O imperialismo é o inimigo
O Projeto de Resolução tem razão quando afirma que não há um “novo” capitalismo. As contradições principais desse Modo de Produção continuam as mesmas (contradição entre a produção cada vez mais social e a apropriação privada, daí a contradição entre as forças produtivas gigantescas que emergem cada vez mais e as relações de produção atrasadas e desumanas, daí a contradição entre o Capital e o Trabalho explorado por ele em benefício de cada vez menor número de bilionários e trilionários, daí a contradição entre a produção gigantesca de mercadorias e a incapacidade de seu consumo pela população, gerando crises cíclicas de superprodução). Continuam a valer as análises de Mary, Engels, Lênin e outras lideranças marxistas – leninistas sobre o capitalismo.
Mas é inegável que o velho capitalismo entrou em uma nova fase, de agudização dessas contradições, de declínio e degenerescência militarista, agressiva e até tresloucada, que reflete o desespero de seus líderes em não conseguiu reverter esse quadro.
Os EUA assumiram a hegemonia do imperialismo após a II Guerra Mundial, desbancando o Reino Unido e, a partir de 1991, com a debacle da União Soviética, os EUA assumiram uma hegemonia praticamente unilateral do mundo capitalista.
Porém, após a crise financeira mundial de 2008, que teve seu epicentro nos EUA, e cujos efeitos perduram até hoje, surgiram, cada vez mais, novas potências regionais desafiando essa unilateralidade.
O espantoso crescimento em da China e do Vietnã, a reconstituição de um campo socialista (embora não mais um bloco unificado) com China, Vietnã, Laos e Cuba, as revoluções populares da Venezuela e Nicarágua, a superioridade militar tecnológica e nuclear alcançada pela Rússia, o despertar econômico do Sudeste Asiático, foram encurralando os EUA.
O país estadunidense, pela avidez de seus capitalistas por maiores e cada vez maiores lucros, que os levou a transferir suas empresas para aqueles países emergentes e ase desindustrializaram, tornando-se cada vez mais uma economia financeirizada, um cassino de valores fictícios (a Bolsa) sem produção real que sustentasse e embasasse suas finanças. Sua dívida externa tornou-se gigantesca (cerca de 37 trilhões de dólares atualmente), virtualmente impagável, que só se sustenta porque os EUA têm o privilégio de emitir dólares, a principal reserva de riqueza mundial, sem limites e sem praticamente ônus, mas isso está mudando.
A situação interna dos EUA vai se deteriorando, com a diminuição e a tendência, mesmo, à extinção de sua classe média, aumentando cada vez mais o número de pessoas em situação de rua, que perderam suas casas para o sistema financeiro-bancário, mendigos, desempregados e com o aumento cada vez maior da criminalidade e do uso de drogas, em especial o que vem sendo chamada a crise dos opiáceos ou crise do consumo de fentanil.
Frente a essa situação insustentável e irreversível, os EUA (e seus aliados) recorrem à única solução que lhes resta: o militarismo, as guerras eternas, as ameaças e sanções contra os países e povos, mas com isso vão se isolando cada vez mais. O mundo se tornando multipolar e independente dos humores dos EUA. Mas, como diz o velho ditado, uma fera acuada se torna mais perigosa e agressiva.
Não se pode subestimar o poderio militar dos EUA, o único que lhes resta (e em vias de ser superado). O genocídio em Gaza, o confronto com a Rússia na Ucrânia, o ataque ao Irã, a chantagem armada na Venezuela, não podem ser minimizadas.
Por isso, podemos afirmar que o maior perigo atual para os povos do mundo inteiro é o imperialismo em sua fase agonizantemente agressiva, violenta e em espasmos de guerras; e que a tarefa da resistência anti-imperialista é crucial para nós e para os povos.
Não podemos nos deixar enganar pela narrativa liberal e até de alguns ditos esquerdistas de que não podemos apoiar a luta anti-imperialista da Rússia, porque ela é capitalista, autocrática e oligarca, nem do Irã, porque é teocrático, misógino, contra as mulheres, homofóbico e ditatorial.
Todas as lutas anti-imperialistas e que confrontem a hegemonia dos EUA e de seus aliados (Israel, União Europeia) são também lutas nossas e devemos apoiá-las firmemente. Como diz o jornalista Breno Altman, “podemos até ser contra a Rússia e o Irã da porteira para dentro, mas somos a favor deles da porteira para fora”. E os problemas internos desses países devem e serão resolvidos somente por seus próprios povos.
*Advogado, servidor público aposentado, militante do PCdoB DF