Condenação de Bolsonaro fortalece a democracia, analisa Daniel Almeida
(Foto Richard Silva/PCdoB na Câmara)
Em sua edição desta quinta-feira (18), o programa Entrelinhas Vermelhas recebeu o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA) para um balanço dos principais temas da semana. Com apresentação de Inácio Carvalho, o debate percorreu desde a histórica condenação dos envolvidos no golpe de 8 de janeiro até projetos em tramitação no Congresso Nacional e a preparação do PCdoB para 2026.
Assista a íntegra da entrevista:
Julgamento no STF: um marco para a democracia brasileira
O deputado Daniel Almeida classifica a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como um “fato histórico” e um “ensinamento para a democracia brasileira”.
Segundo ele, a decisão inédita simboliza a maturidade das instituições brasileiras diante de ataques à democracia. Almeida também critica a tentativa da oposição de aprovar uma anistia ampla. “Não há nenhum espaço para anistia. Eles continuarão insistindo nessa tese para proteger Bolsonaro e a própria família, mas não terão sucesso, porque não há nada que fundamente essa proposta”.
“Eles continuarão insistindo, mas não alcançarão o sucesso”. Para Almeida, a família Bolsonaro “se desnudou nesse processo” ao demonstrar preocupação apenas com sua própria defesa, e não com os interesses nacionais. “Seria chancelar a impunidade, esfacelar as instituições brasileiras e ferir a soberania do nosso país.”
Ele condena ainda a interferência “escancarada” do ex-presidente dos EUA Donald Trump nos assuntos internos do Brasil, alertando que “sabotar a soberania” do país é um fato grave e inédito.
Cenário 2026: projeção de polarização Lula x Tarcísio
Ao projetar o cenário eleitoral, o parlamentar defende a reeleição do presidente Lula como única alternativa capaz de garantir soberania nacional, estabilidade democrática e continuidade do desenvolvimento econômico. Segundo ele, a direita deve se dividir e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, surge como provável adversário, embora “cada vez mais com o rosto de Bolsonaro”.
Sobre a direita, ele avalia que Bolsonaro estará “fora” da disputa e que Tarcísio emerge como o nome principal, mas com a imagem manchada por herdar o “rosto de Bolsonaro” e os “compromissos de ataque à soberania”.
Economia e juros: pressão para redução “no tempo mais curto”
Sobre os sinais de desaceleração econômica e a manutenção dos juros altos, Almeida reconhece o problema, mas se mostra otimista. “Espero num tempo mais curto possível, uma redução da taxa de juros no Brasil”, disse. Ele defende mobilização popular para pressionar por cortes mais rápidos.
Ele argumenta que fatores geopolíticos, como as tarifas de Trump, e medidas do governo brasileiro podem conter a inflação e pressionar por uma reversão da política monetária mais rapidamente do que o previsto pelo mercado.
Isenção de IR e luz mais barata: expectativa de aprovação em setembro
O parlamentar demonstra confiança na aprovação, ainda em setembro, do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil e reduz alíquotas para quem recebe até R$ 7,3 mil, ao mesmo tempo que taxa os super-ricos. Ele considera impossível qualquer parlamentar se opor publicamente à proposta.
Almeida também cita a expectativa de votação de projetos para reduzir o valor da conta de luz para consumidores de baixa renda e o Vale Gás, combatendo a “pobreza energética”.
Redução da jornada: “só com muita pressão”
Sobre a bandeira da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, o ex-líder sindical foi realista: “Só será possível pautar e fazer a modificação se aumentarmos muito a pressão”. Ele lembra que a última mudança ocorreu em 1988 e que, diante dos avanços tecnológicos, a atual carga é insustentável.
Ele não vê um cenário favorável para a votação ainda este ano, mas acredita que 2026, sendo ano eleitoral, pode trazer uma abertura. “Quem é da política e quem é candidato fica mais sensível”, pondera, defendendo um trabalho intenso de mobilização para que o tema seja pauta central no primeiro semestre do próximo ano.
Atuação parlamentar: de superendividamento à relação com a China
Como presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Almeida cita o “superendividamento” da população—especialmente por empréstimos consignados e jogos de aposta—, a má qualidade dos serviços de comunicação e a falta de regulamentação de suplementos alimentares “milagrosos” como suas principais frentes de atuação.
À frente do Grupo Parlamentar Brasil-China, herança do ex-deputado Haroldo Lima, ele enfatiza a importância estratégica da relação bilateral, sobretudo no comércio e na cooperação tecnológica. Ele defende a multipolaridade e a cooperação entre as nações como contraponto ao modelo “imperialista” dos EUA.
PCdoB e 2026: Congresso define estratégia para “encruzilhada histórica”
Por fim, ao comentar o 16º Congresso do PCdoB, Almeida define o momento atual como uma “encruzilhada” entre a “barbárie” e a “democracia”. O objetivo do partido, segundo ele, é se posicionar claramente e armar a militância para a disputa eleitoral do ano que vem, focando na reeleição de Lula e no aumento da bancada de esquerda no Congresso.
Na Bahia, a meta é ambiciosa: reeleger o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e ampliar a bancada federal do PCdoB, que hoje tem dois deputados, com a eleição de Olívia Santana. “O partido é muito forte, é muito vigoroso e continua nessa batida”, conclui.
(por Cezar Xavier)