Dados e comunicação: uma arma contra o fascismo (Parte 1)
Um breve manifesto sobre como a ciência de dados aplicada a estratégias de comunicação pode revolucionar a forma como enfrentamos o fascismo institucionalizado, sendo a arma perfeita para conquistar os corações das massas
O fascismo penetrou tão profundamente no cotidiano das pessoas que não existem soluções únicas para enfrentá-lo. Neste manifesto, pretendo explorar apenas um dos inúmeros caminhos possíveis para lidar com esse problema imenso. Meu lema é: infiltrar, absorver e atacar. Pode parecer militarista, mas acreditem: nossos dados são como balas.
A humanidade está sendo levada ao colapso pelo capitalismo neoliberal das empresas de tecnologia, as chamadas “Big Techs”. Redes sociais como Instagram, X (antigo Twitter), YouTube, Google e outras possuem algoritmos desenhados para maximizar engajamento e lucro, muitas vezes à custa de valores éticos e sociais. Esses algoritmos não apenas beneficiam e promovem narrativas de extrema-direita, mas também restringem conteúdos e perfis que desafiam o status quo, minando vozes progressistas e silenciando iniciativas de transformação social.
Estamos perdendo a guerra contra os algoritmos, e as consequências são alarmantes. Entre os impactos mais evidentes estão a viralização proposital de desinformações, a manipulação comportamental e o engajamento deliberado de discursos de ódio contra minorias. Esse cenário não é um efeito colateral do funcionamento das redes, mas uma engrenagem estratégica no modelo de negócios das Big Techs, que lucram diretamente com a polarização e o conflito.
Além disso, a lógica de consumo dessas plataformas criou um ciclo vicioso que afeta profundamente o comportamento humano. A internet, originalmente idealizada para conectar pessoas e promover solidariedade, hoje atua como um sistema que isola e fragmenta. Em vez de construir pontes entre ideias e povos, os algoritmos moldam realidades individualizadas, reforçando bolhas sociais e dificultando a construção de narrativas coletivas.
A dependência das telas é outro sintoma alarmante dessa lógica. Uma parcela significativa da humanidade passa horas diárias conectada a dispositivos, e novas gerações estão expostas à influência dos algoritmos desde os primeiros meses de vida. Esse cenário representa mais do que um problema de tempo de uso: é uma manipulação ativa dos padrões de pensamento e comportamento. Antes mesmo de serem moldadas pela escola, pela família ou pela cultura local, crianças e adolescentes já são condicionados por padrões algorítmicos que priorizam o consumo e a retenção de atenção a favor das Big Techs.
Essa lógica vai além da manipulação individual. Redes sociais e plataformas digitais são projetadas para explorar vulnerabilidades humanas, criando um ambiente viciante. A cada interação — uma notificação, um like, um comentário — somos incentivados a voltar à plataforma, gerando um ciclo interminável de consumo que ultrapassa o campo material. Consumimos não apenas produtos ou serviços, mas também estilos de vida, narrativas e falsas noções de realidade. Essa dinâmica é especialmente perigosa, pois promove a internalização de ideais inatingíveis, gerando ansiedade, depressão e uma crescente sensação de inadequação.
Ao mesmo tempo, a manipulação algorítmica reforça o lucro das Big Techs por meio da coleta e análise massiva de dados. Cada clique, cada pesquisa, cada interação é transformado em uma peça de informação utilizada para prever e influenciar comportamentos futuros. Nesse ciclo, a humanidade se torna uma mercadoria a ser explorada, enquanto a desigualdade, a alienação e a desinformação se tornam ferramentas de manutenção do sistema capitalista.
O problema central não é apenas o vício nas telas ou a manipulação das redes sociais. É a lógica subjacente que governa esse sistema: o capitalismo neoliberal que transforma cada aspecto da nossa existência em produto. Vivemos em um estado de constante vigilância e extração de valor, onde a conexão humana genuína é substituída pela ilusão de pertencimento mediada por algoritmos.
Se quisermos enfrentar as consequências dessa guerra contra os algoritmos, é essencial desconstruir esse modelo de consumo e recuperar a capacidade de criar solidariedade, construir narrativas coletivas e priorizar a saúde mental e social da população. Precisamos de uma análise crítica e urgente sobre como a tecnologia é utilizada como ferramenta de opressão e como podemos reverter esse quadro para colocar o bem-estar humano acima do lucro.