O artigo reforça que não haverá reindustrialização soberana sem igualdade, valorização do trabalho e protagonismo das mulheres. É um chamado à ação para que a política industrial seja democrática, inclusiva e capaz de gerar emprego, renda e justiça social. Que este seja mais um instrumento na luta por um Brasil industrializado, sustentável e soberano!

A indústria brasileira enfrenta desafios estruturais que exigem uma política industrial à altura do nosso projeto de país, uma política que una competitividade, inovação, sustentabilidade e justiça social. Isso significa recolocar a igualdade de gênero e o trabalho decente no centro das decisões produtivas. Em 2024–2025, o país voltou a gerar empregos formais de maneira consistente: os saldos do Caged vêm mostrando criação líquida de postos de trabalho, com expansão em segmentos industriais relevantes, ainda que heterogênea entre regiões e cadeias produtivas. Esse movimento precisa ser consolidado com qualidade e foco em inclusão, sob pena de reproduzirmos velhas hierarquias.

O retorno da política industrial e seus dilemas

Depois de um ciclo de desindustrialização relativa, o Brasil recoloca a política industrial na agenda com metas de produtividade, inovação e transição verde. O desafio é fazê-la dialogar com a estrutura real da nossa indústria, historicamente concentrada em segmentos de média/baixa tecnologia e com as desigualdades do mercado de trabalho. Ainda hoje, as mulheres seguem sub-representadas no núcleo duro da indústria de transformação (em vários recortes, elas não chegam a 1/4 da força de trabalho), têm menor acesso às ocupações técnicas e de liderança e enfrentam um hiato salarial persistente; estimativas recentes indicam diferença de rendimento de dois dígitos a favor dos homens. Em paralelo, a participação feminina em cargos de chefia cresce, mas ainda não altera a assimetria estrutural. Esses dados reforçam que qualificação, promoção e salários iguais por trabalho de igual valor precisam deixar de ser compromisso retórico e virar cláusula contratual, convenção coletiva e política pública monitorada.

Nova Indústria Brasil (NIB): diretrizes, avanços e o eixo de inclusão

A Nova Indústria Brasil recoloca a reindustrialização como estratégia nacional articulada a seis missões (agroindústria sustentável, complexo da saúde, infraestrutura, transformação digital, bioeconomia/ transição ecológica e defesa/espacial), mobilizando instrumentos de financiamento, compras públicas e inovação. O êxito da NIB depende de “amarrar” instrumentos com metas sociais: crédito produtivo que premie inclusão de mulheres e jovens em ocupações tecnológicas; poder de compra do Estado que priorize conteúdo local e diversidade; desburocratização que induza formalização e direitos; e inovação que impulsione economia circular, energias renováveis e tecnologias limpas com participação feminina plena nas cadeias verdes.

Trabalho decente como padrão produtivo

Reindustrializar não é apenas produzir mais; é produzir melhor: com proteção social, negociação coletiva forte, saúde e segurança, combate ao assédio, igualdade salarial e acesso a creches e serviços de cuidado. A Lei de Igualdade Salarial (Lei 14.611/2023) trouxe um marco: obriga transparência remuneratória e planos de ação para reduzir desigualdades, abrindo espaço para fiscalização ativa e cláusulas específicas nas convenções coletivas. É hora de convertê-la em prática cotidiana de fábrica, com indicadores e sanções.

Agenda Bahia do Trabalho Decente: onde a reindustrialização encontra vida real

A Bahia oferece um exemplo de política territorial integrada. A Agenda Bahia do Trabalho Decente, construída de forma participativa, organiza prioridades em eixos (como erradicação do trabalho infantil e escravo, promoção da igualdade, proteção ao emprego, serviço público de qualidade, entre outros) e vem sendo incorporada às políticas de trabalho, emprego e renda do estado. Vincular a NIB às diretrizes da Agenda Bahia significa transformar investimento industrial em qualidade de vida no território: promover empregos dignos nas novas plantas e cadeias (eólicas, metalmecânica, construção leve e pesada, química verde), garantir saúde e segurança, acesso à formação técnica e superior, transporte e cuidado, além de compras públicas e incentivos que privilegiem empresas comprometidas com inclusão.

Exemplos de políticas com recorte de gênero, Brasil e mundo

No Brasil, a aplicação combinada de Lei de Igualdade Salarial, transparência remuneratória, metas de contratação feminina em compras públicas e crédito com condicionantes ESG pode acelerar a presença das mulheres em setores estratégicos (automotivo, aeroespacial, digital e verde). Experiências internacionais apontam caminhos. A União Europeia incluiu a igualdade de gênero como prioridade transversal 2020–2025, com ênfase em combater estereótipos em STEM, ampliar participação feminina em P&D e integrar a perspectiva de gênero em todas as políticas, inclusive industriais. O Canadá estruturou a Women Entrepreneurship Strategy, injetando recursos no ecossistema para ampliar acesso a crédito, redes e mercados para empresas lideradas por mulheres. O Chile desenvolveu diretrizes oficiais para compras públicas com perspectiva de gênero, gerando oportunidades de negócio para empreendedoras e induzindo mudanças no tecido produtivo. Essas iniciativas mostram que o Estado pode, sim, mover a agulha quando usa regulação, orçamento e compras para abrir portas às mulheres.

Reindustrialização verde e novas frentes de trabalho

A “onda verde” já cria empregos e novas competências: manufatura de aerogeradores, manutenção de parques eólicos, metalurgia de precisão para transição energética, fabricação de componentes para eletromobilidade, construção civil de baixa emissão e retrofit energético. O Brasil tem condições de liderar nichos de alto valor com encadeamentos locais, desde P&D até serviços de engenharia, logística e manutenção. Para que isso beneficie as mulheres, é crucial alinhar currículos do ensino técnico e superior à demanda real das plantas, criar bolsas e auxílios para permanência, ofertar creches 24h nos polos industriais e monitorar a ocupação de vagas por sexo/raça/idade, garantindo trajetórias de carreira e liderança feminina.

Diante dos desafios impostos pela globalização e pela dependência de setores primários, a retomada de um projeto nacional de industrialização, tecnológico, verde e justo é urgente e inadiável. A reindustrialização é econômica, mas também política e social: exige orçamento, planejamento, cadeias locais, crédito orientado, compras públicas inteligentes e, sobretudo, participação ativa das trabalhadoras e de suas organizações. É hora de transformar lei em salário igual, crédito em emprego formal, missão industrial em cuidado e futuro.

Nesse cenário, o desafio está posto e nós comunistas temos papel decisivo: não apenas como força política de denúncia das desigualdades, mas como sujeito coletivo capaz de articular projeto nacional, soberania produtiva e transformação social. Somos nós que historicamente levantamos a bandeira da industrialização vinculada ao trabalho decente, à igualdade de gênero e à justiça social, apontando que não basta crescer é preciso crescer distribuindo riqueza, democratizando poder e garantindo dignidade à classe trabalhadora.

Por uma Indústria com igualdade e trabalho decente, produção com dignidade, inovação com inclusão e governar com o povo dentro!

Referências de dados:

https://www.gov.br/mdic/pt-br/composicao/se/cndi/plano-de-acao/nova-industria-brasil-plano-de-acao-2024-2026-1.pdf?utm_source=chatgpt.com

https://www.gov.br/mulheres/pt-br/assuntos/igualdade-salarial?utm_source=chatgpt.com

https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202508/brasil-mais-de-166-mil-empregos-formais-junho-ultrapassa-1-2-milhao-semestre?utm_source=chatgpt.com

https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202505/dia-da-trabalhadora-e-do-trabalhador-confira-acoes-do-governo-federal-que-buscam-promover-a-igualdade-entre-mulheres-e-homens?utm_source=chatgpt.com

https://www.ilo.org/pt-pt/resource/article/alcancar-igualdade-de-genero-nas-taxas-de-emprego-alguns-numeros-do-mercado?utm_source=chatgpt.com