Direita colonialista continua sendo o principal inimigo de Moçambique
Desde a conquista da independência, em 1975, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) vem dirigindo o país, visando a construção de uma nação próspera, justa e igualitária. Desde então, muitos avanços foram obtidos no âmbito social. Hoje, um dos principais obstáculos é a reconstrução do país, após as graves manifestações decorrentes da ação da direita nas eleições presidenciais do ano passado.
Após a reeleição do então candidato da Frelimo e hoje presidente Daniel Chapo, o resultado foi questionado pelo partido opositor de direita, o Podemos — cujo candidato era Venâncio Mondlane —, aos moldes do que o Brasil e outros países já viram acontecer nos últimos anos.
“O neocolonialismo é o nosso inimigo de sempre — e não estou falando do povo português, mas do sistema. Esse sistema não acabou. O que o Venâncio quis fazer foi o que aconteceu no Brasil, onde tentaram desacreditar a vitória do presidente Lula. Isso vem ocorrendo em vários países; é uma forma de destruir os governos democraticamente eleitos, para realmente impor suas ideias”, explica Filipe Chimoio Paunde, da direção da Frelimo, em entrevista ao Portal Vermelho.
Paunde participou do 16º Congresso do PCdoB, realizado em outubro, em Brasília. “Viemos a convite dos nossos irmãos do Partido Comunista do Brasil, porque sabemos que ele pugna pelo bem-estar e progresso do povo e pela não-discriminação”, ressaltou.
Nessa conversa, ele fala de como foram os meses após a onda de manifestações que destruíram a economia moçambicana e aumentou a pobreza, as principais medidas que a Frelimo tomou para reconstruir o país, a atuação da direita para acabar com governos populares e de esquerda e a admiração dos moçambicanos por Lula.
Confira abaixo os principais trechos.
Ataque à democracia moçambicana
“Como sempre, fizemos um processo democrático, com eleições livres e justas. Um dos candidatos foi Venâncio Mondlane, do Podemos, que pela primeira vez disputou as eleições e não estava bem estruturado pelo país. Ainda assim, e com apenas 10% dos votos apurados, o tal candidato convocou uma coletiva de imprensa para dizer que tinha ganhado as eleições.
Continuamos o processo e, quando terminou, as instâncias eleitorais do país — inclusive a Comissão Nacional, um órgão político com representação de vários partidos com assento no legislativo do país — concluíram que não havia dúvidas da vitória da Frelimo, com 78% dos votos. Os outros partidos, incluindo o Podemos, tiveram juntos 22%.
Mas, o candidato Mondlane logo disse que não concordava com aquele resultado e resolveu apresentar uma queixa ao Conselho Constitucional que, então, pediu que ele apresentasse os boletins de votação que tinha. E foi aí que se apanhou a falsidade: a maior parte desses boletins estava repetida. Provou-se, assim, que o senhor Venâncio Mondlane não tinha sido o vencedor, mas sim o nosso presidente Daniel Chapo, da Frelimo”.
Manifestações e prejuízos ao país
“As organizações contrárias aos partidos progressistas, aliadas do imperialismo, estavam com o Venâncio. Eles organizaram protestos com muitos recursos para que os manifestantes pudessem se alimentar e se deslocar.
Essas manifestações foram bastante impactantes e causaram mais prejuízo econômico e social do que a Guerra dos 16 Anos (Guerra Civil Moçambicana, ocorrida entre 1977 e 1992) porque destruíram muitas empresas, o comércio e as fábricas. Como consequência, muitos moçambicanos ficaram desempregados e muitos investidores e empresários foram prejudicados. O país ficou completamente destruído.”
Ação neocolonialista
“O neocolonialismo é o nosso inimigo de sempre — e não estou falando do povo português, mas falo do sistema. Esse sistema não acabou. O que o Venâncio quis fazer foi o que aconteceu no Brasil, onde tentaram desacreditar a vitória do presidente Lula. Isso vem ocorrendo em vários países; é uma forma de destruir os governos democraticamente eleitos, para realmente impor suas ideias.
Esses regimes não querem igualdade, justiça social, progresso, enfim, um país mais justo. Quanto mais pobre o povo, mais felizes eles ficam. A crise que vivemos em Moçambique se inscreve nesse tipo de processo”.
Retomada
“Diante desse cenário, depois da posse do presidente Daniel Chapo e de instalado o novo governo, houve a necessidade de se criar uma plataforma, que chamamos de Diálogo Nacional Inclusivo, cujo fundamento é o fato de que o país está acima de todos os partidos políticos. E eu acho que isso ajudou muito, porque a partir daí as manifestações começaram a minguar. Porém, ainda hoje sofremos seus efeitos.
Para ajudar na superação da pobreza, uma das prioridades do presidente Chapo foi introduzir uma nova filosofia, digamos, de financiamento do cidadão. Assim, foi criado o Fundo de Desenvolvimento Local, um tipo de financiamento que sai diretamente do governo para os cidadãos abrirem seu negócio; 60% deste fundo vai para a juventude — que mais sofre com o desemprego — e para as mulheres.
Também estamos com ações para melhorar a infraestrutura e vamos criar o banco de desenvolvimento porque os bancos que existem em Moçambique são estrangeiros. As taxas para empréstimos são insuportáveis. Queremos um banco nacional, do Estado, em que as taxas sejam acessíveis, onde os moçambicanos possam pedir o empréstimo e se desenvolver. Porque quanto mais moçambicanos puderem ter atividades econômicas, mais o país vai crescer e com isso, podemos seguir melhorando as condições de vida da nossa população”.
Relação entre a Frelimo e a população
“A Frelimo goza de muita popularidade porque depois da independência, em 1975, muitos avanços foram obtidos. Antes, 98% dos moçambicanos não sabiam ler e escrever. Então, a Frelimo introduziu o Sistema de Alfabetização e Educação de Adultos, fez campanhas e expandiu a formação de professores, com a criação do Instituto Superior Pedagógico e, mais tarde, a Universidade Pedagógica (hoje, o índice de analfabetismo é de cerca de 38%). Antes, havia apenas uma universidade e hoje temos mais de 37 instituições de ensino superior.
Outro ponto importante é que antes da Frelimo governar o país, as cidades não tinham rede de energia, inclusive a capital, Maputo —quem a introduziu foi o governo da Frelimo. Em relação à água, também foi estabelecido um grande programa de abastecimento para as regiões onde não havia água canalizada, além da abertura de vários poços. São coisas básicas que antes não havia.
Da mesma forma, investimos em saúde, com a expansão da formação de enfermeiros básicos e médios até os médicos. E como resultado disso nos orgulhamos de dizer que hoje a mortalidade materno-infantil baixou substancialmente e a expectativa de vida em Moçambique passou de 45 para 70 anos. Antes, éramos 9,5 milhões de habitantes e hoje passamos de 32 milhões. A população sabe que tudo isso foram conquistas da Frelimo”.
Relações com o Brasil
“Temos relações muito amistosas com o Brasil. Na primeira gestão do presidente Lula, o investimento do Brasil para o Moçambique foi muito grande. Eu e os moçambicanos somos fãs do presidente Lula porque ele é uma voz nossa no mundo, não só para os brasileiros.
O Lula defende os interesses daqueles que não têm palavra, dos interesses daqueles que são pobres. No Brasil, mais de 33 milhões de pessoas saíram da pobreza. Este é um grande indicador de um estadista que prima pela promoção de bem-estar dos seus cidadãos”.




