Cientistas, professores e estudantes diante do Ministério da Ciência e Tecnologia | Foto: Reprodução

Milhares de cientistas, pesquisadores, professores e estudantes universitários se manifestaram, na sexta-feira (18), diante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MINCyT) no bairro de Palermo, em Buenos Aires, para apoiar políticas públicas de desenvolvimento do conhecimento, diante das declarações do candidato presidencial Javier Milei que propôs o fechamento dessa pasta e privatizar o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet).

“Isto não é corporativo, não estamos aqui só para defender os cientistas, mas para defender a Argentina”, disse o ministro Daniel Filmus, erguendo uma faixa: “Não ao fechamento do Conicet”.

“Estamos orgulhosos dos pesquisadores argentinos e prometemos continuar trabalhando por mais ciência a serviço do país”, declarou.

“A simples ideia de que um país pode se desenvolver sem ciência é de uma enorme ignorância, principalmente quando o mesmo personagem que faz a proposição dá exemplos de países cujos Estados são aqueles que investem mais em ciência e tecnologia. Por isso nós, cientistas, viemos neste dia apontar que não é possível que um país cresça sem promover o conhecimento”, afirmou Filmus, denunciando as declarações de Milei, candidato que disputará as eleições com o peronista Massa e a macrista Bulrich, de acordo com os resultados das recentes Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO).

Milei disse em entrevista à TV que, se eleito privatizará o órgão de pesquisas científicas para que seus associados ganhem “o pão com o suor do rosto”.

CIENTISTA DENUNCIA BARBÁRIE

Por sua vez, a chefe do Conicet, Ana Franchi, assinalou: “Milei concebe um país onde não somos necessários. E eu o entendo porque se você só está interessado em um país para poucos baseado na exportação de matérias-primas, o investimento em Ciência torna-se um gasto desnecessário, mas se pensarmos em um país que está inserido em um mundo que precisa cada vez mais de desenvolvimento científico e tecnológico, de indústria independente, em que as principais potências não param de aumentar seus investimentos em conhecimento, o que este candidato está propondo é uma barbaridade”.

“Isto é um déjà vu, sim, mas sobrecarregado. O ex-presidente Macri chegou mentindo e dizendo que tudo que o kirchnerismo tinha feito era terrível, incluindo menos ciência e tecnologia. Mas, desde o primeiro dia de governo, ele se dedicou a devastá-las, sendo que na campanha que ele fez não prometeu fechar nada”, disse Diego Hurtado, secretário de Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação do MINCyT, evocando o primeiro encontro da comunidade científica nesse mesmo local, no final de 2016.

“2015, durante o mandato de Cristina Kirchner, foi outra Argentina, onde a ciência e a tecnologia mostraram um poder sem precedentes, com grandes conquistas que acompanharam um projeto de país, com expansão e redistribuição. Hoje não estamos nessa situação. Este governo, do qual me considero parte, decepcionou as expectativas do campo nacional e popular, e uma autocrítica se faz necessária. Mas também é verdade que muito se fez em ciência e tecnologia nestes anos, e isso tem que ser valorizado pelos argentinos”, concluiu.

Com faixas e legendas como: “A ciência não é cara, cara é a ignorância”, “Ciência é soberania”, “Ciência é desenvolvimento tecnológico”, “A ciência argentina faz e sempre a defenderemos”, “Ciência é futuro”, “Ciência é cuidar dos recursos naturais”, entre outras, participavam, na multidão, pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), que trabalham em soluções biotecnológicas para aumentar o rendimento da produção agrícola, em confraternização com cientistas da Comissão Nacional de Energia Atômica (Cnea) e os que desenvolvem tecnologias para energias renováveis.

“Esse ataque à ciência é perigoso, mas é o epifenômeno de algo muito maior. Há um candidato que vem para destruir nosso substrato de solidariedade social, e propor que cada um se vire como pode. Essas técnicas de apelo ao individual, a cada um por si, já foram utilizadas na história, e o resultado foi o fascismo”, alertou o biólogo molecular Alberto Kornblihtt, professor emérito da Universidade de Buenos Aires, em diálogo com o jornal Página/12.

Engenheiros da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (Conae) comentavam o andamento das missões de satélites que, entre outras coisas, facilitam o plantio de precisão, com pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI) que atuam na transferência de desenvolvimento científico para pequenas e médias empresas argentinas.

A manifestação contou ainda com o apoio de diferentes espaços sindicais que têm representação no campo científico, como a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE), o Sindicato do Pessoal Civil da Nação (UPCN), ou a Federação dos Docentes Universitários (Fedun). Outros espaços sindicais também estiveram presentes, como o que representa os distribuidores de aplicativos, o Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Lanús (STML) e o Sindicato da Imprensa de Buenos Aires (SiPreBA).

A manifestação terminou com todos os presentes cantando o Hino da Argentina, enquanto os motoristas que passavam pela região buzinavam expressando sua solidariedade com os cientistas.

Fonte: Papiro