Em meio à precarização, comerciários do Rio conquistam aumento real e ampliam direitos
Comerciários do Rio conquistam reajuste de 7% no piso para shoppings e lojas de rua
Os trabalhadores do comércio carioca mostram que negociação coletiva forte é possível, mesmo em tempos de juros altos e precarização. O Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro acaba de fechar a Convenção Coletiva para shoppings e lojas de rua com um reajuste de 7% no piso salarial, garantindo ganho real acima da inflação — e, mais importante, ampliando direitos sociais que protegem a vida dos trabalhadores. O acordo foi assinado pela entidade pelo Sindilojas.

“Mais uma vez, infelizmente, esse foi o último segmento da cidade a assinar. Tivemos que ir às portas das empresas, fazer atos, denunciar a protelação. Mas não recuamos. Fechamos com ganho real porque os trabalhadores merecem valorização”, afirma Márcio Ayer, presidente do Sindicato. A assinatura da convenção coletiva encerra um ciclo de negociações que se arrastava desde maio.
A importância da conquistaO reajuste de 7% — retroativo a 1º de maio — eleva o piso de R$ 1.600 para R$ 1.688, com novo aumento de 1,5% em outubro, chegando a R$ 1.712. Para comissionistas, o piso passa de R$ 1.750 para R$ 1.872. A ajuda de custo, quebra de caixa e auxílio alimentar também foram reajustados.
“Os patrões queriam cortar direitos. Queriam abrir no Natal e no Ano Novo — dados protegidos por convenção. Queriam reduzir benefícios em feriados. Nossa resposta foi clara: não aceitamos retrocessos. Ao contrário, queremos avançar”, diz Ayer.
Cláusulas sociais: proteção que vai além do salário
A nova convenção não trata apenas de reajuste — ela humaniza o trabalho. Entre os avanços negociados, estão:
Estabilidade pré-aposentadoria ampliada:
- 12 meses de garantia para quem tem mais de cinco anos na empresa;
- 18 meses para quem tem mais de dez anos. “Um trabalhador que dedicou anos à empresa merece se aposentar com tranquilidade. Sabemos que, com idade avançada, é mais difícil a recolocação. Essa cláusula difícil é um ato de justiça”, explica Ayer.
Licença para levar filhos ao médico:
- Dois dias por ano (um por semestre) para filhos até 10 anos;
- Mais um dia em caso de emergência, com atestado. “É sobre dignidade. É sobre permitir que pais e mães cuidem dos filhos sem medo de perder o emprego.”
Encontro de Cipeiros:
- Liberação de 1 dia por ano para participação em evento sindical. “Fortalecer a Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio) é fortalecer a segurança e a voz dos trabalhadores dentro da empresa.”
Mobilização continua
Apesar do saldo positivo — com ganhos reais já assegurados para supermercados, hortifrutis, óticas, funerárias e outros —, a luta segue.
“Faltam dois segmentos. Em Miguel Pereira e Paty do Alferes, só aceitamos acordo com aumento real. E no atacadista de material de construção, cuja data-base é 1º de setembro, já enviamos pauta pedindo 10% de reajuste e ampliação da estabilidade pré-aposentadoria para 24 meses.”
Ayer convoca os trabalhadores para se manterem mobilizados: “Acompanhem as redes sociais, participem das assembleias. A força da negociação vem da unidade da base.”
Reforma Trabalhista de 2017: o inimigo silencioso dos direitos
O presidente do Sindicato faz questão de lembrar: desde a Reforma Trabalhista, acabou a ultratividade— ou seja, quando uma convenção expirar, todos os direitos nela contidos deixam de valer, se não houver nova negociação.
Márcio Ayer reforça que a luta só é possível com a participação ativa da categoria: “É fundamental que os comerciários conheçam cada cláusula da convenção e acompanhem cada negociação. Só com unidade e mobilização conseguiremos conquistar novos direitos e melhores condições de vida. Cada direito conquistado pode desaparecer se não for renovado. Não podemos baixar a guarda.”
Pela redução da jornada para 40 horas sem redução salarial
Entre as bandeiras prioritárias do Sindicato está a luta pela redução da jornada de 44 para 40 horas semanais, sem corte de salário.
“44 horas, mais horas extras, é exaustão. É adoecimento. Queremos tempo para estudar, para a família, para o lazer. Isso é qualidade de vida. E para conquistar, precisamos pressionar o Congresso — e a participação dos trabalhadores é fundamental.”
Um farol de resistência em tempos sombrios
Enquanto a precarização avança em diversos setores, o Sindicato dos Comerciários do Rio mostra que é possível inverter a lógica. Com mobilização, firmeza nas negociações e foco nos direitos humanos do trabalho, conquistou-se não apenas impulsionar os melhores salários, mas condições de vida mais dignas.
“Temos um país que cresce, com mais empregos. É justo que os trabalhadores usufruam desse momento —, que possam ter uma jornada menor, para ter mais tempo com suas famílias, mais lazer e saúde”, conclui Márcio Ayer.
(por Cezar Xavier)