O coordenador-geral de análise de conjuntura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Pedro de Souza Mesquita, alerta que o avanço do CV e TCP facções • Reprodução – TV Senado

Um levantamento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) mostra que o Comando Vermelho (CV) alcançou presença em 22 estados brasileiros, ampliando seu poder e influência a níveis inéditos desde sua origem no Rio de Janeiro. O mapeamento, apresentado à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Senado, indica que o Brasil tem 31 facções com potencial de afetar a segurança pública estadual.

Três grupos possuem atuação nacional: o PCC (Primeiro Comando da Capital), o CV (Comando Vermelho) e o TCP (Terceiro Comando Puro). Entre eles, o CV se destaca pela rápida expansão — e por estar envolvido em todos os confrontos entre organizações criminosas atualmente registrados no país, segundo a Abin.

“Não há confronto de facções hoje que não envolva o Comando Vermelho”, afirmou Pedro de Souza Mesquita, coordenador-geral de análise de conjuntura da Abin.

A Abin alerta que o avanço de facções como o CV e o TCP espalha a lógica de confrontos violentos típica do Rio de Janeiro para o restante do país. O órgão classifica o fenômeno como “uma ameaça de natureza política, econômica e social”, que exige cooperação entre governos federal, estaduais e municipais.

Como o CV se espalhou pelo Brasil

A expansão do Comando Vermelho teve início em 2013, impulsionada pela implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro. A pressão sobre os territórios controlados pelo tráfico levou líderes da facção a se refugiarem em outros estados — abrindo caminho para uma rede de alianças locais e uma disputa direta com o PCC.

Naquele ano, o grupo operava em apenas quatro estados além do Rio — Pará, Tocantins, Rondônia e Santa Catarina. Hoje, só não há presença ativa do CV em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo.

De acordo com a Abin, o crescimento foi acelerado por alianças com facções regionais que resistiam ao domínio paulista. O CV passou a oferecer infraestrutura logística para drogas e armas, e refúgio em comunidades do Rio, consolidando uma cadeia de comando descentralizada, o que favoreceu sua expansão.

Territorialismo e infiltração econômica

A facção carioca se distingue pela estratégia de domínio territorial e exploração econômica local.
“O CV é especialista em territorialismo”, afirmou Daniel Ferreira, subsecretário de Inteligência da PM do Rio. “A exploração de serviços e da população passou a ser tão lucrativa quanto o próprio tráfico de drogas.”

A lógica de ocupação de territórios — antes restrita ao Rio — agora se repete em várias regiões do país, gerando o que a Abin descreve como uma “nacionalização da violência urbana”.

“Essa rivalidade entre CV e TCP vai trazer mais violência e mais mortes. É uma disputa histórica, e eles já estão infiltrados nas estruturas do Estado”, alertou Ferreira.

O avanço do Terceiro Comando Puro

O TCP, facção rival do CV no Rio, também tem ampliado suas operações. O relatório da Abin indica presença do grupo em dez estados, entre eles Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul.

Assim como o CV, o TCP adota o modelo territorialista e oferece armas, drogas e proteção a grupos regionais menores. “O TCP vem replicando o método do Comando Vermelho e ocupando espaços deixados pelo PCC, que hoje olha mais para fora do Brasil”, explicou Mesquita.

PCC mira fora do país e está em 28 nações

Enquanto o CV e o TCP se expandem internamente, o Primeiro Comando da Capital (PCC) ampliou sua atuação internacional. Segundo a Abin, a facção paulista está presente em 28 países, o dobro de 2018, quando operava em 11. O número de integrantes fora do Brasil saltou de mil para mais de dois mil.

A expansão não se limita ao tráfico de drogas — envolve lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros, consolidando o PCC como o grupo mais sofisticado e internacionalizado do país.

Um desafio nacional à segurança pública

“O crime organizado deixou há muito de ser um problema apenas policial. Hoje, é uma questão de estabilidade do Estado”, afirmou Esaú Samuel Lima Feitosa, diretor de inteligência interna da Abin.

Com 31 facções mapeadas e três delas com alcance nacional, o Brasil enfrenta uma nova fase do crime organizado — mais diversificada, descentralizada e capaz de afetar a governabilidade e a segurança pública em escala nacional.

(por Cezar Xavier)