O centro de visitantes do Capitólio dos EUA está fechado devido à paralisação, impedindo que os turistas visitem os prédios históricos do Congresso.A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos chegou nesta quinta-feira (16) ao 16º dia, sem qualquer sinal de solução. O impasse entre democratas e republicanos sobre o financiamento da saúde mantém milhares de servidores federais afastados e serviços públicos paralisados.O Senado rejeitou, pela oitava vez, um projeto de lei apresentado pelos republicanos para reabrir o governo. A proposta precisava de 60 votos para avançar, mas obteve apenas 49. O país se aproxima, assim, de uma das maiores paralisações da história, superada apenas pela de 35 dias no governo de Donald Trump, em 2018-2019.O presidente da Câmara, Mike Johnson, acusou os democratas de prolongar o bloqueio. “Estamos caminhando para uma das mais longas paralisações da história americana, a menos que os democratas abandonem suas demandas partidárias e aprovem um orçamento limpo”, afirmou. Já os democratas acusam os republicanos de tentar reduzir o financiamento da saúde pública, atingindo diretamente milhões de americanos atendidos pelo Obamacare.
Cortes unilaterais de Trump agravam o impasseNo centro da disputa está o próprio presidente Donald Trump, que tem ignorado decisões orçamentárias do Congresso e promovido cortes unilaterais em verbas previamente aprovadas. Seu governo já cancelou cerca de US$ 28 bilhões em recursos destinados a cidades e estados liderados por democratas, enquanto mantém repasses a áreas e agências alinhadas à sua política.A estratégia, conhecida como “rescission” (rescisão orçamentária), reacendeu tensões constitucionais entre o Executivo e o Legislativo. “Se o presidente pode desfazer sozinho o que o Congresso aprova, qual é o sentido de um acordo?”, questionou Chuck Schumer, líder democrata no Senado.Para os republicanos, Trump está apenas “restaurando a responsabilidade fiscal”. Mas para os democratas, trata-se de uma usurpação do poder do Congresso. A senadora Lisa Murkowski, republicana do Alasca, reconheceu que os cortes dificultam qualquer consenso: “Com certeza, isso torna mais difícil chegar a um acordo”.
Impactos econômicos e desgaste globalEspecialistas alertam que a paralisação já começa a afetar a economia dos EUA. O pesquisador Darrell West, da Brookings Institution, afirmou que o bloqueio “retarda o crescimento e enfraquece a imagem global do país”.Mais de 4 mil servidores receberam avisos de demissão, enquanto parques nacionais, museus e repartições federais permanecem fechados. O tráfego aéreo é um dos setores mais prejudicados: controladores de voo trabalham sem remuneração, provocando atrasos e cancelamentos.“O impacto ainda é limitado, mas está prestes a aumentar”, disse Dean Baker, do Centro de Pesquisa Econômica e Política. “Controladores sobrecarregados podem literalmente sentir que não conseguem lidar com a carga.”O pesquisador Clay Ramsay, da Universidade de Maryland, destacou que a crise afeta também o setor de ciência e tecnologia. “A NASA está praticamente parada. Isso deteriora o lugar dos EUA na ciência internacional e faz parecer que o país já não é o melhor para seguir carreira científica.”
Um impasse político que redefine 2026A crise também tem efeitos políticos imediatos. O senador Jon Ossoff, democrata da Geórgia, enfrenta pressão eleitoral ao se manter fiel à estratégia do partido de não ceder enquanto os republicanos e Trump não garantirem a extensão dos subsídios do Obamacare, que expiram no fim do ano.Ossoff é considerado o democrata mais vulnerável no Senado, já que disputa a reeleição em um estado que Trump venceu em 2024. “Meus eleitores querem que o governo reabra, mas também querem que seus planos de saúde não dobrem de preço”, afirmou o senador.A posição firme de Ossoff o transforma em símbolo da resistência democrata, mas também atrai ataques de adversários. Analistas apontam que o impasse sobre o orçamento é apenas um sintoma de uma crise mais profunda de governabilidade. Como resume o cientista político Charles Bullock, da Universidade da Geórgia:“É um risco calculado, mas reflete um problema maior: os Estados Unidos estão presos entre a política do confronto e a incapacidade de governar.”
Um governo refém de sua própria divisãoEnquanto democratas e republicanos se acusam mutuamente, a paralisação entra em sua terceira semana sem perspectiva de fim. O impasse orçamentário, alimentado pela estratégia unilateral de Donald Trump, expõe uma erosão institucional no coração da maior economia do mundo.O resultado é um governo paralisado — não apenas em suas repartições, mas também em sua capacidade de tomar decisões estáveis e democráticas.