Maria Bernadete. Foto: Conaq

A ialorixá Maria Bernadete Pacífico, líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Bahia, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17). Segundo relatado, criminosos invadiram o terreiro de candomblé da comunidade, fizeram familiares de reféns e a executaram. A morte brutal repercutiu pelo país e autoridades federais e estaduais estão acompanhando o caso. 

Maria Bernadete foi secretária de Promoção da Igualdade Racial do município, localizado na Região Metropolitana de Salvador. Em 2017, seu filho Binho do Quilombo também foi assassinado. 

Pelas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou seu “pesar e preocupação”, se solidarizou com familiares e disse que “o governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso”. 

Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos afirmou que o ministro Silvio Almeida determinou o envio das equipes ao local “para que todas as providências necessárias sejam tomadas” e disse esperar que “as autoridades consigam com celeridade encontrar os culpados e que esses sejam punidos com o total rigor da lei”. 

Além disso, o ministério apontou que “o ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não é pontual. Mãe Bernardete — defensora de direitos humanos, mãe de vítima de violência, política e yalorixá — tinha muitas lutas, e a luta pela liberdade e direitos para todo o povo negro e de terreiro tranversalizava todas”. 

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, declarou ter determinado o deslocamento de policiais civis e militares e o empenho de secretarias da Justiça e Direitos Humanos; Promoção da Igualdade Racial; Segurança Pública; e Assistência e Desenvolvimento Social no caso. “Não permitiremos que defensores de direitos humanos sejam vítimas de violência em nosso estado”, destacou. 

Da mesma forma, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia se manifestou dizendo: “Fica aqui o compromisso do Governo do Estado na apuração desse crime brutal e a nossa solidariedade aos amigos, amigas, familiares e à comunidade do Quilombo de Pitanga dos Palmares”. 

O PCdoB da Bahia também repudiou o crime e emitiu nota na qual lembra que “há anos, Mãe Bernadete vinha denunciando as violações de direitos resultantes dos conflitos de terra existentes no território. Ela também cobrava, insistentemente, investigações sobre o assassinato de seu filho, Binho do Quilombo, ocorrido em setembro de 2017 e que até hoje está sem respostas”. 

Diz, ainda, que no dia 27 de julho deste ano, “a vítima participou de um encontro com autoridades nacionais, quando voltou a denunciar os problemas da comunidade, bem como a perseguição que vinha sofrendo. Na ocasião, estavam presentes a então presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Rosa Weber, e representantes do Ministério da Justiça”. 

Para Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Bernadete foi assassinada pelo mesmo grupo responsável pela execução de Binho. “Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho tava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada. Muito triste para nós”, lamentou. 

O Quilombo Pitanga dos Palmares é formado por cerca de 289 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.

De acordo com a Rede de Observatórios de Segurança, a Bahia é o segundo estado do Brasil com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais, com 428 vítimas entre 2017 a 2022, ficando atrás apenas do Pará. 

Com informações da Agência Brasil