A presidenta do México, Claudia Sheinbaum, anunciou que não participará da 10ª Cúpula das Américas, em 4 e 5 de dezembro, na República Dominicana.

A presidenta do México, Claudia Sheinbaum, anunciou nesta segunda-feira (13) que não participará da 10ª Cúpula das Américas, marcada para os dias 4 e 5 de dezembro, em Punta Cana, na República Dominicana. Durante sua coletiva de imprensa diária — conhecida como La Mañanera del Pueblo — Sheinbaum foi direta: “Não, não vou participar”.

A decisão vem em protesto contra a exclusão de Cuba, Nicarágua e Venezuela do encontro hemisférico, determinada pelo governo dominicano sob justificativa de “evitar polarizações políticas”. A mandatária afirmou que seu governo estuda enviar um representante da Secretaria de Relações Exteriores, mas reforçou que “o México nunca concordará com a exclusão de nenhum país”.

O posicionamento de Sheinbaum reafirma a tradição de política externa independente que o México mantém desde os governos de Lázaro Cárdenas e foi fortalecida sob Andrés Manuel López Obrador, de quem ela é sucessora política.

Exclusão repete política de Washington

A polêmica foi provocada pela decisão do presidente ultradireitista Luis Abinader, alinhado à Casa Branca, de não convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua para a cúpula. O governo dominicano justificou a medida como necessária para garantir “a maior adesão possível” dos demais países, ecoando o discurso usado pelos Estados Unidos quando, em 2022, o então presidente Joe Biden também impediu a participação dessas mesmas nações na Cúpula de Los Angeles.

O argumento, no entanto, contradiz a própria promessa feita por Abinader ao assumir a presidência pro tempore do fórum: a de organizar uma “cúpula inclusiva”. Na prática, o país caribenho rompeu com sua tradição diplomática — em edições anteriores de fóruns multilaterais sediados na República Dominicana, como a Cúpula Ibero-Americana de 2023 e a da Celac de 2017, Cuba e Venezuela participaram normalmente.

Em resposta, o governo cubano classificou a decisão como uma “rendição às pressões unilaterais dos Estados Unidos” e advertiu que a exclusão de países latino-americanos “revive a Doutrina Monroe e a política das canhoneiras”, símbolos históricos do intervencionismo norte-americano.

Sheinbaum: “É preciso cuidar do país”

Além da questão diplomática, Sheinbaum destacou que a situação interna exige prioridade, referindo-se às fortes chuvas que provocaram inundações em várias regiões do México, com 64 mortos confirmados. “Diante das circunstâncias atuais, é preciso cuidar do país”, afirmou.

Desde que assumiu a presidência, em outubro de 2024, Sheinbaum realizou apenas quatro viagens internacionais, todas de caráter multilateral: ao G20 no Brasil, à Celac em Honduras, ao G7 no Canadá e a uma reunião trilateral na Guatemala. A cautela reflete uma diplomacia de baixa exposição internacional, porém de forte carga simbólica, pautada por soberania e solidariedade regional.

Reação latino-americana e Cúpula dos Povos

A ausência de Sheinbaum soma-se a uma ampla onda de protestos diplomáticos. Delegados de 35 países da América Latina, Caribe e outras regiões reuniram-se em 12 de outubro na Cidade do México e decidiram convocar uma “Cúpula dos Povos”, a ser realizada nas mesmas datas da reunião oficial, em Santo Domingo.

O objetivo é dar voz às nações excluídas e reafirmar o princípio de autodeterminação dos povos. 

Continuidade e coerência diplomática

A decisão de Sheinbaum dá continuidade à postura adotada por Andrés Manuel López Obrador, que também boicotou a cúpula de 2022 pelos mesmos motivos. À época, o então chanceler Marcelo Ebrard representou o México no evento.

Ao recusar o convite, Sheinbaum reforça a linha histórica da diplomacia mexicana, que rejeita intervenções externas e defende o diálogo entre iguais. Sua decisão ecoa com força política: um gesto de autonomia em um cenário hemisférico marcado pela dependência de Washington.

Mais do que um ato de solidariedade a Cuba, Venezuela e Nicarágua, o boicote simboliza uma crítica à seletividade política nos fóruns regionais — e reafirma o papel do México como uma das poucas vozes da região dispostas a confrontar a hegemonia norte-americana em defesa de uma América Latina soberana e plural.

por Cezar Xavier