Jovens comunistas e a formação político ideológica: eixo estratégico do revigoramento do PCdoB
O 16º Congresso do Partido Comunista do Brasil reafirma que a juventude é sujeito estratégico da luta contemporânea e motor insubstituível do Partido. É, contudo, fundamental destacar que a formação político ideológica da juventude está intrinsecamente ligada ao revigoramento do PCdoB — um revigoramento central no projeto político deste Congresso. Sem uma juventude formada, o Partido não se renova; sem esse revigoramento, não cumpre seu papel histórico.
Os termos do revigoramento partidário, aprovados no 15º Congresso, partiram de uma análise autocrítica das fragilidades do Partido, como a baixa renovação, o afastamento das bases populares e trabalhadoras, condições precárias de comunicação e organização, e insuficiência no trabalho ideológico. Este balanço permanece atual e exige esforço contínuo e persistente. Houve avanços, como a entrada de milhares de novos filiados, o aumento da participação juvenil e a dinamização da propaganda e da formação, combinando ferramentas digitais e atividades presenciais. Ainda assim, é necessário avançar: a formação da juventude não pode ser considerada atividade secundária, mas sim tarefa estratégica para assegurar a presença do PCdoB entre o povo e a capacidade de disputar a consciência da juventude brasileira.
O Projeto de Resolução reconhece a centralidade da ação de massas, mas alerta para o impacto das redes sociais na formação de consciências, atualmente dominadas por conservadorismo, desinformação e negacionismo. Isso exige ousadia do Partido para disputar a juventude nos territórios, universidades, escolas, cursinhos populares e espaços culturais. É necessário estar presente na vida cotidiana, oferecendo simultaneamente ferramentas intelectuais que fortaleçam a militância e preparem novos quadros para os desafios da luta socialista.
Nos últimos anos, a formação avançou sobretudo com a Escola João Amazonas, instrumento do PCdoB, e a Escola Castro Alves, vinculada à UJS. Enquanto a primeira forma militantes e quadros em teoria e ideologia, a segunda atua junto à juventude organizada, conectando práticas estudantis e populares à linha política do Partido. A Fundação Maurício Grabois permanece referência na produção e difusão das ideias comunistas, aproximando o Partido da intelectualidade progressista e estimulando pesquisa e reflexão. Entretanto, ainda persiste uma visão limitada da importância da formação, tratada em várias esferas como contradição à luta política cotidiana. Essa falsa dicotomia deve ser superada: a formação fortalece a ação política imediata e projeta a luta pelo socialismo.
O Projeto de Resolução, contudo, apresenta lacunas na abordagem da formação específica da juventude. Embora valorize a formação de militantes e quadros em geral, não aprofunda a necessidade de um programa contínuo e sistemático voltado para os jovens comunistas. A juventude não pode ser tratada apenas como parte da formação geral; exige atenção, métodos e instrumentos próprios.
Por isso, o 16º Congresso deve deliberar pela criação de um Plano Nacional de Formação da Juventude do PCdoB, articulando teoria, prática e cultura de maneira sistêmica. Entre as medidas centrais estão: cursos anuais presenciais intensivos como momentos de imersão ideológica e socialização militante; curso nacional de educação a distância com aulas síncronas ao longo do ano; clube do livro comunista com leituras comentadas de clássicos e autores brasileiros; cineclubes com debates; e grupos de estudos temáticos em formato híbrido (presenciais e digitais) sobre feminismo, antirracismo, meio ambiente, trabalho, cultura e tecnologia.
O plano deve incorporar campanhas de propaganda formativa, aproveitando as redes digitais para difundir ideias centrais do Partido de forma acessível e mobilizadora. Processos de mentoria política, em que quadros experientes acompanhem jovens militantes, e incentivo à produção coletiva — artigos, podcasts, vídeos — fortalecem a formação e a comunicação do Partido. A dimensão internacional também é crucial: intercâmbios com outras juventudes comunistas, cursos, seminários e encontros no exterior ampliam horizontes e consolidam a solidariedade internacionalista. Seminários e oficinas nacionais devem ser organizados como espaços intensivos de aprendizado, reunindo especialistas, dirigentes e intelectuais comprometidos com o projeto nacional de desenvolvimento.
Diante das transformações tecnológicas, o Partido precisa dialogar com novas ferramentas digitais. A inteligência artificial pode ser aliada na formação política, ajudando a produzir e difundir conteúdos, acompanhar cursos, traduzir materiais e criar metodologias interativas que ampliem o alcance entre os jovens, sem comprometer a identidade ideológica e a condução política do PCdoB.
Para viabilizar esse plano, é necessária a constituição de um Grupo de Trabalho Nacional de Formação da Juventude, coordenado pela Secretaria Nacional de Juventude do PCdoB, envolvendo a Fundação Maurício Grabois, Escola João Amazonas, Escola Castro Alves da UJS, Secretaria Nacional de Formação, Secretaria Nacional de Comunicação e a Rede Ocupa de Cursinhos Populares. Atuando de forma integrada, essas instâncias compartilharão metodologias, organizarão cronogramas, produzirão materiais comuns e acompanharão a implementação do programa em todo o país.
Em última instância, a formação dos jovens não é tarefa exclusiva da UJS, mas do PCdoB. A UJS cumpre papel essencial como frente de massas e espaço de inserção prática, mas cabe ao Partido garantir a formação ideológica e política. É o PCdoB que fornece orientação estratégica, teoria marxista e linha de ação, assegurando unidade de concepção e identidade comunista. A UJS educa na prática militante; o Partido educa ideologicamente para a luta pelo socialismo.
Uma política de quadros só se consolida a partir da formação político-ideológica da juventude. Nenhum projeto estratégico de longo prazo se sustenta sem preparar, desde cedo, os jovens que amanhã estarão na linha de frente da luta socialista. Em tempos de intenso “bombardeio” ideológico, cultural e informacional, apenas a convicção ideológica, forjada pela formação, mantém a juventude firme em nossas fileiras.
Os jovens comunistas devem perceber sua militância cotidiana como parte de um processo maior, em que estudo e luta caminham juntos. A energia rebelde e criativa da juventude precisa ser convertida em consciência política organizada, fortalecendo a identidade comunista e formando novos quadros para a luta socialista. Esse é o caminho para assegurar a renovação e o revigoramento partidário, eixo central deste Congresso.
Se o futuro tem Partido, será construído com a força dos jovens comunistas, formados ideologicamente pelo PCdoB, mobilizados pela UJS e orientados por um projeto político que une teoria e prática, tradição e inovação, disciplina e rebeldia. Cabe ao PCdoB assumir com ousadia essa responsabilidade histórica, pois dela depende a continuidade de sua trajetória e a vitória do socialismo no Brasil.