Só faz sentido país crescer se a riqueza for distribuída, diz Lula
Diante de uma Esplanada dos Ministérios lotada por mais de 100 mil pessoas, a grande maioria mulheres, no encerramento da Marcha das Margaridas nesta quarta-feira (16), o presidente Luiz Inácio da Silva e ministros anunciaram medidas voltadas especialmente às brasileiras do campo, das florestas e das águas. Lula também defendeu a igualdade, rechaçou o machismo e a violência e destacou: “Só faz sentido um país crescer se a riqueza desse crescimento for distribuída e chegar às mãos de vocês, para fazer a roda da economia girar e melhorar a vida das pessoas”.
Dirigindo-se aos “poderosos, fascistas e golpistas”, Lula disse que eles “jamais evitarão a chegada da primavera”. E completou afirmando: “só pensa em dar golpe, no dia de hoje, quem não conhece a capacidade de luta dos homens e das mulheres deste país”.
Em referência a algumas das ações anunciadas em resposta às demandas da Marcha — levadas ao governo por suas organizadoras no dia 21 de junho —, o presidente destacou a retomada da reforma agrária com atenção especial às famílias chefiadas por mulheres; os Quintais Produtivos; o estímulo à agroecologia e o acesso à terra, à titulação, ao crédito e a equipamentos. “Foram prioridades definidas por vocês, demandas que temos o prazer de atender para que as mulheres do campo, das florestas e das águas possam viver com dignidade, tendo assegurado os seus direitos civis, políticos e sociais”, completou.
Lula salientou, ainda, que “o Brasil voltou; voltou para dar atenção à mulher do campo e cuidar das brasileiras e dos brasileiros que mais precisam; o Brasil voltou com a ajuda das mãos de cada uma de vocês”.
Após falar sobre as prioridades do governo, voltadas à superação das desigualdades, o presidente salientou a luta contra a violência e o preconceito que atingem a fatia feminina da população. “É preciso criar uma cultura de respeito no campo e nas cidades. Não toleraremos mais discriminação, misoginia e violência de gênero. Não podemos conviver com tantas mulheres sendo agredidas e mortas diariamente dentro de suas casas, como também não é possível achar normal que, exercendo uma mesma função, uma mulher ganhe menos que o homem”.
A mulher, disse, “não é e não pode ser tratada como cidadã de segunda categoria. Vocês são protagonistas da história e podem fazer suas escolhas”.
Golpe e retrocessos
Ao lembrar da interrupção, pelo golpe de 2016, do projeto de país que vinha sendo construído desde seu primeiro mandato, Lula pontuou que naquele momento “ninguém podia imaginar que o Brasil pudesse retroceder tanto, sair do trilho da inclusão, destruir políticas voltadas para os mais pobres e entrar de novo no mapa da fome”.
O presidente acrescentou que “nenhum de nós poderia imaginar que o Estado poderia fechar totalmente os olhos para as demandas dos que mais precisam, ou pior, que voltaria a usar toda a sua força para perseguir nosso projeto de um país inclusivo com justiça social”.
E, lembrando do assassinato, em 1983, da militante do campo que inspirou a marcha, Lula argumentou que “foi esse mesmo tipo de perseguição que há 40 anos tirou a nossa querida Margarida Alves, uma nordestina à frente do seu tempo. Essa mulher que foi morta a tiros na porta da sua casa por defender o básico que todo trabalhador e trabalhadora deveria ter: carteira assinada, férias, 13º, jornada de trabalho de oito horas diárias. Margarida é símbolo dessa marcha e de muitas lutas, inspiração para tantas outras mulheres que seguem resistindo e lutando por um mundo melhor, sendo, ainda vítimas de tanta violência”.
O presidente também fez um breve balanço de algumas das ações dos primeiros sete meses de seu governo que incidem especialmente na vida das mulheres do campo, das florestas e das águas, citando a volta do Plano de Aquisição de Alimentos, o Plano Safra da agricultura familiar; as linhas de crédito exclusivas com juros menores no Pronaf Mulher; o Bolsa Família; o Minha Casa, Minha Vida; o Luz para Todos; o Mais Médicos; a Farmácia Popular e a construção de cisternas, entre outras.
Lula também destacou o aumento real do salário mínimo e da merenda escolar, que há seis anos não era reajustada. “O resultado desse conjunto de ações já é visível. O preço dos alimentos está caindo, o desemprego também cai. O Brasil já está melhor, e vai melhorar ainda mais. A economia vai continuar crescendo e vamos dividir o resultado desse crescimento com o povo brasileiro”, declarou.
Por fim, Lula afirmou: “a única razão pela qual eu voltei a ser presidente da República, tirando aquele fascista, aquele genocida do poder, foi provar a este país e ao mundo que o Brasil tem condição de tratar o seu povo com respeito, de melhorar a vida de vocês, de cuidar da saúde das nossas crianças, dos trabalhadores, das mulheres. Eles têm que saber que filho de agricultor vai sim entrar na universidade e vai virar doutor”.
Entre os ministros presentes estavam Cida Gonçalves (Mulheres), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Nísia Trindade (Saúde), Marina Silva (Meio Ambiente), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Simone Tebet (Planejamento), Ana Moser (Esporte), Anielle Franco (Igualdade Racial), Margareth Menezes (Cultura), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Márcio Macedo (Secretaria Geral da Presidência), Flávio Dino (Justiça), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Luiz Marinho (Trabalho), Camilo Santana (Educação), Jader Barbalho Filho (Cidades) além da primeira-dama, Janja e outras autoridades, parlamentares e lideranças dos movimentos sociais, entre os quais a secretária de Mulheres da Contag, Mazé Morais e o presidente da Contag, Aristides Santos.