Após reunião inaugural, Brasil e EUA iniciam negociação sobre tarifas
Como primeiro desdobramento concreto do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, delegações do Brasil e dos Estados Unidos se reuniram, ainda em Kuala Lumpur, capital da Malásia, nesta segunda-feira (27), para iniciar as tratativas sobre a redução da tarifa de 50% imposta pela Casa Branca aos produtos brasileiros.
Em postagem nas redes sociais, o Itamaraty divulgou foto das comitivas e disse que o objetivo da reunião era “iniciar o diálogo sobre as negociações relativas às medidas tarifárias adotadas pelos EUA”.
Da parte do Brasil, participaram o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Márcio Rosa e o embaixador Audo Faleiro, da Assessoria Especial da Presidência. Já pelos EUA estiveram presentes Jamieson Greer, do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) e Scott Bessent, secretário do Tesouro.
O primeiro passo para as negociações ocorreu no domingo (26), quando Lula e Trump se reuniram pela primeira vez pessoalmente. O resultado do encontro foi classificado como melhor do que o esperado por membros do governo brasileiro, já que a receptividade do estadunidense ficou acima das expectativas. No entanto, cada passo tem sido dado com cautela, devido à imprevisibilidade típica do republicano.
Dentre as reivindicações do Brasil no campo comercial está a suspensão das sobretaxas de 40% — que, somadas às de 10% já aplicadas sobre parte dos produtos brasileiros, resultaram na tarifa total de 50%. Mas, além disso, o país pede a suspensão das sanções impostas pelos EUA a autoridades brasileiras e defende o aprofundamento do comércio entre ambos.
Falso déficit
Na mensagem publicada por Trump em junho — na qual tratava da nova alíquota e chantageava o Brasil — o governo estadunidense argumentava, falsamente, que os EUA seriam deficitários frente ao Brasil na relação comercial — na verdade, historicamente é o contrário.
“Nós provamos que houve superávit de US$ 410 bilhões em 15 anos. Só no ano passado foram quase 22 bilhões de dólares de superávit para os Estados Unidos. Em todo o G20 só há três países em que os Estados Unidos são superavitários: Brasil, Reino Unido e Austrália”, disse o presidente Lula em entrevista coletiva, ainda na Malásia, nesta segunda (27).
Na ocasião, Lula também afirmou que a conversa com Trump foi “surpreendentemente boa” e que ficou clara a disposições das duas partes em fazer acordo. “Se depender do Trump e de mim, vai ter acordo”, declarou.
Um dos principais negociadores do Brasil no xadrez com os EUA, o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin disse, ao ICL Notícias, nesta segunda, que o encontro entre os dois presidente foi “muito positivo” e que “o diálogo se estabeleceu e, agora, se aprofunda”.
Ele também reforçou que o tarifaço não tem sustentação na realidade das relações comerciais entre os dois países. “O Brasil tem tarifas muito baixas em relação aos Estados Unidos. Dos dez produtos que eles mais exportam, oito têm tarifa zero. E a tarifa média é 2,5%. Só tem três países do G20 que os EUA têm superávit na balança comercial de produtos e serviços: Reino Unido, Austrália e Brasil, então não tem sentido essa tarifa de 10% mais 40%”.
Ao mesmo tempo, Alckmin salientou que o Brasil vem buscando diversificar o destino de suas exportações, como forma de reduzir a dependência em relação a um só país. “O Brasil tem avançado muito na questão do comércio exterior. Há 13 anos, praticamente, o Mercosul não fazia um acordo. Em 2023, fez Mercosul-Singapura, este ano fez Mercosul-EFTA, que são os países de maior renda per capita do mundo – Suíça, Noruega, Liechtenstein e Islândia –, deve assinar até o fim do ano o acordo Mercosul-União Europeia, está caminhando o acordo Mercosul-Emirados Árabes. Enfim, são muitas oportunidades”, resumiu.




