“A fome é irmã da guerra, seja com armas ou com tarifas”, afirma Lula
O presidente Lula discursou, nesta segunda-feira (13), na abertura do Fórum Mundial da Alimentação, em Roma, na Itália. Mais cedo, Lula esteve junto ao papa Leão 14, no Vaticano.
No evento que celebra os 80 anos de atuação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, do inglês Food and Agriculture Organization), o líder brasileiro destacou: “enquanto houver fome, a FAO permanecerá indispensável”. No próximo dia 16 de outubro, é celebrado o Dia Mundial da Alimentação, data oficial de fundação da agência.
Em um discurso marcado por cobranças aos demais líderes, o presidente apontou as contradições que impedem acabar com a fome no mundo, deu exemplos de como o governo brasileiro tem atuado nessa frente e conclamou seus pares a entenderem que a fome é parte do problema das mudanças climáticas e de escolhas políticas.
Fome e desigualdades
Conforme explicou o presidente do Brasil, “o acesso a alimentos continua sendo um recurso de poder”, dessa maneira “não há como dissociar a fome das desigualdades que dividem ricos e pobres, homens e mulheres, nações desenvolvidas e nações em desenvolvimento”.
Os dados que citou indicam que o planeta produz comida suficiente para alimentar uma vez e meia a população mundial. No entanto, lamentou que 673 milhões de pessoas, segundo a FAO, estejam em situação de insegurança alimentar.
Dados do Programa Mundial de Alimentos demonstram que 315 bilhões de dólares são suficientes para oferecer três refeições diárias a estas pessoas. Como aponta Lula, este valor “representa 12% dos 2,7 trilhões de dólares consumidos anualmente com gastos em armas.”
Além dessa sugestão (investir menos em guerra e mais em políticas igualitárias), assinalou que “um imposto global de 2% sobre os ativos de super-ricos” também seria o bastante para acabar com a fome global.
“A fome é irmã da guerra, seja ela travada com armas e bombas ou com tarifas e subsídios”, salientou Lula, ao lembrar da tragédia em Gaza e da paralisia da Organização Mundial do Comércio frente às disputas internacionais (como o tarifaço).
Pobres no orçamento
Lula também disse que é preciso colocar os pobres no orçamento e que as políticas iniciadas nos seus dois primeiros mandatos presidenciais, entre elas o Fome Zero, permitiram ao país sair do Mapa da Fome em 2014 e novamente em 2025, após anos de retrocessos dos governos de direita no país.
“Neste ano, a FAO anunciou que outra vez o Brasil saiu do Mapa da Fome. Em 2024, alcançamos a menor proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar grave da nossa história. Registramos, ainda, a menor proporção de domicílios com crianças menores de 5 anos em situação de insegurança alimentar grave desde 2004. Estamos interrompendo o ciclo de exclusão. Um país soberano é um país capaz de alimentar seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania”, exclamou Lula, que ainda afirmou que “não basta produzir. É preciso distribuir”.
Política externa e mudança do clima
De acordo com o presidente, o combate à fome e à pobreza tem sido um dos pilares da política externa brasileira. Assim, listou as ações tomadas com destaque para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada pela presidência brasileira do G20, e que conta com 200 membros, dos quais 103 países.
Na visão brasileira levada à FAO por Lula, as mudanças climáticas estão intrinsecamente ligadas à questão da fome: “Mitigar as emissões do setor agrícola e adaptar sistemas alimentares a uma nova realidade climática são tarefas que demandam tecnologias e muitos recursos. Para que essa transição seja justa, é preciso redobrar a cooperação.”
Neste ponto, conclamou as nações, na próxima COP30, realizada em Belém (PA) em novembro, a adotarem Contribuições Nacionalmente Determinadas como veículos da “promoção da segurança alimentar e nutricional.”
Além disso, divulgou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, iniciativa em que o Brasil já destinou US$ 1 bilhão: “mecanismo inovador que vai remunerar tanto quem investe quanto quem mantém a floresta em pé.”

Fome é problema político
Por fim, Lula ressaltou que a fome é “um problema político”, sendo que é preciso decidir para onde vai o dinheiro que o Estado arrecada. Assim, pediu por maior justiça tributária no mundo e citou o exemplo da lei (aprovada na Câmara e que agora tramita no Senado) que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$5 mil mensais, ao passo que se cobra uma alíquota maior dos mais ricos.
“É preciso que cada governante assuma a responsabilidade. Na hora de fazer o Orçamento de seu país, na hora de discutir quanto vai para as Forças Armadas, quanto vai para a diplomacia, quanto vai fazer de isenção para os empresários, que benefício vai fazer, é importante lembrar que os pobres não são invisíveis. E é preciso enxergá-los, porque eles, um dia, nos enxergarão, e a gente vai pagar o preço da irresponsabilidade de não cuidar dos pobres em igualdade de condições, como se cuida do rico”, concluiu o presidente.




