Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil

A manutenção pela terceira vez seguida da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), faz com que o Brasil siga na preocupante segunda posição entre os maiores juros reais do mundo.

De acordo com a consultoria MoneYou, o país tem juros reais de 9,74%, ficando atrás somente da Turquia, com 17,80%. Em terceiro no ranking está a Rússia, com 9,10%, seguido da Argentina, com 5,16%, e da Índia, com 4,21%.

Os juros reais são a composição da taxa de juros nominal descontada da inflação prevista (12 meses). Em setembro, os juros reais do Brasil estavam em 9,51%.

Para a consultoria, a situação brasileira é devida a incertezas inflacionárias, às políticas tarifárias dos Estados Unidos e à política fiscal do governo federal.

O atual patamar da Selic é o maior em 20 anos. Antes, em julho de 2006, a taxa havia ultrapassado este nível ao alcançar 15,25%.

No que diz respeito aos juros nominais (sem descontar a inflação), o que foi decidido pelo Copom coloca o Brasil na quarta posição. Veja os cinco primeiros:

  1. Turquia: 39,50%;
  2. Argentina: 29,00%;
  3. Rússia: 16,50%;
  4. Brasil: 15,00%;
  5. Colômbia: 9,25%.

Críticas

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) recebeu com preocupação a manutenção da Selic. Segundo o presidente da Câmara, Renato Correia, “o setor da construção gera emprego e renda. Manter os juros nesse nível por muito tempo é apostar numa desaceleração prolongada da economia real”.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) entende que os juros elevados sufocam a economia. Para Ricardo Alban, presidente da entidade, “a Selic tem freado a economia muito além do necessário, uma vez que a inflação está em clara trajetória de queda.”

A Confederação indica que a taxa básica de juros deveria estar em 11,9% a.a., considerando as expectativas de inflação para os próximos 12 meses. Em um estudo inédito, a CNI ainda revela que 80% das empresas industriais apontam a taxa de juros elevada como a principal dificuldade para a tomada de crédito de curto prazo.

Já a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) afirma que a decisão de manter os juros como está “aprofunda as dificuldades enfrentadas pela indústria brasileira.”

“Esse patamar impõe um custo elevado para empresas e famílias, reduzindo o consumo, o investimento e a geração de empregos. A política monetária, sozinha, não é capaz de sustentar a estabilidade econômica”, diz Janine Pessanha, especialista da Federação.

Por sua vez, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) demonstra preocupação com a diminuição do consumo, a deterioração dos parques industriais e a perda de competitividade das indústrias brasileiras.

“Manter os juros elevados por um período prolongado representa um entrave ao crescimento econômico. O Brasil precisa alinhar a política monetária ao esforço de dinamização do setor industrial, sem sufocar a força produtiva da sua indústria”, ressalta o presidente da entidade, Flávio Roscoe.

Na véspera da reunião do Copom, as centrais sindicais realizaram protestos para defender o início de um ciclo de cortes na Selic, que acabou não ocorrendo. Na ocasião, alertaram que a taxa elevada desestimula o crédito, o consumo e os investimentos, comprometendo a geração de empregos e a renda da população.

“O BC está ligado à Faria Lima e à especulação financeira. Com a Selic a 15%, nem o empresário investe no setor produtivo. 40% da arrecadação nacional vai para pagar juros da dívida pública a banqueiros”, disse o vice-presidente da CTB, René Vicente, durante ato na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).