Guardas municipais agridem parlamentares e manifestantes na Câmara de Porto Alegre
A Câmara Municipal de Porto Alegre foi palco, mais uma vez, nesta quarta-feira (15), de lamentáveis cenas de truculência por parte da Ronda Ostensiva Municipal (Romu), acionada pela presidente da Casa, vereadora Comandante Nádia (PL), para reprimir parlamentares e manifestantes que protestavam contra projetos de lei.
Em pauta, estavam propostas que prejudicam diretamente a população, como a privatização da atividade de saneamento do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos); a criminalização de quem ocupa imóveis pelo direito à moradia, além de um projeto que pode levar à proibição do trabalho dos catadores de recicláveis.
Contrário às medidas, um grupo de cidadãos foi à Câmara protestar pacificamente. Segundo relatos, como forma de impedir a entrada dos manifestantes na Casa que deveria ser do povo, a presidente ordenou o uso da força.
Policiais da Romu, grupo operacional da Guarda Municipal, usaram balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogênio, causando ferimentos e intoxicação em vários dos presentes, inclusive em cinco parlamentares da oposição ao prefeito Sebastião Melo (MDB): o deputado estadual e ex-ministro Miguel Rossetto (PT) e os vereadores Giovani Culau e Erick Dênil (PCdoB), Grazi Oliveira e Atena Roveda (Psol), e Natasha Ferreira (PT).

“Temos duas vereadoras no HPS (Hospital de Pronto Socorro), fomos tratados com violência, com bombas de gás, com spray de pimenta. O meu último requerimento é para que a senhora (Comandante Nádia) renuncie porque é responsável pelo absurdo que aconteceu na Câmara”, disse Culau durante a sessão, que acabou sendo suspensa.
O vereador Erick Dênil, que levou três tiros de bala de borracha nas pernas, também denunciou a truculência: “Olhar para o lado e ver outros colegas vereadores feridos, manifestantes que são servidores do Dmae, professores e catadores em pânico, e a Guarda Municipal seguiu atirando… e o pior: atiraram para acertar no rosto, mirando o alvo, e não para dispersar. Pela primeira vez na história da Câmara Municipal, as forças de segurança atiram em vereadores! Queremos as imagens de tudo que aconteceu. Tem que ter punição, inclusive aos guardas”.
A oposição emitiu nota, relatando e rechaçando o ocorrido, bem como pedindo investigação e a renúncia da vereadora Comandante Nádia. “Enquanto vereadores da oposição negociavam para permitir que mulheres, crianças e idosos entrassem apenas para se proteger do calor, a Romu (Ronda Ostensiva Municipal), subordinada à Secretaria de Segurança do Governo Melo, foi acionada e iniciou uma ação de repressão violenta”, lembra a nota.
Nesse momento, prossegue, “os vereadores se aproximaram para entender o que estava acontecendo e a Romu passou a lançar bombas de gás, atingindo manifestantes, parlamentares e até funcionários que estavam dentro do prédio da Câmara”.
O comunicado ainda denuncia que o vereador de extrema direita Coronel Marcelo Ustra (PL) “fez uma questão de ordem pedindo para entrar armado no plenário, caso fosse liberado o acesso dos manifestantes. Trata-se de uma postura absolutamente inaceitável, que ameaça a integridade física dos presentes e afronta o espírito democrático que deve reger o Parlamento”.
Conforme destacou a oposição, “a violência física e simbólica cometida dentro da Casa do Povo é uma barbárie contra a democracia, contra a representação parlamentar e contra os direitos humanos. Quando a força substitui o diálogo e o medo toma o lugar da política, a própria legitimidade do Legislativo é ferida”.




