Microsoft cancela contratos com Israel por vigilância de palestinos

A Microsoft anunciou, nesta quinta-feira (25), o cancelamento de contratos para o uso de sua tecnologia pelo Ministério da Defesa de Israel (Imod, em inglês Israeli Ministry of Defense). A iniciativa acontece após o jornal britânico The Guardian revelar que o software da empresa foi utilizado para monitoramento e vigilância de palestinos, ou seja, estava contribuindo para o genocídio.
O presidente da Microsoft, Brad Smith, em comunicado público aos funcionários, destacou que a empresa confirmou os apontamentos do jornal e, por isso, “desativou um conjunto de serviços para uma unidade do Ministério da Defesa de Israel”.
De acordo com o jornal, as Forças de Defesa de Israel (IDF) utilizam o Microsoft Azure para armazenar dados de chamadas telefônicas de civis palestinos, de Gaza e da Cisjordânia. Portanto, a vigilância em massa teve o auxílio do software da big tech norte-americana, que oferece serviços de computação, armazenamento em nuvem, análise e inteligência artificial.
Segundo Smith, a empresa não fornece “tecnologia para facilitar a vigilância em massa de civis”. Apesar disso, ele salientou que respeita os dados e a privacidade dos clientes, isentando a empresa de ter acesso ao que Israel estava guardando.
Como explica, a decisão foi tomada com base em evidências “relacionadas ao consumo de capacidade de armazenamento do Azure pelo Ministério da Defesa de Israel na Holanda e ao uso de serviços de IA (inteligência artificial).”
Ao finalizar o texto, o presidente da companhia disse que informou o Ministério sobre a decisão e que as medidas têm foco em garantir que os serviços não sejam utilizados para monitoramento em massa, o que fere os princípios da empresa.
“Para inglês ver”
Apesar da postura, existe uma descrença quanto a esta atitude atrasada da Microsoft. A companhia só reagiu após a ampla repercussão negativa trazida pela mídia inglesa. Para completar, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) já apontou a empresa como colaboradora do regime israelense desde os anos 90.
“A Microsoft atua em Israel desde 1991, desenvolvendo seu maior centro fora dos Estados Unidos. Suas tecnologias estão inseridas no serviço prisional, na polícia, em universidades e escolas – inclusive em colônias. A Microsoft integra seus sistemas e tecnologia civis nas Forças Armadas israelenses desde 2003, além de adquirir startups israelenses de segurança cibernética e vigilância”, diz a ONU.
Dessa forma, a atual iniciativa não é suficiente para demonstrar que a empresa, realmente, não saiba de nada sobre o uso de sua tecnologia para as ações genocidas. Assim como, mesmo que estas tecnologias específicas tenham sido desabilitadas, nada impede que outras sigam funcionando.
Como destacado pelo The Guardian, o Azure tem capacidade para coletar 1 milhão de chamadas telefônicas por hora. Além disso, Israel pode ter utilizado o software como arma de guerra, ao preparar ataques aéreos e ações militares contra palestinos.