco que representa mais de 40% da população mundial”, destacou o presidente argentino, em mensagem à cúpula dos BRICS desde a Quinta de Olivos.

“A nossa entrada no BRICS é um objetivo coerente com a nossa busca de projetar o nosso país como um interlocutor-chave e um potencial articulador de consensos em colaboração com outras nações”, reiterou Fernández.

“Queremos fazer parte dos BRICS porque o difícil contexto global confere ao bloco uma relevância singular e faz dele uma importante referência geopolítica e financeira, embora não a única, neste mundo em desenvolvimento”, insistiu o presidente argentino.

“Fazer parte dos BRICS nos fortalece e não exclui outras instâncias de integração, e muito menos a orgulhosa adesão argentina ao sistema multilateral das Nações Unidas”, acrescentou.

“Iniciamos o processo de adesão aos BRICS na convicção de que se tratava de uma plataforma política e econômica necessária face a um mundo instável e injusto, onde os países com economias emergentes exigem níveis mais elevados de integração”, descreveu Alberto Fernández.

“A nossa intenção surge dos nossos interesses nacionais: aumentar a capacidade da nossa exportação para os países membros e fortalecer as nossas oportunidades comerciais com os países que mantêm relações de segunda ordem com os países membros dos BRICS”, enfatizou.

Fernández garantiu que ingressar no grupo de economias emergentes que congrega Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul representa “uma nova oportunidade” para o país. “Queremos aproveitá-lo para o bem dos argentinos e especialmente daqueles que mais precisam. É o coração da nossa política externa, a projeção para o mundo de um povo pacífico, amigável, realista e digno”, disse ele.

Outro aspecto em que a Argentina sai fortalecida com a adesão aos BRICS é quanto à questão das Malvinas, sob ocupação do Reino Unido. Fernández lembrou que os países membros do bloco apoiam a Argentina na reivindicação de soberania sobre as Ilhas Malvinas.

“Também não é pouco sublinhar que a pretensão argentina de resolver a disputa de soberania da Questão das Malvinas tem neste fórum países que acompanham uma resolução pacífica e negociada, conforme preveem diversas resoluções da Assembleia Geral das Nações Unida”, disse Fernández.

NOVO CAPÍTULO

“Com esta cúpula, os BRICS iniciam um novo capítulo”, disse o anfitrião, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. O presidente brasileiro, Lula da Silva, deu as boas-vindas aos novos membros no Twitter e dedicou “uma mensagem especial” ao presidente argentino, chamando-o de “grande amigo do Brasil e do mundo em desenvolvimento”. Por seu lado, o Presidente chinês, Xi Jinping, disse que as discussões levaram a uma “expansão histórica” do grupo que prevê um “futuro radiante para os países” que o compõem.

Em outro aspecto, o ingresso nos BRICS é muito relevante: no duro manejo do acordo com o FMI, herança maldita do governo Macri, que vem sangrando a Argentina e empobrecendo o país. No período mais recente, foi a ajuda da China que possibilitou o país se manter à tona.

Já dois candidatos às eleições de outubro/novembro, o fascista Javier Milei e a macrista Patrícia Bullrich, adeptos da volta às “relações carnais” com Washington, vistas durante o desastre menemista dos anos 1990, repeliram o convite do BRICS.

Como registrou o jornal argentino Página 12, a tendência do comércio exterior argentino na última década mostra uma clara orientação para a América Latina e o bloco asiático e, acrescenta, “nas questões comerciais, o olhar deve ser pragmático em primeiro lugar, não sujeito a crenças ideológicas ou religiosas”.

“Os cinco países que compõem o BRICS representam 30% das exportações argentinas. Além disso, segundo dados do comércio exterior fornecidos pelo Instituto Nacional de Censos e Estatísticas (INDEC), de um total de cerca de 170 bilhões de dólares em 2022, 63% do comércio argentino foi com os países do Mercosul, América Latina, China, Sudeste Asiático e o Oriente Médio: Mercosul: 35,3 bilhões de dólares. China: 25,5 bilhões de dólares. ASEAN (Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Singapura, Tailândia e Vietname), Índia, Médio Oriente, Magreb e Egito, resto da América Latina: 45,8 bilhões de dólares”.

DOIS TERÇOS DO COMÉRCIO ARGENTINO

“Ou seja, Mercosul e China representam juntos um comércio de 60,9 bilhões de dólares, 35% do comércio do país. E se somarmos o resto da América Latina, a Asean, a Índia, o Médio Oriente e o Magreb e o Egito, a soma é de 106,7 bilhões de dólares, 63% do total”.

“O comércio com a USMCA (Estados Unidos, México e Canadá) foi de 21,2 bilhões de dólares. Com a União Europeia foram 21,9 bilhões de dólares. Ou seja, a soma destes dois blocos, 43,2 bilhões de dólares, representa apenas 25% do comércio argentino”.

O Página 12 destaca, ainda, que “o problema com os EUA é que somos economias não complementares: não podemos vender soja, milho, trigo, carne, porque são os mesmos produtos que os EUA comercializam”. E com a UE temos “um problema estrutural: Bruxelas bloqueou o acordo com o Mercosul devido às tendências protecionistas em relação aos seus próprios produtores agrícolas”.

“Por isso o importante é a tendência: segundo o site Checked, em 2022 as vendas para os EUA representaram 8,9% do total (6,6 bilhões de dólares), quase metade do que em 1990 (17,35%)”.

Pelo contrário, o comércio com a China, o Sudeste Asiático, a Índia e o Médio Oriente só cresce: entre 2012 e 2022 “as exportações argentinas para a China aumentaram 46,1% enquanto as importações aumentaram 75,4%. O intercâmbio comercial cresceu 65%, embora o déficit comercial tenha crescido 111%”, segundo o jornal El Economista.

“As exportações com a ASEAN cresceram 74,8% e com a Índia 269%. Juntas, as exportações para a China, ASEAN e Índia passaram de representar 13,8% das exportações argentinas em 2012 para 23,1% em 2022”.

A conclusão é que é inegável que a Argentina “tem, além dos diferentes sinais políticos, uma crescente integração comercial com o bloco asiático baseada na complementaridade dos perfis produtivos com os desta megaregião”.

“Para além de outras considerações estratégicas, a inclusão da Argentina no Grupo BRICS, que se apresenta como uma alternativa ao unilateralismo e às imposições do FMI e da UE, e que abre um amplo mundo de possibilidades para a economia argentina, é uma medida no sentido que melhor se adapta ao país”.

Como apontou o articulista Martin Granovsky, “para quatro províncias, o principal parceiro comercial e primeiro destino das vendas externas é o Brasil. Para oito províncias, a China. San Juan e Santa Fé têm um parceiro comercial importante na Índia. 30% das exportações argentinas vão para os BRICS. A menos que a proposta seja o suicídio coletivo de um país, qual seria a razão prática para não elevar o nível das relações com 42 por cento da população mundial e um quarto do PIB global?”.

Fonte: Papiro