Foto: Ricardo Stuckert / PR

“As florestas valem mais em pé do que derrubadas e deveriam integrar o PIB dos nossos países”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (6), durante a Cúpula de Líderes da COP 30, em Belém (PA), ao lançar o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A iniciativa já recebeu o apoio de 53 países e em apenas um dia já alcançou mais da metade da meta de US$ 10 bilhões, planejada para um ano.

O valor obtido até o momento abarca, além do Brasil — o primeiro a investir, com o valor de US$ 1 bilhão — aportes anunciados pela Indonésia (US$ 1 bilhão), Noruega (US$ 3 bilhões) e França (US$ 500 milhões).

O TFFF é uma das principais apostas do governo brasileiro para a conservação florestal e o enfrentamento da crise climática e que “fala a língua do mercado”, já que propõe retorno financeiro e não apenas uma doação.

A iniciativa propõe um modelo inovador de financiamento climático, pelo qual os países que preservam as florestas tropicais serão recompensados financeiramente por meio de um fundo de investimento global.

Ao mesmo tempo, os investidores irão recuperar os recursos aplicados, com remuneração compatível com as taxas médias de mercado. Na prática, o fundo cria uma nova economia baseada na conservação.

“Os serviços ecossistêmicos precisam ser remunerados, assim como as pessoas que protegem as florestas. Os fundos verdes internacionais não estão à altura do desafio “, explicou o presidente.

Ao abrir seu discurso, o presidente salientou o ineditismo da iniciativa inédita. “Pela primeira vez na história, os países do Sul global terão protagonismo em uma agenda de florestas”.

Segundo informações do governo, mais de 70 nações em desenvolvimento com áreas tropicais poderão potencialmente acessar os recursos. “Os lucros gerados serão repartidos entre os países de florestas tropicais e os investidores, e os recursos irão diretamente para os governos nacionais, que poderão garantir programas soberanos de longo prazo”, acrescentou Lula.

O TFFF constitui um complemento a outros mecanismos que remuneram a redução de emissões de gases de efeito estufa. Investimentos soberanos de países desenvolvidos e em desenvolvimento vão compor o fundo de capital misto, com portfólio diversificado em ações e títulos.

O presidente também salientou que um quinto dos recursos poderá ser destinado aos povos indígenas e comunidades locais. “Cuidar dos seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas, é cuidar das florestas”, pontuou.

Gestão do fundo

No que diz respeito à governança do TFFF, Lula explicou que “suas instâncias decisórias vão corrigir antigas assimetrias e contarão com a presença, em pé de igualdade, de países investidores e de países de florestas tropicais. A participação social e de especialistas agregará valor à avaliação e ao aprimoramento do mecanismo”.

Além disso, anualmente o monitoramento por satélite possibilitará identificar se os países estão respeitando a meta de manutenção do desmatamento abaixo de 0,5%.

“Reflorestamentos serão contabilizados com o tempo. A meta é que cada país possa receber até 4 dólares por hectare preservado. Parece modesto, mas estamos falando de um bilhão e cem milhões de hectares de florestas tropicais distribuídos em 73 países em desenvolvimento”, agregou.

Entre os potenciais investidores estão: Alemanha, Armênia, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, China, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Finlândia, França, Irlanda, Japão, Mônaco, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia e também a União Europeia.

Já a lista dos que detêm 90% das florestas tropicais conta com países como Brasil, Bolívia, Colômbia, México, Madagascar, Malásia, Moçambique, República Popular do Congo e Nigéria.