Os partidos comunistas (PCs) que estão no poder tomaram decisões relevantes em 2025 para pôr seus respectivos governos à altura da novíssima ordem mundial. Num ano em que o imperialismo e a extrema direita internacional avançaram – sobretudo a partir da volta de Trump à Casa Branca, em janeiro –, essas legendas reafirmaram a alternativa socialista.

De milhares de organizações que se definem como comunistas, marxista-leninistas, maoístas, operárias ou afins em 110 países, há pelo menos 315 que são partidos legalizados e ativos. Cinco deles governam repúblicas socialistas: o Partido Comunista Chinês (PCCh), o Partido dos Trabalhadores da Coreia (PTC), o Partido Comunista de Cuba (PCC), o Partido Comunista do Vietnã (PCV) e o Partido Popular Revolucionário do Laos (PPRL).

Os norte-coreanos têm, proporcionalmente, a legenda mais representativa, com estimados 6,5 milhões de filiados num país de 26 milhões de habitantes – o equivalente a 25% da população. Já em números absolutos, o maior PC é o da China, que, em julho, fez um anúncio histórico: pela primeira vez, o número de membros da sigla ultrapassou a marca de 100 milhões de pessoas.

Um caso à parte é o do Nepal, uma pequena nação no sul da Ásia com extensão inferior à do Acre. Com a queda da monarquia, em 2008, o país se tornou uma inusitada república parlamentarista sob administração de legendas comunistas. Desde então, dois PCs – o Centro-Maoísta e o Marxista-Leninista Unificado (CPN) – têm se revezado no poder.

China

Com 1,4 bilhão de habitantes, a China é o maior dos países governados por comunistas. O PCCh conta com 100,3 milhões de filiados, espalhados por 5,2 milhões de organizações de base. Detalhe: o processo de filiação é tão rigoroso que, neste ano, há nada menos que 21,4 milhões de candidatos na fila, à espera da aceitação dos dirigentes comunistas.

Para entrar no Partido Comunista, um chinês chega a ficar três anos cumprindo etapas que se iniciam com a carta de candidatura e a realização de cursos formativos. Uma vez “aprovados” nessas etapas, os pretendentes permanecem como membros probatórios por um ano – até um comitê decidir que eles podem se tornar, enfim, membros plenos.

Além de atrair e qualificar militantes, o Partido Comunista Chinês se dedicou em 2025 a elaborar seu 15º Plano Quinquenal (2026-2030). Para avançar na construção do comunismo, os chineses destacam como prioridade – nos próximos cinco anos – um dos maiores feitos desde a Revolução de 1949: a conquista da autossuficiência econômica e tecnológica.

Segundo Elias Jabbour, um dos maiores especialistas no socialismo chinês, o PCCh já deixou um legado valioso: o de demonstrar que “o planejamento – com seu marco institucional, os planos quinquenais – foi o maior fato econômico do século 20 e continua a ser no século 21”. Hoje, conforme think tanks apoiadas pelo PCCh, a economia da China está 223 vezes maior desde a adoção do 1º Plano Quinquenal (1953-1957), no governo Mao Tsé-Tung.

Vietnã

Terceiro maior partido comunista do mundo, o PCV soma 5,3 milhões de membros. Mas sua proeza máxima em 2025 foi ter mantido o Vietnã como a economia que mais cresce no Sudeste Asiático. O governo prevê uma alta de 8% do PIB (Produto Interno Bruto) entre janeiro e dezembro, ao passo que o Banco Mundial projeta 6,8%. Só no primeiro semestre, o crescimento foi de 7,52% – a maior para esse período em 15 anos.

A indústria, um dos motores desse impulso, já responde por 36,9% da economia vietnamita. Outro fator de dinamismo é o investimento público em projetos estratégicos de infraestrutura, como o Aeroporto Internacional de Long Thanh e a ferrovia de alta velocidade Norte-Sul. As grandes e médias cidades vietnamitas viraram um imenso canteiro de obras.

Em outubro, o Vietnã celebrou os 80 anos da Revolução de Agosto, marco de sua independência. O desfile militar que celebrou a data foi um dos maiores na história da Praça Ba Dình, em Hanói. Segundo Tô Lâm, secretário-geral do PCV, a independência abriu caminho para “a libertação nacional, a reunificação e as reformas econômicas”.

Agora, disse Tô Lâm, é preciso transformar o Vietnã num país “poderoso, próspero e feliz”. Em novembro, o PCV aprovou uma nova política de Estado, que visa justamente fazer do Vietnã uma “nação socialista desenvolvida e de alta renda” até 2045, à base de “crescimento acelerado” e “estabilidade social”.

Cuba

Em 2025, os cubanos deram início à comemoração do centenário do líder revolucionário Fidel Castro (1926-2016). A programação – que vai até dezembro do próximo ano – terá centenas de atividades, sob coordenação do Partido Comunista, do Centro Fidel Castro Ruz e da União de Jovens Comunistas (UJC). Nos cálculos do governo, as agendas podem elevar o número de turistas em 15,8%, atraindo um total de 2,2 milhões de visitantes ao país.

Sobre os desafios internos, Cuba enfrenta um “cenário de economia de guerra”, conforme as palavras do ministro da Economia e Planejamento, Joaquín Alonso Vázquez. A crise foi agravada pela passagem devastadora do furacão Melissa e pelo recrudescimento do bloqueio norte-americano sob Trump. “Os efeitos nocivos do bloqueio econômico, comercial e financeiro intensificado são mais evidentes do que nunca em todas as esferas da economia e da sociedade cubana”, diz Vázquez.

Em dezembro, o ministro apresentou o Plano Econômico para 2026, que “exige a mobilização de todas as reservas produtivas do país”. Segundo o Granma, “a principal prioridade é a recuperação do turismo e dos setores tradicionais de exportação, o aumento da receita proveniente de serviços profissionais e a atração de mais investimentos estrangeiros, remessas e financiamento”.

Também em dezembro, o Partido Comunista de Cuba adiou seu 9º Congresso Nacional (previsto inicialmente para abril) e reafirmou a centralidade da luta para superar os entraves econômicos. O ex-presidente Raúl Castro, autor da proposta de adiamento do Congresso, justificou: “Que dediquemos o ano de 2026 a nos recuperar em tudo o que for possível”.

Nepal

Entre os comunistas no poder, os mais testados em 2025 foram os do Nepal, às voltas com uma guerra híbrida após o bloqueio das grandes plataformas, como WhatsApp, Facebook, Instagram e YouTube. Em setembro, quando as big techs se recusaram em definitivo a cumprir a legislação do Nepal, o governo atendeu a uma decisão da Suprema Corte e suspendeu as redes sociais. Foi o estopim para grandes e inesperadas mobilizações. Milhares de jovens saíram às ruas em atos violentos, que deixaram mais de 70 mortos e 600 feridos.

O país entrou em “colapso político”, conforme relatou ao Portal Vermelho Smritee Lama, dirigente do CPN. As sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário foram incendiadas, e o primeiro-ministro Khadga Prasad (KP) Sharma Oli renunciou. Segundo Smritee, “além das frustrações domésticas, há interesses geopolíticos e uma manipulação da participação juvenil que alimentaram ainda mais a agitação”.

O bloqueio das redes sociais foi revogado e o governo convocou novas eleições para março de 2026. A guerra híbrida já impactou a esquerda do país, que se unificou: nove siglas – incluindo os dois PCs alternantes no governo – fundiram-se numa única legenda, que passa a se chamar Partido Comunista Nepalês (PCN). O primeiro congresso do novo partido foi realizado em novembro e o programa aprovado defende abertamente o socialismo com “características nepalesas”.

Ao fim de 2025, é impreciso dizer que existe um movimento comunista organizado globalmente. Mas a atuação cotidiana de partidos comunistas no poder, como o PCCh, o PCC, o PCV e o PCN, deixa lições e serve de referência para as outras mais de 300 legendas em todo o mundo.