Foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil

Em 2024, o Brasil registrou 81 mil desaparecimentos de pessoas, dos quais 55 mil (68%) foram solucionados. Casos desse tipo levam dor e sofrimento aos familiares diante da incerteza quanto ao paradeiro e a situação de seus entes e podem estar ligados a diferentes razões, desde problemas de saúde mental e de relacionamento até a violência gerada pela criminalidade. 

Para aprimorar os mecanismos de busca por essas pessoas, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNDP), iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), desenvolvida pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). 

De acordo com a pasta, o CNPD disponibiliza um painel público com fotos e informações básicas sobre os desaparecimentos. As informações são georreferenciadas e podem ser compartilhadas facilmente nas redes sociais. Além disso, qualquer cidadão pode enviar dados diretamente às autoridades responsáveis pelo caso, por e-mail ou Whatsapp.

Do ponto de vista dos órgãos de segurança, a ferramenta também traz um importante avanço ao integrar automaticamente os boletins de ocorrência, facilitando o trabalho das polícias e acelerando o processo de investigação. Para esses profissionais, os sistema traz informações detalhadas e correlaciona desaparecimentos e localizações entre as diferentes unidades federativas. 

Os registros de desaparecimentos e suas localizações, feitos mediante boletim de ocorrência, serão automaticamente inseridos no CNPD, conforme forem enviados ao MJSP, por meio do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública – Integração (Sinesp – Integração).

De acordo com o ministério, até o momento, mais de 86 mil registros de pessoas desaparecidas já foram inseridos e 28,5 mil foram localizadas, num total de 12 estados. 

“Existe um verdadeiro débito da sociedade brasileira e do Poder Público com essas famílias. O cadastro é resultado de um trabalho que envolve delegacias, unidades federativas e organizações sociais. Porém, precisamos do engajamento de toda a sociedade para encerrar esses casos e resgatar de forma definitiva a dignidade dos familiares de pessoas desaparecidas”, aponta o secretário nacio de Segurança Pública, Mario Sarrubbo.

A iniciativa soma-se a outras tomadas pelo governo federal no âmbito dos desaparecidos. Em agosto, ocorreu mais uma edição da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas e, em março, foi lançado o Observatório de Desaparecimento de Pessoas no Brasil — projeto que reúne 17 pesquisadores e é uma parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e o Ministério dos Direitos Humanos (MDHC).

Desaparecimentos e violência

De acordo com o Anuário 2025 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de pessoas desaparecidas no ano passado cresceu quase 5%.

As regiões Nordeste e Norte apresentaram os maiores crescimentos no período de 2018 a 2024, com 41,4% e 31%, respectivamente. A região Sul também registrou aumento, de 6,2%, enquanto a Sudeste teve queda de 4,1% e a Centro-Oeste, de 13,5%. 

“O crescimento dos desaparecimentos no Brasil coincide com o período em que vimos um declínio significativo das mortes violentas intencionais, mas também um movimento de expansão de organizações criminosas como o PCC e o Comando Vermelho”, escrevem as pesquisadoras do FBSP Samira Bueno, Beatriz Schoroeder e Isabela Sobral.

Elas chamam atenção para o fato de que os estados das regiões mais violentas do país hoje “apresentam também os maiores crescimentos no número de desaparecimentos no período analisado”. A hipótese considerada é a de que “ parte da violência nesses contextos esteja sendo ocultada sob a forma de desaparecimentos”. 

De acordo com o Mapa dos Desaparecidos no Brasil, também produzido pelo FBSP, mostram

que o perfil geral da pessoa desaparecida é basicamente formado por homens (62,8%), adolescentes e jovens (53,5%) e negros (54,3%), que desaparecem entre sexta e domingo – o mesmo perfil, portanto, da maioria das vítimas de homicídio no Brasil.