Filme sobre genocídio em Gaza tem o maior aplauso da história do Festival de Veneza

O filme “A Voz de Hind Rajab”, dirigido pela cineasta tunisiana, Kaouther Ben Hania, foi aplaudido de pé, por uma audiência em lágrimas, durante 24 minutos após sua exibição na 86ª edição do Festival de Veneza.
Durante o maior aplauso já registrado na história do Festival de Veneza, o brado de “Palestina Livre” ecoou pela sala de exibição.
O filme conta a história de Hind Rajab, assassinada a tiros de tanque israelense aos seis anos de idade quando ela e sua família fugiam de um bombardeio à cidade de Gaza em janeiro de 2024.
Seu tio, tia e três primos também morreram no ataque.
Hind e um de seus primos, que sobreviveram ao primeiro ataque, conseguiram contatar equipe do Crescente Vermelho (Cruz Vermelha palestina) para pedir socorro. A conversa telefônica foi gravada e tornada pública após a morte de Hind.
Nela se pode ouvir a voz da criança em desespero clamando: “Por favor venham, eu estou com medo”.
Antes da chegada da equipe de socorro, primeiro foi morto o primo de Hind e, por último, ela própria, por nova rajada de tiros dos invasores israelenses.
Uma investigação realizada pelo grupo da Universidade de Londres, Forensic Architecture, mostra que os criminosos israelenses sabiam que havia crianças no veículo e que foram disparados contra ele 335 balas.
Ao falar sobre seu filme, a diretora Ben Hania declarou: “Eu não posso aceitar um mundo onde uma criança é assassinada enquanto chama por socorro. Esta dor pertence a todos nós”.
A imagem e a história de Hind Rajab estão se tornando o símbolo do genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino, sendo que o peso deste massacre cai em grande parte sobre as crianças de Gaza.
Perto de 64 mil palestinos foram assassinados pelo terrorismo israelense, há mais de 10 mil desaparecidos até aqui. Destes, 18.000 são crianças.
Em seu depoimento sobre o filme, a atriz palestina Sala Kilani, questiona: “Não é suficiente?”
E prossegue: “Basta de assassinatos massivos, fome, desumanização, destruição e ocupação continuada. Este filme, e a voz de Hind não precisam de nossa defesa, não é uma opinião nem uma fantasia. Está ancorado na verdade”.
“A voz de Hind leva o peso de todo um povo. Sua voz é apenas uma das dezenas de milhares de crianças que foram assassinadas em Gaza. É a de cada filho e filha que tinha o direito de viver com dignidade e sonhar e, no entanto, que lhes foi roubado diante de olhos que nem sequer piscaram.
“A pergunta chave é: como deixamos uma menina morrer suplicando por sua vida?”
“E esta é uma das vozes que conhecemos. Por trás de cada número há uma história que nunca chegou a ser contada.
“A história de Hind é a de uma menina que grita ‘Salvem-me!’
“Ninguém pode viver em paz enquanto uma só criança se veja obrigada a suplicar por sobreviver.
“Que a voz de Hind ressoe por todo o mundo e nos recorde do silêncio que se construiu em torno de Gaza. Que sua voz nomeie o genocídio que este silêncio protege. Que sua voz nos atravesse com a palavra Basta!
Não amanhã ou algum dia, agora. Pela justiça, pelo bem-estar da Humanidade. Pelo futuro de cada criança, Basta!
Fonte: Papiro