Bogatá/Colombia – 20/10/2025 – O presidente dos EUA, Donald Trump, retirou uma ajuda financeira de seu país à Colômbia sob o argumento de que o governo colombiano está fomentando a produção de drogas. Em uma publicação, o norte-americano chamou o presidente Gustavo Petro de “traficante de drogas”. Presidente Petro é o mais novo alvo da escalada de ataques de Trump a presidentes da América do Sul. O governo do republicano promove uma operação próximo à costa da Venezuela sob a justificativa de combater cartéis de drogas. Foto: RS/Fotos Públicas

Em entrevista ao Entrelinhas Vermelhas desta quinta (6), o professor Pietro Alarcón, dirigente internacional da União Patriótica e docente da PUC-SP, definiu o governo de Gustavo Petro, na Colômbia, como fruto de um ciclo de mobilização popular iniciado em 2019. Segundo ele, o “governo da mudança” surgiu da força das ruas e da capacidade de o Pacto Histórico canalizar as reivindicações sociais em um programa construído “de baixo para cima”.

Alarcón destaca que o projeto “Colômbia: potência mundial da vida” busca romper a dependência externa, avançar na transição energética e promover justiça social. Mas, adverte, “uma coisa é ter o programa, outra é executá-lo”. Entre as conquistas, cita a estabilidade macroeconômica, a reforma trabalhista e previdenciária e o diálogo com os BRICS, que permitiu ampliar o espaço de cooperação internacional.

O professor reconhece, contudo, que a reforma da saúde foi bloqueada pela direita e que a paz interna segue ameaçada por grupos armados e pelo crime organizado. “Há setores que não entenderam que estamos em outra fase da história. Precisamos combinar luta institucional e popular para avançar”, afirma.

Assista a íntegra da entrevista:

O pacto histórico e o horizonte até 2034

Alarcón explica que o Pacto Histórico, inicialmente uma coalizão de governo, tornou-se um partido político unificado, que hoje reúne forças como a Colômbia Humana, a União Patriótica e o Partido Comunista. O senador Iván Cepeda foi escolhido como pré-candidato presidencial da frente, reconhecido por sua atuação na defesa dos direitos humanos e nas denúncias contra o ex-presidente Álvaro Uribe.

Para o dirigente, o objetivo estratégico é garantir continuidade ao projeto de Petro até 2034. “Precisamos de quatro mandatos para consolidar a transformação. É um processo territorializado, que nasce da organização popular”, ressalta.

Uribismo e a disputa de 2026

A absolvição de Uribe pela Corte Suprema, após condenação em primeira instância, reacendeu a polarização. Alarcón define o uribismo como uma ultradireita ligada ao militarismo e ao narcotráfico, que tenta reescrever a história da violência colombiana culpando a esquerda.

“O uribismo é contrário à ética e à civilização. Não se trata apenas de um adversário político: é uma força antidemocrática que precisa ser superada”, afirmou. Segundo ele, a direita tradicional não consegue unificar um nome, enquanto o Pacto Histórico é hoje a maior força política nacional.

América Latina e os ventos conservadores

Sobre o avanço da direita em países como Argentina, Bolívia e Equador, Alarcón avalia que o fenômeno reflete disputas locais, mas preocupa por frear a integração regional. Ele defende uma CELAC social, voltada à soberania e ao desenvolvimento conjunto, e reconhece convergências estratégicas com o governo brasileiro — embora haja divergências sobre a exploração de petróleo na Amazônia.

“A paz e a segurança regional são essenciais. A América Latina deve permanecer como uma região de diálogo, livre de intervenções e dependências”, conclui.

Trump e a ofensiva no Caribe

O professor também criticou a postura agressiva dos Estados Unidos sob influência de Donald Trump, que, segundo ele, “reage ao enfraquecimento de sua hegemonia diante da ascensão da China e dos BRICS”. A aproximação da Colômbia com novos polos econômicos, afirma, representa “um passo histórico” para romper a tutela norte-americana:

“Pela primeira vez, a Colômbia não pede autorização a Washington para decidir seu destino.”

(por Cezar Xavier)