Lula abre a COP 30: “É momento de impor nova derrota aos negacionistas”
A COP30 (30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) teve os trabalhos abertos oficialmente nesta segunda-feira (10), em Belém (PA). O presidente Lula discursou durante o ato para lideranças políticas e delegados da Conferência, ocasião em que pediu maior financiamento às ações ambientais em detrimento às guerras, assim como rebateu os negacionistas climáticos.
O embaixador André Corrêa do Lago foi nomeado oficialmente o presidente da Convenção por um período de 12 meses, recebendo o posto de Mukhtar Babayev, que organizou o evento anterior, em Baku, no Azerbaijão.
Desafio
O presidente Lula iniciou sua fala destacando o desafio de realizar a COP 30 em Belém: “desafio tão grande quanto acabar com a poluição do planeta Terra.”
Segundo Lula, seria mais fácil ter realizado a COP 30 em uma cidade brasileira com maior infraestrutura, principalmente hoteleira, no entanto, aceitou o desafio de levar para Amazônia “para provar que quando se tem disposição política, quando se tem vontade e compromisso com a verdade, a gente prova que o homem não tem nada que seja impossível, o impossível é não ter coragem de enfrentar desafios”.
Investimento ambiental
Na sequência, Lula reforçou o apelo que une pacifismo e preservação ambiental. De acordo com o presidente, se “os homens que fazem guerra estivessem aqui [COP 30], eles iriam perceber que é muito mais barato colocar um trilhão e trezentos bilhões de dólares para a gente acabar com o problema climático, do que colocar dois trilhões e setecentos bilhões de dólares para fazer guerra”.
O presidente ainda ressaltou a RIO 92 como berço da criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), pontuando que a ocasião foi um marco para o multilateralismo na área, que agora volta ao Brasil, sua “terra natal”, onde foi criada.
Amazônia no centro do debate
O líder brasileiro exaltou que a comunidade política e científica reunirá esforços nas próximas duas semanas em que Belém será a capital do mundo para tomar decisões sobre o futuro do planeta.
“A Amazônia não é uma entidade abstrata. Quem só vê floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra. O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas, dispersos por nove países em desenvolvimento, que ainda enfrentam imensos desafios sociais e econômicos. Desafios que o Brasil luta para superar com a mesma determinação com que contornou as adversidades logísticas inerentes à organização de uma conferência desse porte”, declarou.
Lula ainda destacou os feitos na Cúpula do Clima, que antecederam a Conferência, em que foi lançado o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, angariando US$ 5,5 bilhões para o financiamento climático, e foi adotada a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, com o apoio de 43 países e da União Europeia.
Derrota aos negacionistas
As tragédias climáticas foram lembradas pelo presidente para evidenciar a urgência do debate: “A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro. É uma tragédia do presente. O furacão Melissa que fustigou o Caribe e o tornado que atingiu o Estado do Paraná, no Sul do Brasil, deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição. Das secas e incêndios na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis.”
Repetida como um mantra por Lula, a afirmação de que a “COP30 será a COP da verdade” foi reforçada por ele.
Nesse sentido, pregou contra as fake news (notícias falsas) e o negacionismo climático, utilizados por líderes irresponsáveis para justificar a continuidade da exploração predatória dos recursos ambientais.
“Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, salientou o presidente brasileiro.
Ele ainda fez a indicação de que sem o Acordo de Paris o mundo estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Portanto, entende que as decisões já celebradas apontaram para a direção certa, porém estão na velocidade errada de implementação.
“No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr”, explicou.

Chamado à ação
Ao explanar as posições do Brasil, Lula fez um chamado à ação aos demais países.
Ele pediu que os países cumpram seus compromissos, apontando três pontos:
- formulação e implementação de Contribuições Nacionalmente Determinadas ambiciosas;
- assegurar financiamento, transferência de tecnologia e capacitação aos países em desenvolvimento;
- atenção à adaptação aos efeitos da mudança do clima.
Também conclamou a aceleração da ação climática global: “A proposta de criação de um Conselho do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU, é uma forma de dar a esse desafio a estatura política que ele merece”, disse.
Por fim, convocou a comunidade internacional a colocar as pessoas no centro da agenda climática, com destaque para as populações indígenas.
“O aquecimento global pode empurrar milhões de pessoas para a fome e a pobreza, fazendo retroceder décadas de avanços. O impacto desproporcional da mudança do clima sobre mulheres, afrodescendentes, migrantes e grupos vulneráveis deve ser levado em conta nas políticas de adaptação”, afirmou.
“É fundamental reconhecer o papel dos territórios indígenas e de comunidades tradicionais nos esforços de mitigação. No Brasil, mais de 13% do território são áreas demarcadas para os povos indígenas. Talvez ainda seja pouco. Uma transição justa precisa contribuir para reduzir as assimetrias entre o Norte e o Sul Global, forjadas sobre séculos de emissões”, completou Lula.
Ainda durante a abertura da COP30, foram realizadas intervenções indígenas da tribo Guajajara e apresentações de Fafá de Belém e da ministra da Cultura Margareth Menezes.
Além de representantes e negociadores de diversos países, o ato teve a presença de ministros e ministras de governo, entre elas a do Meio Ambiente, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e do governador do Pará, Hélder Barbalho.




