Fotos: João Risi / MS

Em reação às restrições impostas por Donald Trump como represália ao Brasil, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha salientou, neste sábado (27), que tal atitude não impedirá o Brasil de fechar parceria com outros países nessa área.

“Eles até podem restringir a circulação de um ministro, mas não podem restringir a ideia. Não conseguem segurar a circulação da ideia e nem a força do Brasil na cooperação internacional com os outros países para trazer investimentos para cá”, enfatizou Padilha, durante visita às obras e a inauguração de novas alas no Hospital Federal do Andaraí, no Rio de Janeiro.

Padilha explicou que tinha reuniões marcadas em embaixadas de outros países e que as restrições não o permitiriam fazer esses deslocamentos. “Eu ia sair de Nova York ontem para estar segunda-feira em Washington, na Assembleia da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde). Tudo isso foi impedido por essas restrições absurdas”, afirmou.

Ele acrescentou que “obviamente, o fato de não estar presente lá, essas reuniões não aconteceram presencialmente, [pode atrasar], mas elas vão acontecer aqui no Brasil ou em outros países”, garantiu.

No Rio, Padilha também falou sobre o tarifaço dos EUA em relação a medicamentos e à indústria da saúde. “O impacto que essas tarifas absurdas feitas pelo presidente dos Estados Unidos gerou é para a indústria exportadora brasileira. A gente tem uma indústria na área da saúde, sobretudo da saúde bucal, de equipamentos médicos, de insumos para a saúde bucal que exportava inclusive para os Estados Unidos”.

Segundo o ministro, o governo federal está tomando medidas para mitigar esses impactos, de maneira a manter os empregos e a produção, bem como para estabelecer novos mercados. “Essa indústria está exportando para outros países, não tem só os Estados Unidos para exportar”, afirmou.

Sobre medicamentos, o ministro disse que as restrições incentivaram novas parcerias para a produção nacional, como da insulina, medicamento usado no tratamento de diabetes. Na quinta-feira (26), Trump anunciou nova onda de tarifas para diferentes produtos, inclusive 100% sobre medicamentos.

Restrições a Padilha

Em agosto, a esposa e a filha de dez anos do ministro tiveram seus vistos aos EUA cancelados pelo governo Trump; o de Padilha, por estar vencido desde o ano passado, não chegou a ser cancelado.

Há poucos dias, diante da previsão de viagem do ministro para a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, o governo estadunidense suspendeu a proibição à entrada dele, mas restringiu a circulação ao trajeto relacionado ao evento. Com isso, Padilha decidiu suspender sua ida.

Na ocasião, o ministério da Saúde emitiu comunicado dizendo que a decisão violava “o Acordo de Sede com a ONU e o direito do Brasil de apresentar as suas propostas no mais importante fórum global de saúde para as Américas. O país é uma referência em saúde pública mundial e um dos principais articuladores de ações voltadas à defesa da vacina, da ciência e da vida”.

As restrições a Padilha fazem parte do conjunto de chantagens impostas por Donald Trump ao Brasil relativas às pressões feitas por bolsonaristas e a questões que incomodam o governo dos EUA, tais como o sucesso do Pix e a posição brasileira favorável à regulação das big techs.

Além disso, Padilha liderou a criação do programa Mais Médicos, em 2013, durante o governo Dilma Rousseff (PT), que trouxe centenas de profissionais cubanos para o Brasil. Desde então, o programa vem suscitando a ira da extrema direita devido à parceria com o país socialista.