Margaridas vão ocupar Brasília pela reconstrução do país e pelo bem-viver
Com a previsão de reunir mais de 100 mil pessoas, a 7ª Marcha das Margaridas — considerada a maior ação política de mulheres na América Latina — acontece nos dias 15 e 16 em Brasília. O evento tem como lema “Pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem-Viver” e deverá contar com participantes do Brasil e de outros países. A expectativa é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja no ato no último dia e que sejam feitos anúncios relativos à pauta entregue pelas organizadoras em junho.
Coordenada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), pelas federações e sindicatos filiados e por 16 organizações parceiras, a Marcha acontece a cada quatro anos desde 2000 e foi inspirada em Margarida Maria Alvez, trabalhadora rural e líder sindical assassinada em 12 de agosto de 1983.
Esta é a primeira marcha que acontece sob um governo democrático e popular desde que Dilma Rousseff foi retirada da presidência da República. O evento foi mantido em 2019, já sob Jair Bolsonaro, mas na ocasião, não foi entregue pauta — dado o hiato que separava o governo dos movimentos sociais — e a tônica foi o rechaço ao presidente.
“Na marcha daquele ano, a gente estava numa situação bem difícil, com medo do que estava se desenhando, mas também com muita resistência das mulheres. Era um momento de muita perda de direitos, de retrocessos das políticas públicas, de programas e de espaços institucionais, diferentemente de agora”, conta Mazé Morais, secretária de Mulheres da Contag e coordenadora-geral da Marcha das Margaridas.
Retomada
Terminado aquele evento, as organizadoras já iniciaram os preparativos para o de 2023, como costuma acontecer entre cada edição. E, no dia 21 de junho, um conjunto de ministros do governo Lula recebeu a pauta de reivindicações que foi construída pelo movimento.
No documento, constam propostas relativas a 13 eixos, entre os quais estão: democracia participativa, soberania popular e participação política das mulheres; combate à violência, ao racismo e ao sexismo; autonomia das mulheres sobre o seu corpo; proteção da natureza com justiça ambiental e climática; autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética; democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios, além de eixos relativos à segurança alimentar e nutricional, saúde e educação.
“A Marcha está inserida nas dinâmicas locais a partir dos diálogos que as mulheres do campo, da floresta e das águas estabelecem desde os seus territórios e comunidades até chegar às ruas da capital do país. Ela envolve intensos processos formativos, além de promover debates, realizar ações políticas e de mobilização enraizadas em cada local, em cada território. Milhares de mulheres são envolvidas nesse processo”, diz a apresentação da carta.
De acordo com Vanja Santos, presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), entidade que faz parte da coordenação da Marcha, “essa pauta nasce a partir de debates e propostas que vêm de mulheres de todos os cantos do país. Buscamos dar visibilidade, sobretudo, para as mulheres do campo, das águas e das florestas, que estão mais distantes dos centros urbanos e que mais sofrem com a falta de políticas públicas”.
Para Mazé, a Marcha das Margaridas “é singular, única, porque acontece em contextos e em conjunturas diferentes a cada quatro anos. Nesta marcha, há uma esperança muito grande de todas nós, margaridas, uma esperança do verbo esperançar. Nossa expectativa é de que no dia 16 de agosto a gente receba anúncios positivos que realmente impactem não apenas na vida das mulheres, mas de toda a sociedade”.
Na avaliação de Celina Arêas, secretária da Mulher da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que também compõe a marcha, “agora, felizmente, nós temos um governo diferente com a eleição do presidente Lula. Por isso, o nosso lema é pela reconstrução do Brasil e pelo bem-viver, porque temos a convicção de que nós teremos uma reviravolta em relação ao que passamos com Bolsonaro”.
Ela pontua que o bem-viver proposto pela marcha depende, entre outras coisas, “da garantia de terra para trabalhar, de emprego e da não-violência contra a mulher” e que o governo Lula já estabeleceu políticas neste sentido, entre as quais destaca lei que assegura salário igual para homens e mulheres na mesma função.
A construção desta edição, portanto, coroa um processo de lutas intensas num dos momentos mais adversos vividos pelo Brasil. “Às vezes a gente fica sem palavra para dizer o quanto esta macha de agora é importante para a gente, o quanto esses últimos anos foram difíceis para nós, a quantidade de perdas que a gente teve. E agora sentimos que é a retomada — podemos retomar as políticas públicas, os programas e as conquistas que ao longo de anos a gente havia conquistado e que foram arrancadas de nós”, resume Mazé.
Por isso, diz Vanja, “as margaridas vão ocupar Brasília, reafirmando suas pautas e a determinação de continuar nessa luta pela reafirmação da democracia, pela vida das mulheres e pelo bem-viver”.